A Casa Branca apresentou nesta segunda-feira (29) um novo plano de cessar-fogo para Gaza, que inclui entre seus 20 pontos a criação de um comitê de transição governamental liderado pelo ex-presidente Donald Trump. A proposta foi anunciada durante uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após reunião privada entre os dois líderes.
O grupo Hamas afirmou que ainda não recebeu formalmente a proposta.
Durante o pronunciamento, Trump afirmou que o acordo de paz — já aceito por Israel — está “muito, muito próximo” de ser concluído. Ele destacou a colaboração com Netanyahu e o envolvimento de países árabes na construção do plano.
“Este é potencialmente um dos melhores dias da civilização”, declarou Trump, mencionando a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos como países que ajudaram a formular a proposta.
Segundo Trump, o Hamas está “diferente” após a morte de parte de sua liderança e pode aceitar os termos apresentados.
Netanyahu ameaça ação unilateral
Netanyahu reforçou que Israel concluirá o plano com ou sem o Hamas:
“Se o Hamas rejeitar seu plano, senhor presidente, ou se eles supostamente aceitarem e então basicamente fizerem de tudo para combatê-lo, então Israel terminará o trabalho sozinho. Isso poderá ser feito da maneira fácil, ou da mais difícil, mas será feito”, afirmou.
Ele também declarou que, em caso de acordo, Israel retirará suas tropas de Gaza, mas manterá forças no perímetro de segurança “no futuro próximo”.
Batizado de “Plano abrangente para acabar com o conflito de Gaza”, o documento foi divulgado minutos após a coletiva de imprensa e prevê:
- Libertação dos 48 reféns israelenses em até 72 horas, vivos ou mortos
- Retirada do Hamas do controle da Faixa de Gaza
- Proibição de deslocamentos forçados da população palestina
- Anistia a membros do Hamas que aceitarem a coexistência com Israel
- Passagem segura para membros que desejarem deixar Gaza
- Garantia de que Israel não atacará novamente o Catar
- Criação de um comitê de transição sob liderança de Trump, até a passagem do controle à Autoridade Nacional Palestina (ANP)
Segundo Trump, ele assumiu a liderança do “Conselho de Paz” a pedido de líderes árabes e israelenses:
“Acredite, estou muito ocupado”, disse Trump, justificando que não foi sua decisão pessoal ocupar a função.
Hamas diz que não participou da negociação
Apesar da divulgação pública do plano, o Hamas afirmou que não foi consultado. Em entrevista à televisão, o alto funcionário Taher al-Nounou declarou:
“Em relação a esse plano, ninguém nos contatou, nem participamos das negociações em torno dele”, disse, acrescentando que o grupo não aceitaria a desmilitarização, exigida por Israel.
O plano surge em meio a tensões diplomáticas. Em 9 de setembro, Israel bombardeou o Catar em uma tentativa de atingir autoridades do Hamas, o que gerou críticas dos Estados Unidos.
Segundo fontes diplomáticas, Netanyahu pediu desculpas ao primeiro-ministro do Catar durante um telefonema realizado na Casa Branca. Ele lamentou a morte de um segurança catari e a violação da soberania do país. A Casa Branca informou que Israel não realizará novos ataques ao Catar.
No entanto, ministros da ala radical do governo israelense criticaram o pedido de desculpas. Para Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, o ataque foi “importante, correto e moral”.
Europa reconhece Estado palestino e isola Israel
A proposta de cessar-fogo foi anunciada após uma semana de crescente isolamento diplomático de Israel, com países como Reino Unido e França anunciando apoio ao reconhecimento de um Estado palestino, contrariando a posição israelense.
Com a guerra se arrastando por quase dois anos, cresce a pressão por uma solução política. Críticos acusam Israel de manter uma abordagem militar dura, com pouco espaço para negociação.
Netanyahu declarou, em entrevista à Fox News, que espera implementar a proposta de Trump:
“Estamos trabalhando nisso; ainda não foi finalizado”, disse ele, acrescentando que Israel pode conceder anistia a membros do Hamas caso cessem os ataques e libertem os reféns.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou no sequestro de centenas, deu início à nova escalada do conflito. Em resposta, a ofensiva israelense em Gaza já causou mais de 65 mil mortes, incluindo milhares de crianças, segundo autoridades de saúde locais. O número não diferencia civis de combatentes.
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