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Escalpelamento

Nos últimos dois anos, AM não registra casos de escalpelamento, segundo a Marinha

O escalpelamento, o arrancamento de forma brusca do couro cabeludo, é um acidente que normalmente ocorre na região Norte do país. Por diferenciação de embarcações, o acidente ocorre menos no Amazonas, segundo a Marinha

Cerca de 93% das vítimas de escalpelamento na Amazônia são mulheres. Foto: Divulgação

Manaus (AM) – A região Amazônica possui suas particularidades, entre as quais aparece a navegação entre os rios por meio de pequenas embarcações. Entretanto, alguns risco, como os casos de escalpelamento, onde a vítima tem o couro cabeludo arrancado de forma brusca, estão presentes nesse meio de transporte. Ainda que os casos sejam vistos, normalmente, no Norte do país, o Amazonas não registrou ocorrências do acidente nos últimos dois anos, de acordo com a Marinha do Brasil.

É durante a circulação dos barcos pelos rios – meio pelo qual muitas comunidades tradicionais prosseguem para as atividades diárias, seja na pesca artesanal, no transporte para as escolas ou outros trabalhos – que, recorrentemente, acontecem os casos de escalpelamento.

A principal razão é o eixo do motor, que fica no meio das embarcações de pequeno porte, exposto, sem nenhuma capa de proteção. Dessa forma, os cabelos acabam se enroscando no motor, que pode gerar uma velocidade de 1.800 rotações por minuto.

Características diferentes dos barcos

De acordo com a Capitania dos Portos da Amazônia (CPAOR), a retirada brusca e acidental do escalpo após uma forte tração do cabelo aconteceu, em cerca de 93% dos casos, com mulheres do território amazônico do Brasil.

Já na Região Norte, os estados que mais possuem ocorrências de casos de escapelamento são o Amapá e o Pará. De 2007 a 2017, a Associação de Mulheres Ribeirinhas Vítimas de Escalpelamento na Amazônia registrou cerca de 140 casos em rios amapaenses e nas ilhas ribeirinhas do norte do Pará.

Apesar do transporte fluvial também ser presente e bastante utilizado no Amazonas, principalmente por comunidades ribeirinhas, o estado não possui registro de ocorrências de pessoas vítimas do acidente nos dois últimos anos, segundo os dados da Marinha do Brasil.

Conforme a Marinha, essa discrepância nos números de casos de escalpelamento entre o Amazonas e outros estados do Norte ocorre em razão da diferença nas características presentes entre os barcos amazonenses e as embarcações dos estados do Pará e do Amapá.

Na Amazônia Ocidental, onde o Amazonas está localizado, os pequenos barcos utilizados pela população ribeirinha, conhecidos como “rabeta”, possuem o motor instalado na popa ou traseira do veículo.

O modelo é diferente das típicas embarcações presentes em outros estados, que possuem o motor disposto no centro e com o eixo do motor exposto, o que aumenta as chances de contato e de acidente com os cabelos.

“Por conta disso, esse é um tipo de acidente que não acontece com frequência na região do Amazonas”,

explicou a Marinha do Brasil, diferenciando as embarcações.

Orvam

As consequências que as vítimas de escalpelamento sofrem são inúmeras e podem durar por toda a vida. Desde dores físicas e crônicas na cabeça ou nas cervicais, como também em dificuldades na fala, visão e audição.

Além das sequelas físicas, também há o impacto psicológico. Muitas vítimas não se reconhecem mais fisicamente, devido as cicatrizes, a falta de cabelo e as mudanças no corpo, após a mutilação. Assim, a autoestima acaba sendo profundamente afetada, alterando, inclusive, a sociabilidade da vítima com outras pessoas ao redor.

Nesse cenário, surgiu a Organização dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes de Motor (Orvam), sediada na cidade de Belém no Pará, na avenida João Paulo II, lote 134, bairro Castanheira, com o objetivo de ajudar as mulheres vítimas de escalpelamento da região Norte do país.

A organização sem fins lucrativos busca resgatar a autoestima das mulheres, reinserir as vítimas no mercado de trabalho e também oferecer acompanhamento médico. Nesse sentido, são promovidas oficinas de capacitação profissional, produção de perucas e consultas médicas.

“O objetivo da Orvam é a recuperação das mulheres vítimas de escalpelamento através da autoestima, onde é confeccionado as perucas que são desenvolvidas com base na realidade e na identidade da mulher”,

diz a assistente social Alessandra Almeida, que trabalha há quatro anos na Orvan.

Por ano, a Orvam ajuda cerca de 40 mulheres. Conforme a assistente social Alessandra Almeida, a organização aceita doações em dinheiro e itens como higiene pessoal, materiais de limpeza, roupas e sapatos, que podem ser feitas tanto de forma presencial quanto por envio pelos correios para o CEP 66.645-240.

Lar das Marias

Em Manaus, a Associação de Apoio às Mulheres Portadoras de Câncer Lar das Marias também oferece doações de perucas para vítimas de escalpelamento. Fundada em 2006 e localizada na rua Loris Cordovil, bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste de Manaus, a organização já doou mais de 106 perucas, de 2016 a 2019.

Edição: Leonardo Sena

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