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Eleições 2022

Artistas disputam eleição para fomentar setor cultural no AM

Com o objetivo de trazer mudanças, artistas amazonenses disputam cargos de deputado estadual e federal com diversas propostas referentes ao fomento e incentivo à produção cultural na região

Manaus (AM) – Com o objetivo de trazer mudanças e acrescentar medidas efetivas no cenário cultural do Amazonas, cidadãos envolvidos com a arte e cultura sentiram a necessidade de participar da disputa eleitoral deste ano. Nesse sentido, se lançaram na disputar para os cargos públicos com diversas propostas referentes ao fomento e incentivo à produção cultural na região.

Diante de conjunturas turbulentas, os artistas aparecem para expressar a insatisfação popular por meio de suas obras, seja por meio da música, de pinturas e da poesia. Esse material, com face de protesto, ressoa e expõe os problemas que afetam a sociedade.

Outros profissionais da arte, no entanto, buscam outras ferramentas que ultrapassam o campo da denúncia. Assim, disputam espaço na política institucional para propor projetos, principalmente voltados para o setor cultural e artístico.

No Amazonas, um dos nomes interessados em participar das eleições com ideias e planos para o âmbito cultural é o poeta João Bosco, mais conhecido na região como Bosquinho Poeta, que concorre ao cargo de deputado estadual pelo partido União Brasil.

Hoje, Bosquinho carrega na carreira literária publicações de alguns livros, como o ‘Testemunho das Estrelas’, ‘Sentimentalidade da Alma’, e seu primeiro livro: ‘Memórias poéticas de um sonhador’.

Conforme Bosquinho, há muitos artistas locais que não possuem oportunidade para lançar seus próprios livros. Dessa forma, caso seja eleito, pretende ajudar os escritores e artistas por meio da política.

“A literatura também faz parte da nossa cultura. Há muitos poetas e muitos escritores que não têm acesso a uma editora. Nós precisamos ajudar esses artistas, escritores, e esses poetas que estão no anonimato precisando da ajuda do poder público. É justamente por isso que eu quero levantar essas bandeiras. Eu quero levantar essa bandeira para lutar por quem tanto precisa”,

afirmou.

Bosquinho Poeta também faz parte da escola de samba Reino Unido da Liberdade, como sócio e um dos integrantes da ala dos compositores. Por participar ativamente da organização das escolas de samba da região, acompanha de perto os trabalhadores da cultura que atuam no Carnaval.

Para ele, a situação de muitos profissionais não é animadora, visto que há muitos artistas que acabam marginalizados e sem muita perspectiva de crescimento. Assim, alguns artistas como os que trabalham nos galpões de escolas, carpinteiros, bordadeiras e professores de dança acabam mal remunerado.

Diante desse cenário, caso seja eleito, Bosquinho pretende promover a valorização dos profissionais da cultura, por meio do empreendedorismo.

“Investir em um projeto de fomento possibilitando que os artistas de menor porte tenham acesso ao registro de suas microempresas, dando incentivo necessário para que desenvolvam e ampliem seus negócios e tenham acesso a diversos financiamento. Eu penso que o artista local tem que ser valorizado, principalmente através desses projetos culturais que eu pretendo desenvolver dentro da Assembleia Legislativa do Amazonas”,

disse.

Boi-bumbá

Um dos maiores nomes do Festival de Parintins, com 20 anos de história no Boi Bumbá como apresentador, Israel Paulain decidiu se candidatar e disputar o cargo de deputado federal nas eleições 2022. Apaixonado pelo Boi Garantido, Israel foi brincante da batucada, aos 6 anos e animador de boi. Já sua grande estreia como apresentador de boi aconteceu em 2002, no ano em que Garantido saiu vitorioso.

Ao Em Tempo, Israel disse que não concorreria essas eleições. No entanto, recebeu um chamado do ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania) para se candidatar ao cargo de deputado federal.

“Como dizer não ao Amazonino? Ele é visionário e de uma extrema inteligência, e me convocou justamente por ser a voz do caboclo do interior e ser o representante da arte, da cultura e da floresta em nosso estado. Missão dada, estou com muita determinação e acima de tudo humildade, lutando para cumpri-la”,

contou.

Por sua experiência com a arte e a cultura, Israel afirmou conhecer profundamente as necessidades e os sentimentos do setor artístico e cultural do Amazonas. Dessa forma, pretende ampliar os investimentos nas diversas atividades culturais existentes no estado. Também destacou que lutará pela valorização dos profissionais da arte, “para que possamos viver da nossa arte e da cultura com dignidade no Amazonas”.

“Sempre costumo dizer que só conhece uma casa, quem mora nela, quem vive nela, e eu vivo e respiro a arte e a cultura há mais de 20 anos. Lutarei para incentivar e garantir investimentos a todas as manifestações artísticas e culturais, tanto da capital, quanto do interior, assim como fomentar as danças de rua, teatro popular, artistas da música, da toada, os grafiteiros, os bumbás de Manaus e de todos os municípios com suas respectivas festividades anuais”,

declarou.

Desenhista

Aos 42 anos, o amazonense André Melo, do município de Autazes, a 113 quilômetros de Manaus, se lançou como candidato a deputado estadual pelo Pros nestas eleições.

Com grande interesse na arte, o desenhista artístico publicitário já lançou dois cursos de teatro, um deles chamado “Grupo Unido de Teatro de Lição de Vida (Gutelve). Conforme André, a finalidade dos cursos gratuitos, ministrados por ele nos anos 90, era de incentivar crianças e adolescentes a se interessarem pela arte, dança e pintura.

Hoje, André oferece oficinas gratuitas de desenho para crianças e também exerce ações sociais com a distribuição de alimentos e brinquedos para o público infantil. Para trazer curiosidade e chamar a atenção dos pequenos, André faz a entrega das doações vestido com a fantasia do super-herói Homem-Aranha.

Assim, com o objetivo de trazer maior representação para as crianças e adolescentes, André enfatizou que um dos meios para ajuda-las é por meio da formulação de políticas públicas para a cultura. Por isso, propõe a criação de oficinas de dança, grafite e Sarau nas escolas.

“A ideia é envolver os alunos, abrindo a porta das escolas para que a comunidade se envolva nos finais de semana com a arte e com a cultura. Porque o acesso à cultura vai despertar um novo mundo para as crianças e para os adolescentes”,

afirmou

Falsa promessa

Ao mesmo tempo, muitos artistas famosos conseguem angariar votos e acabam se elegendo com a promessa de atender a classe artística. No entanto, quando eleitos não cumprem com o compromisso estabelecido na campanha eleitoral.

Um dos casos mais famosos é o do Tiririca. Em 2010, Tiririca, o popular palhaço da televisão, ganhou grande repercussão quando se lançou candidato, sendo seu bordão “Pior que está, não fica” amplamente comentado na época.

Assim, o palhaço recebeu um grande volume de votos, que chegaram a 1,3 milhão pelo Partido Liberal (PL), na época chamado de Partido Republicano (PR).

No entanto, ao longo dos anos no exercício do mandato como deputado federal, Tiririca já foi autor de diversos Projetos de Lei (PL), em sua maioria direcionados para a classe circense, mas não conseguiu que fossem aprovados e transformados em lei.

O cantor e compositor Frank Aguiar é outro exemplo que pouco fez para a classe artística. Ele já foi deputado federal, e vice-prefeito de São Bernardo dos Campos. Em 2018, foi candidato ao cargo de senador pelo PRB mas não conseguiu se eleger.

Ampliação do espaço político

Para o cientista político Carlos Santiago, apesar do Tiririca não ter conseguido aprovar PLs ao longo do seu mandato, a atuação do comediante como deputado federal é positiva, visto que ele não possui histórico de corrupção e uso do dinheiro público de forma indevida.

Santiago ressalta a importância de artistas participarem do espaço eleitoral, pois é um reflexo da democracia representativa brasileira.

“É uma forma de representar esse segmento importante para sociedade brasileira, porque produz o sentimento popular e, o sentimento da sociedade através da música, dos escritos, da poesia, que precisam de apoio político, tanto nos governos como nos parlamentos”,

explicou.

Também ressalta a importância de o representante político da classe artística incluir, além dos artistas e trabalhadores culturais em seus projetos, o restante da sociedade que o elegeu.

“É assim que se faz na democracia representativa, a representação de um segmento, de um sentimento, de uma faixa etária, ou uma classe social, mas o propósito é para beneficiar todos”, disse.

O cientista político Helso Ribeiro analisa como positiva a participação de mais artistas na política, visto que com eles se espera mais ações e projetos voltados para a cultura e a arte.  Ao mesmo tempo, não enxerga o parlamento com muitas pessoas do nicho cultural.

“Nada impede que outras pessoas eleitas também direcionem suas ações voltadas para esse interesse artístico e cultural”, afirmou.

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