Por Juscelino Taketomi
No cenário político do Brasil, onde a defesa da soberania muitas vezes encontra obstáculos internos e externos, a figura de Artur Bernardes emerge como um exemplo singular de resistência patriótica.
Mineiro de nascimento, mas brasileiro por essência, Bernardes, ex-presidente da República e deputado federal, travou uma das mais emblemáticas batalhas contra a tentativa de internacionalização da Amazônia nas décadas de 1940 e 1950.
O episódio, embora relegado a notas de rodapé na história oficial, carrega preciosas lições sobre a defesa do território nacional e a complexidade das relações internacionais.
Em meados do século XX, com o apoio da UNESCO, surgiu a proposta de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica.
Sob a justificativa de promover pesquisas científicas e desenvolvimento sustentável na região, o instituto encobria, segundo Bernardes, intenções imperialistas de controle sobre os fabulosos recursos naturais da Amazônia.
O tratado de Iquitos, firmado em 1948, reunia países amazônicos e nações de fora da região, como França e Estados Unidos, para consolidar esse projeto.
O Brasil, representado por setores do governo simpáticos à proposta, recebeu críticas severas de nacionalistas como Bernardes, que denunciavam o risco de desmembramento territorial e submissão econômica. Para ele, a ideia de um instituto internacional, dotado de extraterritorialidade e isento de obrigações fiscais, era uma ameaça direta à soberania brasileira.
Agitação no Congresso Nacional
A atuação de Bernardes na Câmara dos Deputados foi crucial para o desmonte do projeto. Desde 1950, ele usou a tribuna para denunciar o caráter inconstitucional e entreguista do tratado. Em discursos inflamados, apontou que o instituto poderia adquirir terras, colonizar a região com refugiados de guerra e criar um “condomínio de nações” dentro do território brasileiro, comprometendo a aplicação das leis nacionais.
Com habilidade política e retórica contundente, Bernardes mobilizou colegas parlamentares e a opinião pública. Seus discursos atraíam multidões, jornalistas e simpatizantes, que reconheciam nele um destemido defensor dos interesses nacionais.
Além disso, Bernardes contou com o apoio de instituições como o Clube Militar e o Instituto Brasileiro de Geopolítica, que rejeitaram categoricamente a convenção de Iquitos.
Apesar de sua luta, Artur Bernardes não recebeu até hoje o devido reconhecimento na região amazônica, cuja integridade territorial ele tanto defendeu. Em Manaus, a capital do Amazonas, uma discreta ruela no centro histórico leva seu nome, um tributo tímido para alguém que dedicou parte de sua vida pública à defesa da Amazônia.
A desproporção entre sua contribuição histórica e a homenagem recebida reflete, infelizmente, a negligência com que figuras nacionais são tratadas no imaginário regional.
Lições para hoje
A batalha contra a internacionalização da Amazônia é um lembrete constante da vulnerabilidade da região frente a interesses externos. Bernardes, ao rejeitar o projeto do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, mostrou que a soberania exige vigilância e ação decidida.
Sua advertência de que “os perigos que rondam o Brasil são enormes e ignorados por muitos” permanece atual, em um contexto em que o avanço tecnológico e os interesses globais voltam a colocar a Amazônia no centro das disputas geopolíticas.
Reconhecer a contribuição de Artur Bernardes é mais do que um tributo a um líder nacionalista. É um compromisso com a história e com a preservação de uma das regiões mais estratégicas e ricas do planeta. O exemplo do ex-presidente é um alerta para esclarecer e encorajar gerações a defenderem a Amazônia como um símbolo de soberania e identidade nacional, mais que um patrimônio natural.

Leia mais:
