Em mais um episódio de histeria política, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi às redes sociais comemorar aquilo que, na prática, é uma bomba-relógio contra o Brasil: o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Pior: Eduardo, em um espetáculo de submissão geopolítica, convocou seus seguidores no X (antigo Twitter) a agradecerem Trump pelo ataque econômico.
“Coloque o seu agradecimento ao Presidente Donald Trump abaixo e vamos rumo à lei Magnitsky!”, escreveu o deputado, que parece ter perdido completamente a noção de prioridades nacionais. Em sua cruzada delirante, Eduardo Bolsonaro defende sanções que, na prática, poderão desestabilizar ainda mais a economia do país que ele deveria proteger.
O que Eduardo e seus aliados fingem não entender é que esse tarifaço — comemorado pela ala radical bolsonarista como se fosse um troféu — já está sendo visto como um monumental tiro no pé da direita brasileira.
Entre as principais vítimas das tarifas estão justamente os gigantes do agronegócio, setor considerado a espinha dorsal da economia nacional e tradicionalmente bolsonarista. A notícia caiu como uma bomba entre produtores rurais, exportadores de carne, soja e minérios, que agora se veem traídos por aqueles que, até ontem, diziam defender o “Brasil que produz”.
O clima de revolta no agro é evidente. Líderes do setor, que sempre apoiaram Jair Bolsonaro e sua família, agora questionam abertamente o alinhamento cego de Eduardo e seus seguidores a Trump, mesmo diante de um ataque direto aos interesses brasileiros.
A ironia é que o tarifaço, se bem administrado, pode se tornar exatamente o “presente de ouro” que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguardava para virar o jogo político. Ao se apresentar como defensor dos interesses nacionais e porta-voz do agronegócio prejudicado, Lula tem em mãos a chance de recuperar a popularidade abalada nos últimos meses, posando como líder responsável frente ao radicalismo insensato da oposição.
Se o governo agir com habilidade, o tarifaço pode marcar o início de uma nova composição política entre Palácio do Planalto e setor produtivo — tudo graças a um erro estratégico grotesco do clã Bolsonaro.
Além dos danos econômicos, o episódio expõe o Brasil ao ridículo no cenário internacional. Ver um deputado brasileiro — filho do ex-presidente da República — pedindo agradecimentos a um presidente estrangeiro que impôs sanções comerciais ao país é algo inédito e vergonhoso, digno de repúdio suprapartidário.
Ao celebrar um ataque econômico contra o Brasil, Eduardo Bolsonaro não apenas atira no próprio pé, como arrasta consigo boa parte da direita nacional para o buraco. O tarifaço de Trump, longe de ser motivo de festa, representa uma ameaça concreta ao agronegócio, à indústria e ao consumidor brasileiro. E a comemoração bolsonarista, além de desastrosa, abre caminho para que Lula ressurja como defensor da soberania nacional.
Em tempos de inversão de papéis, a direita brasileira corre o risco de sair das urnas com um novo rótulo: o de inimiga da economia que sempre disse defender.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)
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