Exército de Israel iniciou sua incursão terrestre na Cidade de Gaza nesta quarta-feira (13) e manteve bombardeios aéreos intensos, matando ao menos 123 pessoas nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde palestino, controlado pelo grupo Hamas.
A ofensiva coincide com uma visita de líderes do Hamas ao Cairo, no Egito, onde participam de conversas sobre um possível acordo de cessar-fogo. Na semana passada, o governo de Binyamin Netanyahu anunciou um plano para tomar controle da região.
Ataques aéreos e tanques atingem áreas civis
Moradores relataram à agência de notícias Reuters que aviões e tanques israelenses atacaram áreas orientais da Cidade de Gaza, destruindo casas. O hospital Al-Ahli confirmou que 12 pessoas morreram em um ataque aéreo a uma residência no bairro de Zeitoun.
Tanques também destruíram residências no leste de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. No centro do território, militares israelenses mataram nove civis que buscavam ajuda humanitária, de acordo com médicos palestinos. O Exército de Israel não comentou as ações.
O Ministério da Saúde informou ainda que outras oito pessoas, incluindo três crianças, morreram de fome e desnutrição nas últimas 24 horas. Israel contesta os números divulgados pelo Hamas.
Israel aprova plano para tomar Gaza
O Exército de Israel declarou em comunicado que o chefe das Forças Armadas, Eyal Zamir, “aprovou a estrutura principal do plano operacional” para assumir o território. Segundo o informe, “foram apresentadas as ações [do Exército] até o momento, incluindo o ataque na área de Zeitoun que começou ontem”.
A decisão foi tomada em reunião com representantes do serviço de segurança Shin Bet e outros oficiais. De acordo com os militares, “o conceito central para o plano das próximas etapas na Faixa de Gaza foi apresentado e aprovado”.
Netanyahu: “Eles terão permissão para sair”
Em entrevista ao canal israelense i24News, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu afirmou que os palestinos podem deixar o território. “Eles não estão sendo expulsos, terão permissão para sair”, disse. Ele criticou a comunidade internacional: “Todos aqueles que se preocupam com os palestinos e dizem que querem ajudá-los devem abrir seus portões e parar de nos dar lições”.
No entanto, países como Egito e Jordânia se recusam a permitir a entrada em massa de palestinos, argumentando que tal ação equivaleria a uma cumplicidade com limpeza étnica. O Egito teme ainda que a presença de palestinos no Sinai gere conflitos diretos com Israel em seu território.
Ofensiva ocorre após impasse em negociações no Qatar
A última rodada de negociações entre Israel e Hamas, mediada pelos Estados Unidos no Qatar, terminou sem acordo no fim de julho. O impasse girou em torno de uma proposta de cessar-fogo de 60 dias que incluiria a libertação de reféns.
Diante do fracasso das negociações, Israel anunciou uma nova ofensiva para retomar a Cidade de Gaza, o que pode gerar mais deslocamentos forçados. A cidade, antes a mais populosa do enclave palestino, foi capturada por Israel no início da guerra, em outubro de 2023.
Hamas negocia com o Egito enquanto civis sofrem em Gaza
No Cairo, o principal negociador do Hamas, Khalil Al-Hayya, se reuniu com autoridades egípcias. O objetivo, segundo o porta-voz Taher al-Nono, é “parar a guerra, fornecer ajuda e acabar com o sofrimento do nosso povo em Gaza”.
Segundo fontes egípcias, as conversas também abordam um possível cessar-fogo duradouro. A proposta inclui o desarmamento do Hamas e a transferência da administração de Gaza para outra autoridade. Um representante do grupo afirmou à Reuters, sob anonimato, que “seria impossível entregar as armas antes que o Exército israelense saia do território”.
Pressão internacional aumenta por cessar-fogo e ajuda
O plano de Netanyahu para expandir o controle militar sobre Gaza gerou críticas internacionais e até divergências dentro de Israel. Ministros das Relações Exteriores de 24 países, incluindo Reino Unido, Canadá, Austrália, França e Japão, disseram que a crise humanitária em Gaza atingiu “níveis inimagináveis” e exigiram que Israel permita a entrada irrestrita de ajuda humanitária.
Israel, por sua vez, afirma que o Hamas rouba os alimentos distribuídos e culpa a ONU por se recusar a ajudar. O Exército israelense afirmou que cerca de 320 caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza nas últimas 24 horas pelos cruzamentos de Kerem Shalom e Zikim, e que a mesma quantidade foi distribuída por organizações internacionais.
Pós-guerra: quem governará Gaza?
A comunidade internacional e países árabes defendem que a Faixa de Gaza, após o conflito, seja governada pela Autoridade Palestina, atualmente limitada à Cisjordânia. A entidade foi expulsa de Gaza pelo Hamas em 2007.
A ministra das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Varsen Aghabekian Shahin, afirmou que a organização está pronta para assumir “total responsabilidade” sobre Gaza. Segundo ela, o Hamas não teria qualquer papel, seria obrigado a entregar as armas, e haveria a presença de uma força internacional de paz.
Israel, no entanto, já declarou que não aceitará o retorno da Autoridade Palestina ao governo de Gaza.
(*) Com informações da Folha de S.Paulo
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