Ex-funcionários da companhia aérea VoePass denunciavam irregularidades e falta de manutenção nas aeronaves, após acidente aéreo matar 62 pessoas em Vinhedo (SP). Um dos aviões inclusive, foi apelidado de “Maria da Fé”.
“A gente tinha um avião que apelidava de ‘Maria da Fé’, porque só voava pela fé. Não tinha explicação como um avião daquele estava voando”, disse um ex-funcionário não identificado da companhia, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
De acordo com ele, a empresa colocava a segurança em “segundo ou terceiro plano” e “visava mais o lucro”. Imagens feitas no interior de uma das aeronaves mostram uma poltrona parcialmente solta do piso e a fresta da porta sugando um pedaço de papel.
O diretor-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Henrique Hacklaender, afirmou ao Fantástico que as reclamações sobre a empresa aumentaram depois da pandemia de Covid-19, em março de 2020.
“Os tripulantes têm percebido níveis de fadiga ainda maiores. Os relatos mais recentes da Passaredo [nome antigo da VoePass] com relação à área de manutenção são por conta do sistema de ar-condicionado, que vinha apresentando algumas precariedades”, declarou.
A jornalista e escritora Daniela Arbex revelou que voou no mesmo avião da VoePass um dia antes do acidente. Em um longo desabafo no Instagram, na sexta-feira (9), Daniela postou um vídeo no qual pessoas passavam mal de calor dentro da aeronave, que estava com o ar-condicionado desligado.
“Filmei as pessoas passando mal durante o voo por causa do calor que fazia dentro da aeronave sem ar-condicionado. Foi terrível. Um passageiro chegou a tirar a camisa. Outro, que estava uma poltrona à minha frente, sentia muita dor de cabeça. As pessoas se abanavam procurando ar. Eu e outros passageiros questionamos a aeromoça. A resposta foi que o “ar não funcionava em solo, só no ar”, “o que não aconteceu”, segundo a jornalista.
Palito em sistema antigelo
O comandante Ruy Guardiola, ex-funcionário da VoePass e um dos primeiros pilotos do modelo ATR no Brasil, contou que, durante um voo da companhia, a equipe da manutenção usou um palito de fósforo para resolver um problema no botão que aciona o sistema antigelo. Uma falha no sistema anticongelamento é justamente uma das suspeitas para a queda do avião da VoePass que deixou 62 pessoas mortas na sexta-feira (9), em Vinhedo.
O episódio com o palito ocorreu em 2019, quando Guardiola trabalhou por um mês na então Passaredo (que passou a se chamar VoePass exatamente naquele ano). Fundada em 1995 em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a companhia aérea é a mais antiga em operação no país e é especializada em voos regionais.
“O problema foi detectado no nível de aquecimento de um dos sistemas. A solução encontrada pela manutenção foi a colocação de um palito de fósforo, ou sei lá, um palito de dente. Eu vi com esses olhos que a terra há de comer”, contou o piloto em entrevista ao Fantástico.
*Com informações do Metrópoles
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