A Faixa de Gaza enfrenta o que a Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), ferramenta utilizada pela ONU, define como “o pior cenário da fome”.
De acordo com relatório divulgado recentemente, o conflito contínuo e os deslocamentos forçados intensificaram a crise, reduzindo drasticamente o acesso a alimentos e serviços essenciais.
“Conflitos e deslocamentos se intensificaram, e o acesso a alimentos e outros itens e serviços essenciais despencou a níveis sem precedentes”, diz o alerta emitido pelo IPC, que também afirma: “Evidências crescentes mostram que a fome generalizada, a desnutrição e as doenças estão causando um aumento nas mortes”.
O documento explica que o alerta tem como objetivo destacar a rápida deterioração da situação humanitária na região, embora ainda não tenha sido formalmente emitida uma classificação oficial de fome.
“Considerando as informações e os dados mais recentes disponíveis, uma nova análise do IPC deve ser conduzida sem demora”, acrescenta.
Desnutrição
Entre abril e meados de julho, mais de 20 mil crianças foram internadas para tratamento de desnutrição aguda em Gaza, sendo que mais de 3 mil estão em estado grave, segundo o sistema de classificação.
O relatório também aponta que “os dados mais recentes indicam que os patamares da fome foram atingidos para o consumo de alimentos na maior parte da Faixa de Gaza e para a desnutrição aguda na Cidade de Gaza”. A entidade clama por “ação imediata” para interromper os combates e permitir uma “resposta humanitária desimpedida, em larga escala e que salve vidas”.
Catástrofe humanitária
A fase 5 da IPC, considerada o estágio mais crítico da fome e classificada como “catástrofe humanitária” pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), foi atingida no território. Isso significa que ao menos 20% das famílias enfrentam extrema escassez de alimentos, 30% das crianças estão com desnutrição aguda ou 15% da população total apresenta desnutrição grave, com rápida piora de condições como acesso à comida e água potável. A taxa de desnutrição aguda na Cidade de Gaza alcançou 16,5% em julho, ultrapassando o limiar da fase 5.
Outro critério dessa fase, a mortalidade não traumática, também já está presente, com ao menos duas mortes por dia para cada 10 mil pessoas, causadas por fome e doenças relacionadas. Em maio deste ano, a análise do IPC já indicava que toda a população de Gaza enfrentava altos níveis de insegurança alimentar, com cerca de meio milhão de pessoas em situação de “catástrofe humanitária”.
Ajuda humanitária
Na última sexta-feira (25), Israel retomou a liberação de ajuda alimentar por via aérea ao território, mas vem sendo criticado pelo sistema adotado. O país culpa o Hamas e a ONU pelas dificuldades na distribuição de suprimentos. Por outro lado, organizações humanitárias e a própria ONU afirmam que têm sido impedidas de atuar livremente, acusando Israel de boicotar a estrutura humanitária.
Segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo Hamas e considerados confiáveis por agências da ONU, o número de mortos em decorrência da ofensiva militar israelense já ultrapassou 60 mil desde outubro de 2023. A maioria das vítimas são civis, incluindo mulheres e crianças, conforme também atesta a ONU.
Bombardeios
O conflito teve início após o ataque realizado pelo Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1.200 mortos e mais de 250 reféns levados a Gaza. A resposta israelense, com bombardeios intensos e operação terrestre, destruiu bairros inteiros e obrigou a repetida fuga de milhares de pessoas, agravando a situação da população estimada em 2,3 milhões de habitantes.
