Esse é um tema polêmico, e como sempre, “endemonizam” os gatos. Então, minha função como médica veterinária é alertar sobre uma zoonose em voga e desmentir os absurdos contados pela grande mídia.
Para quem não sabe, a esporotricose é uma infecção fúngica que pode afetar desde a pele até os órgãos internos, em casos mais raros. Ela é causada pelo fungo Sporothrix., encontrado no meio ambiente, especialmente em solos ricos em matéria orgânica em decomposição, e antigamente era conhecida como “Doença do Jardineiro”, pois esses trabalhadores lidavam diretamente com esse tipo de ambiente. Obviamente, então, qualquer pessoa ou animais que tenham contato com um local contaminado poderá contrair a doença.
Embora seja relativamente rara em humanos, e até pouco tempo, rara em Manaus, essa doença merece atenção devido à sua natureza persistente e à crescente incidência em certas áreas da cidade.
É justo dizer que os principais hospedeiros do fungo são gatos de vida livre, pois esses animais são, por instinto, exploradores, e demarcam seu território através da arranhadura no ambiente e escavação do solo. Dessa forma, fica fácil entender que, ao arranhar ou escavar um ambiente contaminado, o gato vai carregar os fungos em suas unhas, podendo contrair a doença ou transmiti-la a outros seres vivos por meio, também, da arranhadura. Por isso, podemos ver que a maioria dos gatos doentes são aqueles não domiciliados ou os semi-domiciliados, infelizmente.
Saber a principal via de transmissão da esporotricose é importante para prevenção. Então, o contato direto com os fungos é a forma mais fácil de contaminação, geralmente ocorre por ferimentos que entram em contato com o fungo no solo. Em gatos, se dá por brigas com outros gatos, ferimentos por fômites, e autoferimento.
Os sintomas em humanos podem variar dependendo da forma da doença. A forma cutânea, que é a mais comum, se manifesta como lesões na pele, que podem evoluir para úlceras. Pode haver inchaço dos gânglios linfáticos próximos à área afetada. A forma pulmonar é menos comum e ocorre quando as esporotrixas inaladas afetam os pulmões. Os sintomas pulmonares incluem tosse, falta de ar e dor torácica. Em gatos, os sintomas da esporotricose podem incluir lesões cutâneas, frequentemente nas patas e no rosto, inchaço dos gânglios linfáticos, febre, perda de peso, letargia e dificuldade para comer devido à dor.
Além disso, os gatos podem se tornar portadores assintomáticos do fungo, o que dificulta a detecção.
O diagnóstico da doença envolve exames clínicos, cultura do fungo, testes sorológicos e biópsia das lesões cutâneas. O tratamento em ambos os casos geralmente envolve o uso de antifúngicos, como itraconazol ou cetoconazol, administrados por via oral. O tratamento pode ser longo e requer acompanhamento médico ou veterinário regular.
Se você tem gato, o mantenha dentro de casa ou em áreas controladas para evitar o contato com o solo contaminado. Se estiver tratando um gato doente, use luvas ao manuseá-lo.
A prevenção e o controle são essenciais para evitar a disseminação da doença. A colaboração entre médicos e veterinários é fundamental para abordar eficazmente essa infecção fúngica e proteger a saúde de todos os envolvidos.
Então, se existe um vilão nessa história, podemos culpar todos os que deveriam ser responsáveis pela saúde e bem-estar dos animais, incluindo tutores que deixam seus gatos soltos e não castrados, a população que não pressiona o Estado em busca de políticas públicas mais sólidas e rígidas voltadas para controle populacional de animais, e a máquina em si, que negligência a falta de controle sobre essas e outras doenças que são zoonoses, bem como não provém de forma constante mutirões de castração, além de políticas que exijam a responsabilidade sobre a tutela dos animais.
E o gato? Ele é só mais uma vítima, igual a todos nós.
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