Milhões de estudantes enfrentam, neste período do ano, a combinação entre expectativa, autocobrança e medo de falhar. Em muitos casos, não é o conteúdo que bloqueia o desempenho, mas a emoção. O cérebro, quando percebe uma situação como ameaça, pode sabotar o raciocínio. Entender esse processo é o primeiro passo para atravessar a fase das provas com equilíbrio e confiança.

Do ponto de vista neurocientífico, a ansiedade de prova é uma reação natural. Joseph LeDoux (1996) demonstrou que a amígdala aciona respostas rápidas de defesa ao interpretar riscos, reais ou imaginados. Quando essa ativação é intensa, o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento e pela tomada de decisões, perde eficiência. A clássica Lei de Yerkes e Dodson (1908) explica que existe um nível ideal de ativação emocional para o bom desempenho. Um nível moderado favorece a atenção e o estado de alerta, enquanto a ansiedade excessiva prejudica a memória, o foco e a clareza mental.

A emoção não é inimiga do aprendizado. Pesquisas de Reinhard Pekrun (2006) mostram que as emoções acadêmicas podem impulsionar ou bloquear o estudante, interferindo na atenção e na motivação. A boa notícia é que a ansiedade pode ser regulada. James Gross (1998) demonstrou que estratégias adequadas de regulação emocional reduzem o impacto do estresse e favorecem o raciocínio, permitindo que o estudante acesse o conhecimento que já possui.

Na prática, algumas ações simples ajudam o cérebro a se autorregular na semana da prova: manter rotina de sono, evitar jornadas exaustivas de estudo, organizar o cronograma em blocos curtos, fazer pausas e praticar respiração diafragmática. Uma técnica eficaz é a 4-2-6-2, em que o estudante inspira por quatro segundos, segura por dois, expira por seis e pausa por mais dois, repetindo o ciclo algumas vezes até que o corpo desacelere. Durante a prova, vale focar no presente, evitar comparações, usar frases realistas de autorregulação e fazer pequenas pausas de respiração sempre que o pensamento “travar”.

Provas são importantes, mas não definem uma vida. Quando emoção e raciocínio caminham juntos, o conhecimento encontra caminho. Em Manaus, milhares de estudantes se preparam para o PSC, o vestibular da UEA e o ENEM. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2024), mais de 110 mil candidatos confirmaram inscrição no Amazonas. Que cada estudante atravesse esse período com equilíbrio, método e cuidado emocional.

Ana Claudia de Souza Pinto Oliveira

Neuropsicóloga, Diretora Clínica do Instituto Desenvolver – Neurociência e Saúde Integrada, graduada em Psicologia pelo Centro Universitário do Norte; Mestre em Educação pela Universidad de Los Pueblos de Europa e Pesquisadora do Laboratório de Avaliação Psicológica da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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