A repercussão da morte de três meninos no Morro do Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, provocou mudanças na hierarquia do crime. Depois que as crianças foram sequestradas e executadas por terem furtado uma gaiola com um passarinho, em 2020, a cúpula da maior facção do Rio de Janeiro considerou que era necessário um controle presencial e mais rígido sobre bandidos de algumas favelas. Para isso, determinou o retorno de alguns de seus integrantes que estavam no Paraguai, de acordo com informações levantadas pelas Polícias Civil e Militar.
Entre os traficantes que, mesmo no país vizinho, vinham comandando comunidades da Zona Norte carioca estão Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, de 42 anos, da Favela Parque União, em Bonsucesso; Anderson Santanna da Silva, o Gão, da mesma idade, do Morro Faz Quem Quer, em Rocha Miranda; e Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, de 46, do Complexo do Alemão. Juntos, eles somam 19 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio.
O trio respondeu a processos por tráfico de drogas, homicídios e tortura. Segundo o Disque Denúncia (2253-1177), a ordem para o retorno de Alvarenga, Gão e Pezão partiu de um chefe da facção que cumpre pena num presídio federal e de um bandido que saiu do sistema penitenciário no ano passado.
“Eles não gostaram do desfecho do caso dos meninos no Morro do Castelar. Avaliaram que aquilo poderia ter sido evitado, se houvesse um pulso forte na comunidade. Além disso, estão preocupados com os repasses do dinheiro obtido com a venda de drogas com a conquista de algumas áreas. O retorno de alguns homens de confiança para controle presencialmente dos negócios é visto como uma solução”, afirmou um policial que investiga a facção criminosa.
Houve, em 2022, algumas operações para a captura de Pezão, Gão e Alvarenga. Em julho, a PM deixou 18 mortos no Alemão, durante uma incursão que tinha como principal objetivo a prisão do primeiro. Policiais também desconfiavam que o segundo estava escondido no complexo de favelas.
Em 25 de novembro, a Polícia Militar esteve na Maré em busca de Alvarenga. Houve confronto e cinco pessoas morreram, inclusive Mário Silva Ribeiro Leite, o Mário Bigode, braço direito do chefe do tráfico. Oito carros roubados foram roubados e três toneladas de maconha, apreendidas.
Perfis discretos
Com mais de 15 anos de atuação no crime organizado, Alvarenga, que tem oito mandados de prisão, nunca esteve na cadeia. A polícia sequer tem uma imagem atual dele. A única foto que consta do sistema de informações da Secretaria de Segurança é a mesma que está em um cartaz do Disque Denúncia. Trata-se de um retrato usado por ele para tirar a carteira de identidade.
Segundo investigadores, Alvarenga é muito discreto, não usa redes sociais e mobiliza cerca de 30 homens armados com fuzis durante seus deslocamentos.
Contra Pezão, há oito mandados de prisão. Por sua vez, Gão soma três. Eles também não costumam chamar atenção, porém já ordenaram ou participaram de crimes que chocaram muitos moradores de comunidades.
*Com informações do Extra
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