O Natal deveria ser sinônimo de encontro, mas, para muitas famílias, ele acaba se tornando um período de ansiedade financeira, comparação social e culpa. Pais se sentem pressionados a entregar o “presente perfeito” e, diante das propagandas, acreditam que o valor do presente mede o amor oferecido. A psicologia mostra que isso não é verdade: o que marca a infância não é o preço, é o vínculo.

John Bowlby (1982), referência na Teoria do Apego, destaca que a segurança emocional nasce da responsividade e da presença afetiva, e não de objetos caros. Donald Winnicott (1971) reforça que a autoestima se constrói no gesto suficientemente bom do cuidador, e não na grandiosidade daquilo que se oferece. Em outras palavras, uma criança precisa mais de atenção verdadeira do que de embalagens sofisticadas.

Mesmo assim, dezembro costuma intensificar a ansiedade. Estudos sobre consumo mostram que muitos adultos compram movidos à comparação e ao receio de que seus filhos se sintam excluídos. Juliet Schor (2004) descreve esse fenômeno no consumo infantil, enquanto Allison Pugh (2009) chama esse movimento de economia emocional, em que pais tentam evitar que os filhos se sintam diferentes. Mas pertencimento não se compra, se constrói. Crianças aprendem desde cedo a diferenciar “todos têm” de “isso faz sentido para nós”. Quando pais ensinam, com constância, que o valor está na experiência e no cuidado, elas crescem com mais identidade, autonomia e segurança emocional.

Outro ponto essencial é o protagonismo infantil. Albert Bandura (1997) demonstrou que a autoeficácia, a sensação de ser capaz, aumenta quando a criança participa da escolha ou cria algo com intenção. Um cartão feito à mão, um pequeno presente escolhido por ela ou um gesto de generosidade fortalece autonomia e pertencimento.

E, claro, brinquedos e jogos continuam sendo parte importante da infância. O que muda é o olhar. A seguir, algumas sugestões por faixa etária que combinam diversão, estímulo cognitivo e regulação emocional.

1 a 3 anos: explorar o mundo

Blocos grandes de montar, brinquedos de encaixe, livros de pano e instrumentos simples reforçam vínculo, linguagem e curiosidade. A presença do adulto é o que transforma o brinquedo em experiência.

4 a 7 anos: imaginar, criar e aprender regras

Massinhas, kits de arte, fantasias, jogos de memória e quebra-cabeças simples ajudam a desenvolver atenção, criatividade e tolerância à frustração. Jogos cooperativos favorecem empatia e autocontrole.

8 a 12 anos: estratégia, resolução de problemas e autonomia

Xadrez, jogos de tabuleiro estratégicos, quebra-cabeças mais complexos, kits de ciência e brinquedos de construção trabalham planejamento, flexibilidade cognitiva e persistência. Jogos digitais criativos, especialmente os que envolvem construção, desafios e cooperação, também podem ser aliados quando usados com equilíbrio.

13 a 18 anos: identidade e expressão

Livros, materiais artísticos, diários, cursos de interesse, experiências culturais e jogos de estratégia, digitais ou de tabuleiro, dialogam com projetos de vida e expressão pessoal. Mais do que o objeto, vale sentir que alguém percebeu quem eles são.

No fim, o presente é apenas uma ferramenta. A memória afetiva nasce no afeto, na conversa e no tempo compartilhado. O Natal não exige perfeição, exige presença. Para uma criança ou adolescente, ser visto, considerado e amado é, e sempre será, o maior presente.

Ana Claudia Pinto Oliveira

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