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Preocupação

Manaus volta a ficar encoberta por fumaça e qualidade do ar apresenta nível “péssimo”

Dados do Inpe apontaram que entre segunda e esta terça-feira (27), foram registrados 1.098 focos de incêndios no Amazonas, com 271 ocorrências em Lábrea

Qualidade do ar ficou péssima em todos os pontos de Manaus
Qualidade do ar ficou péssima em todos os pontos de Manaus. Foto: AFP

Manaus ficou novamente encoberta por uma espessa camada de fumaça, nesta terça-feira (27), proveniente de queimadas. O resultado disso foi a qualidade do ar registrando nível péssimo em todas as zona da capital, na final da tarde, de acordo com o Serviço Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva). O fenômeno tem sido uma preocupação constante na região e tem impactado a vida dos moradores.

Ainda na noite de segunda-feira (26), já era possível ver uma leve camada de fumaça sobre a capital amazonense. Nesta terça-feira, a fumaça ficou mais espessa e se manteve. No final da tarde, o Selva apontou que quase todos os bairros da capital registravam uma qualidade do ar péssima.

Foto: APP SELVA

A atendente de drogaria Maria Azevedo relatou ao Em Tempo a dificuldade em fazer tarefas simples do dia a dia nesta atual situação.

“Quando eu saio para o trabalho, eu sempre vou a pé, porque é bem perto da minha casa. Hoje foi um pouco difícil por conta da fumaça, meu nariz ficou irritado, tive que andar mais rápido para chegar na empresa e tentar me proteger dessa fumaça”, destacou a moradora do bairro Compensa.

Já a advogada Bruna Oliveira apontou que sua preocupação é em relação à saúde de seu filho, que precisa ficar na creche durante parte do dia.

“Algumas atividades da creche são ar livre, o que me preocupa devido à fumaça. Tenho medo de ele [filho] adquirir algum problema de saúde por conta da situação. Eu trabalho o dia todo em ambiente fechado, mas ele fica ao ar livre, dependendo da atividade. É difícil ter que passar por isso de novo”, disse Oliveira.

Incêndios descontrolados

Foto: Em Tempo

A preocupação de Bruna é válida, mas não se restringe apenas à população da capital amazonense, segundo o ambientalista e professor da UFAM, Rogério Fonseca. A saúde de quem também está combatendo esses incêndios florestais precisa ser vista com mais atenção pelas autoridades.

“A incidência de problemas de saúde aumenta muito, pneumonia, bronquites, e qualquer outro tipo de infecção respiratória. A gente tem que lembrar também que tantas pessoas que estão no monitoramento e no combate aos incêndios florestais também podem ser vítimas dessas situações de problemas de saúde. A gente sempre esquece, mas o herói é quem está lá no front, que é o bombeiro, o Policial Militar Ambiental, o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas e o IPAAM”, comentou o especialista.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontaram que entre ontem (26) e hoje (27), foram registrados 1.098 focos de incêndios no Amazonas, com 271 ocorrências em Lábrea (distante 701 quilômetros de Manaus). O professor da UFAM destaca que a maior parte dos incêndios são criminais, em áreas de assentamento agrário.

“Uso da queimada controlada é importante, porque nós não temos implementos agrícolas para todo o nosso Estado. Mas da forma que, muitas das vezes, algumas pessoas optam em fazê-lo, sem o devido licenciamento ambiental, não. Para você poder fazer esse tipo de atividade, você vai pegar orientações técnicas com os órgãos, e os órgãos já se preparam para poder fazer qualquer tipo de contenção no uso, vamos dizer bem assim, planejado de queimada controlada. Não é o caso do nosso país inteiro, porque há pelo menos 50 anos vigora uma política quase de criminalização da conduta de queimadas controladas”, explicou o ambientalista.

El Niño

Para o especialista, o ideal para dispersar a fumaça das queimadas seria a chuva, que também ajudaria a amenizar a temperatura na capital amazonense. Mas, devido à influência do fenômeno El Niño, essa realidade está um pouco mais distante.

“Se as chuvas que estavam se formando no entorno da cidade de Manaus chegassem, conseguissem chegar aqui, isso [fumaça] já estaria, vamos dizer bem assim, mais reduzido. Essa carga de material particulado em cima da cidade iria diminuir bastante”, pontuou Fonseca.

A atual situação da capital amazonense é preocupante, já que a força do El Niño se mostra mais rigorosa este ano.

“A gente está vivendo esse período de El Nino e sim, a gente pode ter uma ainda maior redução de umidade, ainda assim mantendo boa parte da matéria orgânica do solo seca e perigosamente em condições de incêndio”, salientou Rogério.

As autoridades de saúde e meio ambiente emitiram alertas para a população, recomendando a redução das atividades ao ar livre sempre que possível. Também é aconselhável o uso de máscaras de proteção e a manutenção de ambientes internos bem ventilados para minimizar a exposição aos poluentes.

Origema da fumaça

Em nota, o Governo do Amazonas informa que, segundo dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, sigla para National Oceanic and Atmospheric Administration), uma frente de massa de ar vinda do sudoeste do Brasil chegou em Manaus, trazendo consigo material particulado oriundo das queimadas do sul do Amazonas e estados vizinhos e, também, de parte da Bolívia.

O estado afirma que entre o dia 3 de junho e 25 de agosto, o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) combateu 10.451 focos de incêndio na capital e interior. Com o reforço de mais 200 bombeiros enviados na segunda-feira (26) principalmente para o Sul do Amazonas, o efetivo estadual empregado nas ações de combate às queimadas conta atualmente com cerca de 600 homens.

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