No dia 20 de novembro celebramos o Dia da Consciência Negra no Brasil, uma data que homenageia a resistência e a luta do povo negro contra a escravidão e o racismo. Neste dia, também lembra das lutas e desafios enfrentados até hoje pelos negros, como as dificuldades de aceitação e inclusão na sociedade. E se além da cor da pele, tiverem algum tipo de deficiência, o preconceito que eles sofrem é ainda maior.
“Ser negro e PcD no Brasil é enfrentar uma dupla discriminação, que se reflete em desigualdades de acesso à educação, saúde, trabalho, cultura e direitos humanos. Segundo o IBGE, dos 45,6 milhões de brasileiros que têm algum tipo de deficiência, 23,8% são negros e 23,6% são pardos. Esses grupos são os que mais sofrem com a pobreza, a violência e a exclusão social”,
ressalta o Defensor Público Federal André Naves, que é especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social.
Naves aponta que, para mudar essa realidade, é preciso promover políticas públicas que avancem nas práticas inclusivas e de acessibilidade de negros PcDs em todos os espaços da sociedade: escola, trabalho, cultura, espaços de lazer, entre outros.
Algumas dessas políticas são: a reserva de vagas em concursos públicos e no ensino superior; a oferta de bolsas de estudo e financiamento estudantil; a criação de programas de capacitação profissional e geração de renda; a implantação de equipamentos e serviços adaptados às necessidades específicas de cada deficiência; e o fortalecimento de organizações sociais que defendem os direitos dessa população.
“É preciso combater cada vez mais a discriminação, valorizando a diversidade, a cultura afro-brasileira e dando voz a essa imensa parcela da população. Lembrando que 56,1% dos brasileiros são negros, de acordo com o IBGE. O Dia da Consciência Negra nos oferece, portanto, uma grande oportunidade para nos engajarmos na construção de um país mais justo e igualitário para todos”,
reforça André Naves.
A história de Maria Alexandra: mulher negra com paralisia cerebral
Exemplo de preconceito em dobro é o vivido por Maria Alexandra Giorgio Natali, de 40 anos, que tem paralisia cerebral – com idade mental de 5 anos. Ela é filha adotiva da jornalista Nydia Giorgio Natali, de 69 anos, ambas moradoras de Jacareí, no Vale do Paraíba (SP).
Nydia lembra que viu Maria Alexandra pela primeira vez no dia 21 de julho de 1983.
“Foi quando aconteceu a primeira greve geral no país durante a ditadura militar. Eu, repórter, passei a noite toda cobrindo a greve. Exausta, fui deitar às 6h da manhã, mas logo em seguida o telefone tocou. Era do posto do INPS (antes do SUS). A coordenadora pedia para eu ir até lá fazer uma reportagem sobre um bebê de seis meses que havia sido abandonado no local. Eu fui e me apaixonei por aquele bebê imediatamente”,
conta.
De acordo com Nydia, o preconceito começou logo, em sua própria casa. Sua tia chamava Alexandra de negrinha e não queria que a menina chegasse perto dela.
“Foi muito difícil. Minha menina só andou com quase 5 anos. Na época não existia inclusão escolar, mas eu consegui que ela fosse matriculada no pré-primário (hoje pré-escola), com crianças da idade dela. A escola era particular porque nenhuma escola pública aceitava crianças com deficiência. Além disso, havia também o preconceito por ela ser preta. Recordo que dois meninos saíram da escola porque os pais não aceitaram minha filha estudando com eles”,
relembra.
Desde os sete anos de idade, Maria Alexandra frequenta uma escola especial filiada à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), a JAM Jacareí. Lá, ela participa até hoje de atividades cotidianas, como plantar e cozinhar, além de jogar capoeira.
“Maria Alexandra nunca aprendeu a ler e escrever, mas vive com caderno e lápis na mão fingindo que escreve. Na realidade, ela nunca sentiu o preconceito diretamente e é feliz. Sempre fiz de tudo para que minha filha não soubesse o que é preconceito de verdade, apesar de lidarmos com isso diariamente”,
ressaltou Nydia.
*Com informações da assessoria
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