Em mais um sinal de avanço nas negociações para encerrar a guerra na Faixa de Gaza, o Hamas entregou, nesta quarta-feira (8), uma lista com nomes de reféns israelenses e prisioneiros palestinos que poderiam ser incluídos em uma permuta.

A facção afirmou estar otimista com as conversas em Sharm el-Sheikh, no Egito, e que o foco atual das negociações está nos mecanismos para interromper o conflito e garantir a retirada das forças israelenses de Gaza.

O grupo avalia positivamente o plano de 20 pontos apresentado por Donald Trump, que representa o avanço diplomático mais significativo até o momento.

Apesar do otimismo, questões-chave ainda bloqueiam um entendimento. Israel exige que o Hamas entregue suas armas como condição para encerrar a guerra — uma exigência que, segundo fontes palestinas, a facção não está disposta a negociar.

Além disso, o cronograma para a implementação da primeira fase do plano ainda não foi definido, conforme informou uma fonte à agência Reuters.

Também nesta quarta-feira, autoridades israelenses relataram à mídia local que o Hamas forneceu informações sobre cerca de 20 reféns vivos. O grupo também afirmou estar buscando localizar alguns dos reféns mortos.

Israel confirma a morte de 26 dos 48 reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza.

Delegações internacionais chegam ao Egito para negociação

As negociações, iniciadas na segunda-feira (6), seguem com a chegada de novas autoridades a Sharm el-Sheikh. Entre elas estão:

  • Jared Kushner, genro de Trump e ex-enviado para o Oriente Médio
  • Steve Witkoff, enviado especial de Trump
  • Ron Dermer, ministro de Assuntos Estratégicos de Israel
  • Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, primeiro-ministro do Qatar
  • Representantes da Jihad Islâmica, que também mantêm reféns
  • Ibrahim Kalin, chefe da inteligência da Turquia

A presença turca marca um aumento da influência de Ancara nas negociações, apesar de anteriormente não ser considerada uma mediadora por Israel.

“A paz não é um pássaro com uma única asa. Colocar todo o fardo da paz sobre o Hamas e os palestinos não é uma abordagem justa, correta ou realista”, declarou o presidente Recep Tayyip Erdogan.

Erdogan afirmou que Trump pediu ajuda para convencer o Hamas a aceitar o acordo, mas ressaltou que, em sua visão, o principal obstáculo para a paz é Tel Aviv, que deveria ser mais pressionado pela comunidade internacional.

Futuro de Gaza permanece indefinido

Mesmo com avanços nas tratativas, não há clareza sobre quem governará Gaza após o fim da guerra. Países árabes que apoiam o plano dos EUA esperam que ele conduza à criação de um Estado palestino, hipótese rejeitada pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

O plano americano, apoiado por Trump, prevê um organismo internacional liderado por ele próprio e com a participação de Tony Blair para administrar Gaza no pós-guerra. O Hamas seria excluído da governança.

Diante dos impasses, autoridades dos EUA sugerem priorizar o cessar-fogo e discutir a logística de libertação dos reféns israelenses e dos detidos palestinos.

Enquanto as conversas prosseguem, Israel mantém os bombardeios, embora tenha reduzido os ataques à Cidade de Gaza nos últimos dias, a pedido de Trump.

Mesmo assim, segundo autoridades locais, pelo menos oito palestinos morreram nas últimas 24 horas — o menor número de vítimas em uma semana.

Acusações de genocídio e crise humanitária

A ofensiva israelense gerou indignação global. A campanha militar já deslocou internamente quase toda a população de Gaza e provocou crise de fome com o bloqueio à ajuda humanitária.

Especialistas em direito internacional e uma investigação da ONU apontam que as ações podem configurar genocídio, acusação que Tel Aviv nega.

De acordo com autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, mais de 67 mil palestinos morreram desde o início da guerra. A ONU considera os dados confiáveis.

A ofensiva foi uma resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 israelenses e resultou no sequestro de 251 pessoas, segundo números de Israel.

Leia mais: Guerra em Gaza completa 2 anos com chance real de trégua