Em audiência de custódia, o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, afirmou, após ser preso no dia 14 de janeiro, que nunca contestou a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Torres foi preso após a depredação das sedes dos três Poderes por bolsonaristas. Ele era, na ocasião, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e estava em viagem aos Estados Unidos.
Na audiência de custódia, o preso é ouvido por um juiz, que avalia se houve eventuais ilegalidades na prisão. Ela foi conduzida pelo juiz Airton Vieira, auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Torres, na ocasião, disse que sempre fez o trabalho com profissionalismo, que não era filiado a partido e ocupou posição política em razão do resultado do seu trabalho.
“Essa acusação me pegou muito de surpresa, a audiência de custódia não é o local de falar nada sobre isso, mas quero dizer que não tenho nada a ver com os fatos, isso foi um tiro de canhão no meu peito, eu estava de férias, umas férias sonhadas por mim e pela minha família”, afirmou.
Ele foi o primeiro a ocupar o cargo de ministro da Justiça a ser preso desde a redemocratização e o primeiro integrante do governo Bolsonaro preso em consequência dos atos antidemocráticos.
Na audiência, Torres afirmou ainda que chegou ao Ministério da Justiça “em um momento delicado” na relação entre os Poderes e que, à época, visitou todos os ministros do STF.
“Eu estava nos Estados Unidos e tive essa notícia [da depredação], tive que vir rápido depois da notícia da minha prisão e da busca e apreensão na minha casa, comprei uma passagem caríssima, tirada do meu salário. Não tenho outra renda, e preciso de oportunidade para falar isso, para me defender, para falar que não dei causa aos fatos”, afirmou o ex-ministro.
“Do jeito que eu saí, o que eu deixei assinado, eu deixei tranquilo, porque nem se caísse uma bomba em Brasília teria ocorrido o que ocorreu”, disse.
“Desculpe o desabafo, mas sendo acusado de terrorismo, golpe de Estado?! Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?! Eu não sei… Essa guerra que se criou no país, essa confusão entre os Poderes, essa guerra ideológica, eu não pertenço a isso, eu sou um cidadão equilibrado e essa conta eu não devo”, acrescentou.
Anderson Torres foi nomeado ministro por Bolsonaro em março de 2021, com a saída do então titular da pasta, André Mendonça, que posteriormente foi nomeado para o STF. Antes, ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
O ex-ministro havia reassumido o comando da secretaria do DF em 2 de janeiro e viajou de férias cinco dias depois. Ele não estava no Brasil no dia 8, quando bolsonaristas atacaram os prédios do STF, Congresso e Palácio do Planalto.
O então secretário foi exonerado do cargo por Ibaneis Rocha (MDB) na mesma data, horas antes de o emedebista ser afastado do governo do Distrito Federal por ordem do STF.
No último dia 12, a Folha revelou que, durante a operação de busca e apreensão na residência de Torres, a Polícia Federal encontrou na residência de Torres uma minuta (proposta) de decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Alexandre de Moraes determinou que a Polícia Federal colha o depoimento de Torres no dia 2 de fevereiro. A oitiva deverá ocorrer às 10h30.
Na decisão divulgada nesta segunda (23), Moraes afirmou que o prazo garantirá à defesa de Torres o tempo necessário para análise dos autos antes do interrogatório.
Em outra decisão, o ministro determinou que uma cópia da minuta seja enviada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para compor uma ação contra a chapa de Bolsonaro na eleição do ano passado por suspeita de abuso de poder político na apresentação em que repetiu teorias da conspiração a embaixadores.
O ex-secretário é investigado em inquérito que tramita no Supremo para apurar a responsabilidade pelas falhas na segurança local que permitam a depredação das sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro.
Na primeira tentativa de ouvi-lo, na quarta (18), Torres ficou em silêncio. Por ordem de Moraes, o ex-secretário está preso em uma unidade da Polícia Militar do DF.
* Com informações do site Folha de São Paulo
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