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Legado

Amazonino Mendes: o nome que marcou a política amazonense

Ao longo dos 40 anos de atuação na gestão pública, ‘Negão’, como era popularmente chamado, deixou um legado marcado por projetos e obras importantes no estado e na capital amazonense

Foto: Acervo Manaus de Antigamente

Manaus (AM) – Um dos nomes mais emblemáticos da história do Amazonas, o ex-governador Amazonino Mendes, morreu neste domingo (12). Ao longo dos 40 anos de atuação na gestão pública, ‘Negão’, como era popularmente chamado, deixou um legado marcado por projetos e obras importantes em todo o estado. Ao Em Tempo, especialistas e políticos falaram sobre a trajetória do notável amazonense.

Quatro vezes governador do Amazonas, três mandatos como prefeito de Manaus e eleito uma vez como senador: não há outra figura política com uma trajetória similar à de Amazonino.

Gênese da redemocratização

Conforme o cientista político Carlos Santiago, depois da redemocratização do país, o ex-governador Amazonino Mendes foi a maior liderança política do Amazonas, ao criar um estilo próprio de fazer política, e de administrar a máquina pública. Também foi responsável por trazer nomes importantes da política.

“Nas suas administrações foram implantadas e construídas grandes obras que estão no estado, como a Universidade do Estado do Amazonas, o Bumbódromo, o Hospital 28 de agosto, além de várias políticas sociais como a distribuição de dinheiro para as pessoas carentes, distribuição de leite e também projetos e programas ligados à mulher”,

disse.

Definido pelo cientista político Helso Ribeiro como “gênese da redemocratização”, Amazonino Mendes viveu o período da ditadura militar, sendo um dos personagens que se rebelou contra o sistema.  Assim como muitos que se opuseram ao governo ditatorial, Amazonino foi preso, juntamente com Arlindo Porto, o primeiro deputado estadual do Amazonas a perder o mandato pelo regime.

“Ele começa lutando contra a ditadura, com o discurso mais à esquerda. Depois passa por vários partidos, sempre sendo um protagonista, quase que o dono do partido, como é muito comum nas lideranças políticas daqui do país”,

explicou.

Líder do movimento estudantil durante a ditadura militar, Amazonino Mendes era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). “Ao lado dele, a sua companheira de vida, a dona Tarcila, presidiu a União Estadual dos Estudantes secundaristas do Amazonas”, disse o historiador Yann Evanovick.

A aproximação de Amazonino Mendes com o ex-governador Gilberto Mestrinho veio pela intermediação de Tomé Mestrinho, que apresentou Mendes a ao seu pai. Ao se consolidar como um forte nome da política, também gerou uma geração de políticos. “Eu diria que Amazonino fez escola. Pelas mãos dele saíram Eduardo Braga, José Melo, Omar Aziz, Pauderney Avelino, Bosco Saraiva entro outros”, disse Helso Ribeiro.

Foto: Acervo Manaus de Antigamente

Outro ponto ressaltado por Carlos Santiago foi o olhar da gestão política de Amazonino Mendes centrado na população do interior, a qual foi colocada na agenda política, e destacou que o legado é “enorme e difícil de ser superado até seus adversários políticos que sabem da importância de Amazonino Mendes para o Amazonas”.

“Podemos até considerar que Amazonino Mendes foi a maior liderança política do Amazonas de todos os tempos. Pelas realizações, pelas vitórias eleitorais, por construir toda uma geração de políticos e por formular e implantar um jeito singular de fazer gestão pública e política, a qual coloca Amazonino Mendes como um dos maiores políticos do Amazonas de todos os tempos”,

afirmou.

Trajetória, projetos e obras

O amazonense do município de Eirunepé, a a 1.159 quilômetros de Manaus, nasceu no dia 16 de novembro de 1939. Em seguida, veio para Manaus, onde passou a estudar no colégio tradicional Dom Pedro, local que conviveu e fez amizades com figuras importantes do Amazonas, como o ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa (PSB).

Após completar os estudos no 2º grau, atual ensino médio, estudou na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde se formou em direito. Foi na capital que construiu família. Casou com Tarcila Prado de Negreiros Mendes, com quem teve três filhos: Armando Mendes, Lívia Mendes e Cristina Mendes.

Em abril de 1983, Amazonino Mendes deu início a sua carreira na política institucional, ao assumir o mandato de prefeito de Manaus. Conseguiu se reeleger para o cargo em 1993, e em 2009. Em 1991 foi eleito pelo Amazonas como senador.

Foto: Acervo Manaus de Antigamente

Já no Governo do Amazonas, assumiu quatro mandatos: o primeiro foi no dia 15 de março de 1987 até 1990. Poucos anos depois, foi eleito novamente em 1995 e pela terceira vez 1998. Seu último e quarto mandato foi em 2017, quando derrotou Eduardo Braga (MDB).  

Com a saúde debilitada, Amazonino também disputou as eleições 2022 para o seu quinto mandato no Governo do Amazonas. No entanto, não conseguiu se eleger.

Um dos maiores frutos da gestão de Amazonino foi a criação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), instituída em 2001. Hoje, ela oferece 43 cursos em 57 municípios.

Também entregou os complexos viários Luiz Augusto Veiga Soares, localizado no bairro São José, o Gilberto Mestrinho, no Coroado, e Antônio Simões, no bairro Paraíba.

Amazonino implementou em sua gestão as policlínicas João dos Santos Braga e Danilo Corrêa, o Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) Dr. Gilson Moreira, e a Farmácia Gratuita e laboratório para exames clínicos.

A Vila Olímpica da capital amazonense também veio em sua gestão. Na época da inauguração, era a mais moderna da América do Sul.

Despedidas

Diversas autoridades políticas se manifestaram após a confirmação da morte de Amazonino Mendes neste domingo (12). Ele estava internado desde o dia 25 de dezembro. O ex-governador deixa três filhos.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), lamentou a morte de Amazonino, e decretou estado de luto por sete dias. Nas redes sociais afirmou que Mendes “nasceu predestinado a amar esta terra, trazendo o Amazonas no nome e no coração”.

“Eu devo muito do que hoje sou ao ex-governador Amazonino Mendes. Entrei para a política fazendo críticas e buscando, em grande parte das vezes, sempre ser um contraponto ao que ele e seu grupo político foram e representaram para o nosso Estado. Mas uma coisa é inegável: Amazonino foi um dos maiores líderes políticos da história do Amazonas”,

afirmou Wilson Lima.

O governador do Pará, Helder Barbalho, usou as redes sociais para prestar solidariedade aos familiares e amigos de Amazonino Mendes. Afirmou que o político amazonense “deixa um grande legado”.

“Com grande pesar que recebo hoje, a notícia do falecimento do amigo Amazonino Mendes, ex-governador do Amazonas e que deixa um grande legado. Meus sentimentos aos familiares e amigos”,

publicou nas redes sociais.

Nas redes sociais, o senador Eduardo Braga (MDB) descreveu Amazonino Mendes como uma referência para as gerações de político, e afirmou que aprendeu muito com ele, mesmo em lados opostos, “mas sempre primando pelo respeito”.

“Suas vitórias, suas derrotas, seus acertos e erros são fontes inesgotáveis de inspiração. Sua trajetória permanecerá para sempre como uma bússola para quem alimenta o genuíno propósito de servir a população, especialmente a menos favorecida, a que habita as periferias das metrópoles e os rincões mais distantes da Amazônia”,

publicou.

Em nota, o senador Omar Aziz (PSD) ressaltou que o respeito e admiração foram marcas da sua relação com Amazonino.   

“Conheci o Amazonino nos anos 80. Eu no movimento estudantil, ele prefeito de Manaus nomeado pelo Gilberto Mestrinho. Desde então, já fomos aliados e já estivemos em lados opostos, como determina a democracia”, escreveu.

O presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM), Caio André (PSC), disse, em nota à imprensa, que o país se despende de uma das maiores figuras políticas que já teve.

“Amazonino Mendes foi um dos maiores estadistas que o povo amazonense já conheceu. Um homem honrado, justo, grande defensor da nossa população e dos direitos das famílias de Manaus e de todo o estado. Todos nós, homens públicos, um dia nos inspiramos em Amazonino e temos muito a agradecê-lo”, ressaltou Caio André.

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Comentários:

  1. A esposa do Doutor Amazonino chamava-se TARCILA PRADO DE NEGREIROS MENDES, e não Dona Francisca, que era a Mãe do nosso eterno Governador.
    A primeira fotografia é um registro de minha primeira posse na Casa Civil do Governo do Amazonas, tendo eu o privilégio e a honra de servir ao Doutor Amazonino em seus dois mandatos na Prefeitura de Manaus e em seus quatro mandatos de Governador. Fazíamos aniversário na mesma data – 16 de novembro – e de Sua Excelência só guardo boas lembranças junto com minha Gratidão por me haver conferido lugar de destaque no Serviço Público Amazonense. Em sua partida para um Prisma de Vida Mais Amena, só posso afirmar: MISSÃO CUMPRIDA !
    F

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