No exato momento em que líderes mundiais se reúnem em fóruns internacionais para exaltar a retórica da sustentabilidade, o mundo testemunha, calado, mais um episódio de desprezo absoluto pelo meio ambiente: os recentes bombardeios contra instalações nucleares no Irã.
O ataque, além de reacender as tensões geopolíticas, evidencia o fracasso moral das grandes potências e até mesmo de organizações ambientalistas, que parecem fechar os olhos quando a destruição parte dos países do chamado “Primeiro Mundo” ou de seus aliados estratégicos.
Os riscos de uma tragédia ambiental não são teoria conspiratória. A possível dispersão de materiais radioativos — como o césio-137, famoso pelos desastres de Chernobyl (1986) e Fukushima (2011) — pode deixar um legado de contaminação por décadas.
Em ambos os acidentes, vestígios do elemento radioativo foram encontrados a milhares de quilômetros de distância anos depois dos eventos, afetando solo, alimentos, água e o ar. E agora? Onde está a mesma comoção ambiental diante da possibilidade real de liberação de urânio e fluoretos tóxicos em pleno Oriente Médio?
De acordo com especialistas, explosões em instalações como a de Natanz — alvo de ataques anteriores de Israel e dos EUA — podem liberar compostos perigosos como o hexafluoreto de urânio, fluoreto de uranila e fluoreto de hidrogênio.
Em contato com vapor d’água, esses materiais se transformam em nuvens químicas nocivas, com risco significativo à saúde humana caso inaladas ou ingeridas. A radiação alfa, embora não penetre a pele, é extremamente perigosa se introduzida no organismo.
O detalhe cínico da equação: se os ventos estiverem fortes, a contaminação se espalha. Se estiverem fracos, ela se concentra. Qualquer que seja o cenário, o meio ambiente perde. E o silêncio dos países ditos “desenvolvidos” — os mesmos que se arvoram em líderes climáticos — apenas aprofunda a sensação de que vivemos uma farsa global em torno da causa ambiental.
Nada disso é novidade. Na década de 1970, a França fazia testes nucleares no Pacífico Sul, mas esperava os ventos soprarem em direção à América do Sul para então apertar o botão da explosão. A lógica? Contaminar o território do outro.
Já os testes nucleares nos oceanos, promovidos ao longo do século XX por potências como Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, lançaram toneladas de lixo radioativo nas profundezas marinhas. Resultado: contaminação persistente dos ecossistemas marinhos, com impactos desconhecidos até hoje — e praticamente nenhuma responsabilização.
ONGs ambientais, que deveriam atuar como vigilantes da vida, parecem perder a voz quando o agressor é “ocidental”. Nenhuma campanha global contra a possibilidade de contaminação radioativa no Irã ganhou tração. Nenhum protesto visível nas capitais do G7. Nenhuma grande manifestação nas redes sociais pedindo “cessar-fogo ambiental”.
Cadê o Greeanpeac e as outras organizações que dizem defender até a morte a Terra contra os que atentam contra o ecossistema planetário ?
A sustentabilidade, vendida em discursos sofisticados e relatórios coloridos, foi atirada no lixo da história diante da lógica implacável do poder. A Terra continua sendo violentada não só pelas bombas, mas pela hipocrisia. A vida humana, os rios, os solos e os ventos não têm nacionalidade — mas a indignação, tem, e é isso que as pessoas de bom senso precisam manifestar.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)
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