Quando um menino ouve “engole o choro”, aprende na prática quais emoções pode ou não mostrar. Revisões meta-analíticas indicam diferenças na expressão emocional desde a infância, moduladas pelo contexto e por quem observa (pais, professores), o que impacta a regulação emocional e a disposição de falar do que dói na adolescência e na vida adulta (Chaplin & Aldao, 2013).
A teoria das masculinidades hegemônicas ajuda a entender por que tantos meninos internalizam roteiros de invulnerabilidade: em muitos contextos, “ser homem” fica associado a autocontrole rígido, performance e silenciamento afetivo, um enquadramento cultural (não biológico) que pode ser atualizado sem “ameaçar” identidades (Connell & Messerschmidt, 2005).
Esse processo pode gerar conflitos de papéis de gênero: “preciso ser invulnerável, mas estou sofrendo”, com custos para o bem-estar e as relações (O’Neil, 2015). Em paralelo, a hipótese da alexitimia masculina normativa descreve limitações socialmente aprendidas no vocabulário afetivo de muitos homens (Levant et al., 2006). Tais padrões ajudam a explicar por que alguns homens postergam ou evitam pedir ajuda, especialmente em ambientes pouco acolhedores (Addis & Mahalik, 2003).
Esse conflito não é uma ideia abstrata: dá para ver e medir. Pesquisas usam uma escala chamada CMNI para observar hábitos como “aguentar tudo sozinho”, “não falar de sentimentos” e “viver só para o trabalho” (Mahalik et al., 2003). Quando esses padrões viram regra rígida, aumentam comportamentos de risco e a fuga do cuidado (não ir ao médico/psicólogo), e a saúde piora (Courtenay, 2000; Addis & Mahalik, 2003).
Por isso, parte do tratamento é tornar o acesso fácil: falar de forma direta, horários que cabem na rotina, acolher sem julgamento e incluir saúde emocional nos postos de saúde/UBS, caminho coerente com o Novembro Azul e com a Política Nacional de Saúde do Homem (Ministério da Saúde, 2009).
E há um dado importante para a pauta do mês: vínculos sociais robustos protegem a saúde. Uma meta-análise com mais de 300 mil participantes encontrou uma chance ~50% maior de sobrevivência entre pessoas com relacionamentos sociais mais fortes, efeito comparável a fatores de risco clássicos (Holt-Lunstad et al., 2010). Logo, cultivar conexões (amigos, família, grupos, comunidade) e falar das emoções é tão “Novembro Azul” quanto fazer exames.
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