×
Congresso Nacional

Lula destrava emendas herdadas de Bolsonaro e mira redutos de ministros

Lula recebeu R$ 9,9 bi em recurso rebatizado após fim de emenda do relator; Congresso cobra liberação como moeda de troca

Brasília (DF) – O governo Lula (PT) começou a destravar a verba que herdou das extintas emendas de relator. A primeira liberação privilegiou estados de ministros. Por enquanto, foram autorizados cerca de R$ 200 milhões, que atendem principalmente Mato Grosso, domicílio eleitoral de Carlos Fávaro (Agricultura), e Pará, de Jader Filho (Cidades).

A largada, portanto, direciona verba para as bases de ministros no momento em que o Congresso cobra do Palácio do Planalto maior celeridade na liberação de emendas.

Fávaro é senador eleito pelo PSD, mas se licenciou para ocupar a pasta. Jader Filho, por sua vez, foi indicado para o ministério pela bancada do MDB da Câmara.

Como mostrou a Folha em abril, o Palácio do Planalto decidiu que a nova forma de direcionar dinheiro para congressistas irrigarem obras e projetos em suas bases eleitorais vai simular as emendas parlamentares.

A falta de perspectiva de o governo atender aos pedidos de parlamentares sobre essa verba é uma das principais queixas do Congresso quanto à articulação política de Lula.

De cerca de R$ 140 milhões empenhados (etapa que antecede o pagamento) pela Agricultura, foram destinados R$ 130 milhões para sete municípios de Mato Grosso. Essa verba será utilizada para recuperação de estradas em área rural e na compra de equipamentos.

Fávaro, quando era senador, já havia destinado emendas a essas cidades. Além disso, prefeitos desses municípios fazem parte do grupo político do ministro, que é cotado para disputar o Governo de Mato Grosso em 2026.

No caso do Ministério das Cidades, todos os R$ 50 milhões encaminhados até agora serviram para o governo federal assinar acordo com a Prefeitura de Belém para a construção de um parque urbano, anunciado durante visita de Lula à capital paraense. Além do petista, participaram do evento Jader Filho e seu irmão, Helder Barbalho (MDB), governador do Pará.

As emendas de relator eram a principal moeda de troca no governo de Jair Bolsonaro (PL) e foram declaradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

A fatia herdada por Lula soma R$ 9,9 bilhões. O poder de indicar o destino desses recursos é cobiçado por parlamentares, que, em troca de apoio a projetos de Lula no Congresso, querem enviar mais dinheiro para financiar obras e projetos em seus redutos eleitorais.

Sem a certeza de como o montante será distribuído, líderes do centrão pressionam o governo a mudar a articulação política e atender a mais pedidos de parlamentares.

Durante a campanha eleitoral, Lula chegou a chamar as emendas de relator de “maior esquema de corrupção da atualidade”, “orçamento secreto” e “bolsolão”. A gestão petista, porém, driblou a decisão do Supremo e negociou a partilha desse recurso a partir de acordos feitos com o Congresso Nacional para ampliar sua base de apoio.

O governo colocou um carimbo específico para esses recursos, para formalizar e organizar os pagamentos. Esse dinheiro foi dividido entre sete ministérios em um acordo político envolveu as cúpulas da Câmara e do Senado e foi chancelado por Lula. Dessa forma, o Congresso manteve a influência sobre uma parcela bilionária do Orçamento.

O Ministério da Agricultura determinou, em portaria publicada em junho, que as ações que usarem essa fatia do orçamento devem priorizar o impacto social, desenvolvimento regional, inovação tecnológica, entre outros pontos.

Em nota, a pasta comandada por Fávaro disse que cadastrou mais de 8.000 propostas de convênios e que pretende, nas próximas semanas, empenhar todo o valor disponível no orçamento para esse tipo de ação.

O ministério disse que não há identificação do autor das propostas, pois a verba está no caixa do governo federal.

A pasta afirmou que prioriza a recuperação de estradas para melhora do fluxo de escoamento da produção, a aquisição de máquinas e implementos agrícolas, além do apoio a eventos agropecuários com essa verba.

Já o Ministério das Cidades apresentou, em portaria divulgada em maio, critérios que devem ser observados para liberar esse tipo de emenda. O documento afirma que devem ser priorizadas ações em municípios com baixos indicadores socioeconômicos.

Questionada sobre quais critérios foram utilizados para liberar a verba ao estado de Jader Filho, a pasta afirmou que o contrato firmado com a Prefeitura de Belém no Parque do Igarapé São Joaquim faz parte de um conjunto de investimentos, ainda em definição, e que irá compor o apoio do governo federal para levar melhorias ao município, preparando-o para sediar a COP-30 em novembro de 2025.

O Ministério da Saúde tem a maior fatia (R$ 3 bilhões) do recurso remanescente da verba declarada inconstitucional. No começo de maio, a pasta publicou portaria em que definiu uma série de prioridades para a liberação desse recurso.

Técnicos da Saúde afirmam que essa portaria foi editada para tentar não afrouxar o controle sobre a verba.

Integrantes do Congresso, porém, avaliam que essas regras se tornaram barreiras para a liberação do recurso. Até agora a Saúde não começou a empenhar a cifra herdada das emendas de relator.

O ritmo de liberação do recurso fez aumentar a pressão de partidos do centrão para mudar o comando da Saúde.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta segunda-feira (19) que Lula deixou claro que a pasta comandada por Nísia Trindade não está na “cota partidária de qualquer partido”.

Padilha também disse que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não pediu o comando da pasta. Lira é o principal líder do centrão e tem feito declarações públicas criticando a articulação política de Lula.

O Ministério dos Esportes também definiu critérios para liberação dos R$ 200 milhões reservados para a pasta da verba que mudou de nomenclatura após a decisão do STF.

O valor é pequeno comparado ao que está disponível para a Saúde, mas representa quase metade da verba discricionária (que não é usada para pagar salários e outras obrigações) da pasta comandada pela ministra Ana Moser.

Além do recurso herdado das antigas emendas do relator, há outras verbas indicadas por parlamentares.

O Orçamento de 2023 reserva R$ 36,5 bilhões em emendas individuais, de bancadas estaduais e das comissões temáticas do Congresso Nacional. Foram empenhados R$ 6,6 bilhões e pagos R$ 2,4 bilhões desse valor.

O governo tem dado mais ritmo às emendas individuais, que são aquelas que todo deputado e senador tem direito. Na sexta-feira (16), foi liberado mais um lote de R$ 1 bilhão desses recursos. Com isso, na semana passada, o valor soma quase R$ 1,4 bilhão.

Os mais privilegiados foram ex-senadores e ex-deputados, como o ex-líder do governo Jair Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e o ex-deputado Marcelo Ramos (PSD-AM), que é aliado de Lula e ganhou o cargo de assessor especial da Petrobras.

Em relação aos partidos atendidos, MDB, PL, PT e União Brasil foram os que mais receberam.

*Com informações da Folha

Leia mais:

Lula ignora promessa, repete Bolsonaro e usa live oficial para ataques

Lula anuncia contratação de 230 mil moradias em 2023

Bolsonaro pede desculpas após fake news sobre vacinas com grafeno

Entre na nossa comunidade no Whatsapp!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *