O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou nesta segunda-feira (25) que o bombardeio lançado por forças israelenses contra o Hospital Nasser, em Khan Younis, foi um “acidente trágico”. A ação resultou na morte de cerca de 20 pessoas, entre elas cinco jornalistas que trabalhavam para veículos de imprensa internacionais.

“Israel lamenta profundamente o trágico acidente ocorrido hoje no Hospital Nasser em Gaza. Israel valoriza o trabalho de jornalistas, equipe médica e todos os civis. As autoridades militares estão conduzindo uma investigação completa”, disse Netanyahu, segundo um comunicado oficial.

“Nossa guerra é contra os terroristas do Hamas. Nossos justos objetivos são derrotar o Hamas e trazer nossos reféns para casa.”

Duplo bombardeio atingiu hospital durante resgate

O Hospital Nasser, uma das últimas unidades de saúde ainda operando em Gaza, foi alvo de dois ataques consecutivos nesta segunda-feira. Fontes palestinas afirmaram que o primeiro bombardeio foi realizado com um drone explosivo. Minutos depois, uma segunda explosão ocorreu justamente quando equipes de resgate prestavam socorro aos feridos.

O Middle East Eye compartilhou imagens ao vivo nas redes sociais, captadas por uma emissora de TV e publicadas por Ramy Abdu, fundador do Monitor de Direitos Humanos Euro-Mediterrâneo. As imagens mostrariam o momento exato do segundo bombardeio.

Militares israelenses prometem investigação

Antes da declaração de Netanyahu, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, general Eyal Zamir, determinou a abertura de uma investigação imediata. Ele confirmou que uma operação havia sido autorizada na área anteriormente.

“As FDI lamentam qualquer dano a [civis] não envolvidos e de forma alguma direcionam ataques a jornalistas”, diz um comunicado militar. O texto afirma ainda que o Exército trabalha para “minimizar os danos” e garantir “a segurança de nossas forças”.

Cinco jornalistas mortos e condenações internacionais

De acordo com o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), cerca de 200 jornalistas foram mortos em Gaza desde o início da guerra, há 22 meses. Em contraste, o conflito entre Rússia e Ucrânia causou a morte de 18 profissionais.

As vítimas confirmadas no ataque ao Hospital Nasser trabalhavam para redes como Associated Press, NBC, Reuters e Al-Jazeera. A AP informou que Mariam Dagga, de 33 anos, sua colaboradora freelancer, morreu no local. Ela havia reportado recentemente sobre o esforço de médicos para salvar crianças da fome.

A Reuters lamentou a morte de Hussam al-Masri, também freelancer da agência, e informou que outro colaborador ficou ferido.

A Al-Jazeera confirmou a morte de seu repórter cinematográfico Mohammad Salama e condenou o que chamou de “crime horrível” cometido por Israel. A emissora acusou o país de realizar uma campanha sistemática para silenciar jornalistas.

As outras vítimas foram Moaz Abu Taha, vinculado à NBC, e Ahmad Abu Aziz, ligado à Comissão Independente para os Direitos Humanos. Segundo a Reuters, Aziz também colaborava ocasionalmente com a agência.

Trump, ONU e líderes europeus reagem

O ataque gerou forte repercussão internacional, inclusive entre aliados de Israel. Em Washington, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou:

— Não estou feliz com isso. Não quero ver isso. Ao mesmo tempo, precisamos acabar com todo esse pesadelo.

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, disse estar “horrorizado” e exigiu um cessar-fogo imediato. A Alemanha também solicitou uma investigação.

A ONU condenou o ataque, lembrando que jornalistas e hospitais não são alvos legítimos durante conflitos. A UNRWA declarou estar “chocada” com a falta de ação global, enquanto o diretor da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que o hospital abrigava áreas cirúrgicas e de emergência.

“O assassinato de jornalistas em Gaza deveria provocar comoção no mundo, não para ficar estupefato em silêncio, senão para atuar, exigindo reponsabilidades e justiça”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU.

A Associação de Imprensa Estrangeira de Jerusalém exigiu explicações do governo israelense e pediu o fim da prática de atacar jornalistas.

No dia 10 de agosto, a Al-Jazeera reportou que dois correspondentes e três cinegrafistas do canal morreram em um ataque israelense à tenda onde estavam hospedados, na Cidade de Gaza. O Exército de Israel confirmou o bombardeio e afirmou que Anas al-Sharif, um dos alvos, era um “terrorista disfarçado de jornalista”.

Fome extrema atinge meio milhão em Gaza

Na sexta-feira anterior, a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) — órgão apoiado pela ONU — anunciou que a Cidade de Gaza entrou oficialmente em estado de fome, classificação mais grave da escala internacional.

Segundo o relatório, cerca de 500 mil pessoas enfrentam condições catastróficas, com risco elevado de morte por fome extrema e miséria. Autoridades da ONU acusaram Israel de usar a fome como arma de guerra, o que configuraria crime segundo o direito internacional. Israel rebateu, chamando o relatório de uma “mentira descarada”.

A fase 5 da Escala de Insegurança Alimentar Aguda (AFI), atingida agora em Gaza, só foi registrada quatro vezes desde 2004: na Somália (2011), Sudão do Sul (2017 e 2020) e no Sudão (2024).

(*) Com informações do OGLOBO

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