Por Thais Szegö, da Agência Einstein
A dor na região lombar, conhecida como lombalgia, é um problema de saúde pública global de proporções alarmantes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição é a principal causa de incapacidade em todo o mundo. Os números crescentes são motivo de grande preocupação: em 2020, 619 milhões de pessoas sofriam com o problema, um aumento de 60% em relação a 1990. A previsão é que esse número salte para 843 milhões de indivíduos até 2050, mostrando a urgência de entender e combater o quadro.
Em busca de respostas, pesquisadores alemães publicaram um estudo seminal na renomada revista científica The Lancet Regional Health – Europe, buscando identificar os fatores de risco modificáveis por trás da lombalgia persistente. A investigação, que se debruçou sobre a composição muscular corporal de mais de 30 mil participantes, utilizou a tecnologia de inteligência artificial em ressonâncias magnéticas de corpo inteiro para um mapeamento detalhado da estrutura muscular e da infiltração de gordura.
Conexão direta: gordura e dor crônica
A conclusão dos pesquisadores é um divisor de águas na compreensão da dor lombar crônica. O estudo revelou uma forte associação entre maiores níveis de gordura entre os músculos da região torácica e lombar e uma maior probabilidade de desenvolvimento do problema. Em contrapartida, indivíduos com maior massa muscular nessas mesmas áreas demonstraram uma tendência significativamente menor a sofrer com a lombalgia.
Para o ortopedista Fernando Jorge, especialista em medicina regenerativa, a pesquisa sugere um caminho promissor para o tratamento.
“Ele sugere fortemente que fatores de risco modificáveis, como a composição muscular, podem ser alvos para prevenção e tratamento”, explica o especialista. Essa perspectiva abre portas para abordagens que vão além do tratamento da dor em si, focando na causa-raiz do problema.
O entendimento da composição corporal e desafios
O ortopedista Luciano Miller, livre-docente da Faculdade de Medicina do ABC, complementa o debate ao elucidar que a proporção de gordura infiltrada nos músculos dorso-lombares não é aleatória. Ela é influenciada por uma complexa rede de fatores, incluindo:
- Sedentarismo e envelhecimento;
- Dieta e obesidade;
- Resistência insulínica e questões hormonais;
- Fatores inflamatórios e, em certa medida, a própria genética.
Apesar da importância do estudo, Miller ressalta a necessidade de futuras investigações incorporarem outros fatores cruciais, como os psicológicos, nutricionais e ocupacionais, para uma compreensão ainda mais completa da dor lombar crônica.
Prevenção e Tratamento: O Papel da Atividade Física e Nutrição
A boa notícia é que o conhecimento sobre a relação entre composição muscular e lombalgia já aponta para ações concretas. Existem evidências de que programas de reabilitação que combinam treino de força, controle nutricional e emagrecimento podem ajudar a reduzir a infiltração de gordura intermuscular.
No entanto, o ortopedista do Einstein alerta para a necessidade de paciência e disciplina.
“Os efeitos são modestos e lentos, e dependem da intensidade, regularidade e individualização dos treinos”, pontua. Isso reforça a ideia de que a mudança é um processo contínuo, que exige consistência e acompanhamento profissional.
Por Thais Szegö, da Agência Einstein
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