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Acidentes de avião

Em semana de queda de avião na China, caso levanta reflexão sobre saúde mental de pilotos

De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), apenas 25% dos acidentes aéreos no Brasil resultaram em mortes

Manaus (AM) – As viagens de avião são motivos de pânico para algumas pessoas, em razão de acidentes trágicos que ganharam repercussão ao redor do mundo. Nesta semana, um Boeing que transportava cerca de 132 pessoas caiu no Sul da China, no território montanhoso de Guangxi. No local do acidente, equipes de bombeiros, médicos, soldados e voluntários prosseguem com as operações em busca das vítimas e dos destroços, mas ninguém chegou a ser encontrado com vida.

Conforme o Flightradar24, um sistema que disponibiliza a visualização de aeronaves em todo mundo em tempo real, houve uma descida vertical da aeronave de 31.100 pés por minuto.

Os acidentes, porém, são mínimos. De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), apenas 25% dos acidentes aéreos no Brasil resultaram em mortes. Isso porque o avião precisa passar por um processo cuidadoso e organizado para que decole.

Mas como ficam os pilotos e demais profissionais da tripulação com esse ‘risco’? Como lidar com a responsabilidade de sobrevoar com mais de uma centena de pessoas, na maioria das vezes?

A rotina de um piloto e o cuidado com a saúde mental

A saúde mental dos pilotos é avaliada constantemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Ao longo dos 15 anos de carreira, o piloto de avião Lucas Souza* já passou por vários treinamentos e avalições psicológicas. Por outro lado, já conheceu colegas que tiveram depressão e ansiedade por conta das demandas do trabalho.

“Existem canais de comunicação com as empresas para reportar esses tipos de problemas e pedir apoio caso necessite de algum tratamento e atenção especial. Ou se for verificado em algum desses exames que indique essa pré-disposição”,

explica o piloto.

De acordo com Lucas, os pilotos são treinados para lidar com emergências e que em toda sua carreira nunca precisou lidar com problemas de risco de vida.

“A profissão é muito bonita, envolve amor, dedicação e resiliência. Todos que voam, amam o que fazem, mesmo que em grande maioria não sejam remunerados justamente para a atividade que exercem”,

alerta o profissional.

Como funciona a jornada de trabalho?

A exaustão, pelo menos no trânsito, é a causa de muitos acidentes. Portanto, nos céus, a atenção ao cansaço também é presente. Lucas, como piloto de avião, possui escalas mensais. Logo, ele saberá se estará em casa ou não apenas durante os próximos 30 dias. Por mês, as horas de voo podem chegar até a 80 horas.

“As escalas de trabalho são baseadas nesse controle para evitar que os pilotos trabalhem cansados. Se, mesmo assim, o piloto se sentir fadigado, tem liberdade para avisar a empresa e pedir para sair do voo”,

ressalta.

Controle de escalas de pilotos visa atenção com o cansaço. Foto: Reprodução

Os desafios que envolvem a profissão são vários, desde a vistoria de documentos até a atenção aos passageiros e cargas que vão ser transportados. “Quando começamos a nos preparar para a descida, para a chegada ou para o pouso, é quando a carga de trabalho novamente sobe, aumentando nosso nível de atenção”, destaca Lucas.

Para o piloto, o tempo de trabalho não é extenso, podendo chegar ao tempo limite de 12 horas. Porém, há momentos que o piloto de aeronave precisa se apresentar para algum voo durante a madrugada, o que pode prejudicar o sono.

“Muitas vezes, nos apresentamos para o voo às 2h da manhã ou 3h da manhã. Porém, existe um limite legal para apresentações e trabalho de madrugada”, conta, acrescentando em relação aos riscos de acidentes de avião.

“O avião é o segundo meio de transporte mais seguro do mundo, só perde para o elevador”,

explicando que isso acontece por causa do nível de exigências da ANAC, que regulamenta o setor.

De acordo com Lucas, o nível de gestão de segurança das linhas aéreas brasileiras se igualam ao nível global da indústria.

Início na aviação

Com 15 anos de experiência como piloto de avião, Lucas Souza sempre sonhou em trabalhar na profissão. Aos 18 anos iniciou os estudos teóricos e aos 19 anos fez seu primeiro voo de avião.

Após um longo período de dedicação e aprendizado, conseguiu alcançar o objetivo de trabalhar como piloto de grandes aeronaves, algo que depende de outros fatores, como a economia do país, o estado econômico das empresas de aviação e a demanda de oferta no mercado de trabalho.

“Esse cenário sempre se repete no Brasil como um ciclo, isso pode ser o timming para se colocar em uma grande empresa, caso não esteja totalmente capacitado pode ser que não consiga participar de uma seleção, nesse caso o próximo ciclo pode demorar de 3 a 5 anos”,

conta Lucas.

Acidentes no Amazonas e no Brasil

Entre 2010 e 2019, o Amazonas registrou cerca de 47 acidentes de avião. O ano que mais registrou acidentes de avião no Amazonas foi 2019, com 7 casos. O menor foi em 2010, com apenas um caso.

Já nos últimos dez anos, ocorreram 1.825 acidentes aéreos no Brasil. Porém, 472 deles foram fatais, com 874 mortes. Além disso, os acidentes de voos em aviões particulares representam cerca de 40,2% dos casos

Apesar de muitas pessoas sentirem temor e medo de viagens de avião, por causa dos acidentes fatais, os dados do órgão indicam que apenas 25% dos acidentes de avião resultaram em mortes.

O Cenipa aponta que que os últimos anos registraram uma queda no número de acidentes de avião no Brasil, que foi interrompido nos anos de 2017 e 2018, período em que houve um aumento.

Casos marcantes no AM

Alguns acidentes aéreos marcaram o estado do Amazonas, como o “Caso Legacy” que resultou na morte de 154 pessoas, de acordo com as informações do Ministério Público Federal do Mato Grosso (MPF-MG). O caso aconteceu em 29 de setembro de 2006, quando um avião modelo Boeing 737-800, da Gol, saiu da cidade de Manaus em direção a Brasília.  

No percurso, por volta das 20h, uma outra aeronave, um Jato Legacy, controlada por dois norte-americanos, Joseph Lepore e Jean Paul, colidiu com o Boeing. A ponta esquerda do jato bateu no avião e, como consequência, desestabilizou a aeronave, que acabou caindo em uma área de floresta.

Acidente completa 16 anos em 2022. Foto: Reprodução

O MPF pediu a condenação dos dois pilotos e de mais quatro controladores de avião por ações de risco contra a segurança do transporte aéreo. Apenas um dos controladores, o sargento Jomarcelo Fernandes dos Santos, foi condenado por homicídio culposo. Os dois pilotos também foram condenados, mas até hoje não foram presos.

Outro acidente trágico que aconteceu no Amazonas foi a do Manaus Aerotáxi que saiu do município de Coari, a 363 quilômetros da capital, com destino a Manaus no dia 7 de fevereiro de 2009.

A 20 minutos da chegada, o piloto entrou em contato com a torre de controle para retornar à Coari. Porém, o avião caiu a 500 metros do aeroporto de Manacapuru, próximo a ilha de Monte Cristo, na Comunidade de Santo Antônio, por volta das 16h, horário de Brasília.

Conforme as informações da Defesa Civil, a causa do acidente foi uma pane do motor. Ao todo, 24 pessoas morreram e 4 pessoas foram resgatadas com vida.

*nome fictício utilizado para proteção de identidade da fonte

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