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Desenvolvimento sustentável

Equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade marca futuro da Amazônia

Ambientalistas afirmam que não há possibilidade de progresso sem priorizar o meio ambiente

Manaus (AM) – O retorno da pauta da BR-319 ao debate político, após a participação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), na CPI das ONGs, na última segunda-feira (27), trouxe à tona a relação do meio ambiente com o desenvolvimento do Amazonas, a partir do posicionamento dos parlamentares do Estado. Não somente a questão da rodovia, as iniciativas de estabelecer a extração dos recursos naturais, como o petróleo na Foz do Amazonas, também sinalizam para um futuro incerto de um dos principais ecossistemas do mundo, caso não haja o manejo sustentável.

“Não existe desenvolvimento pleno sem considerarmos justiça social e sustentabilidade ambiental”,

afirmou o diretor da Associação para Conservação da Vida Silvestre (WCS-AM), Carlos Durigan. O ambientalista destacou também que as ações predatórias estão ocasionando o colapso do patrimônio natural, sendo necessárias soluções sustentáveis.

A fala de Carlos Durigan condiz com o posicionamento dos amazonenses ouvidos pela reportagem do Em Tempo, a respeito da urgência da promoção do meio ambiente como a engrenagem fundamental para o desenvolvimento do Amazonas, em especial, ao levar em consideração a posição geográfica do estado situada em meio a floresta Amazônica.

“O meio ambiente não é mais percebido como um empecilho, como nas visões clássicas, na verdade, é um vetor para o desenvolvimento, devido as grandes capacidades que a Amazônia tem por causa da reserva de sua biodiversidade”, apontou o estudante Elly Romão.

O equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico foi a principal maneira de lidar com o impasse, de acordo com os entrevistados.

“Existem hoje muitos meios de fazer com que as duas coisas andem juntas, então você pode, ao mesmo tempo, ter uma obra de infraestrutura e fazer toda a política de preservação, conservação e compensação daquilo que foi preciso para desmatar”,

afirmou Anne Louise, gerente de responsabilidade social e sustentabilidade na empresa Eneva.

A artesã Maely Serrão também defendeu atender os dois lados, sem exclusão, principalmente ao levar em consideração a conscientização.

O alerta para o respeito e preservação da natureza está, há décadas, sendo realizado por especialistas e órgãos de controle. O relatório do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas, o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), vinculado a Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 2021, demonstrou níveis críticos para Amazônia e o mundo.

O documento aponta que o aquecimento do planeta de 1,5° nas próximas décadas, decorrente das mudanças climáticas e emissões de gases do efeito estufa, influencia diretamente na sobrevivência do ecossistema amazônico, com a possibilidade de chegar a um nível irreversível.

O cenário extremo fez parte do discurso do Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva (PT), durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), nesta sexta-feira (1), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O discurso alertou sobre a possível “savanização” da Amazônia, consequência do aumento exponencial da temperatura global.

“Temos excelentes diretrizes estabelecidas em agendas relacionadas as Convenções do Clima e da Biodiversidade das quais o Brasil é signatário e ainda uma agenda relevante e positiva estabelecida pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”,

disse Carlos Durigan.

As metas estabelecidas devem ser seguidas e atingidas para existir uma base sustentável para sociedade, sobretudo, em direção da redução de desigualdade, assim defende o ambientalista.

O Instituto Cidades Sustentáveis classificou, em 2023, Manaus como a segunda capital nortista mais sustentável. O ranking avalia o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU em mais de 5 mil municípios brasileiros. Manaus ocupou a 1.690ª posição na lista geral e a 18ª entre as capitais.

Para o pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Lucas Ferrante, a promoção do meio ambiente é fundamental para o desenvolvimento a longo prazo do Estado e não deve apenas ser vista como uma maneira de aumentar o lucro. Caso não ocorra a devida preservação do meio ambiente, a dinâmica do Amazonas mudará permanentemente.

“Nós estamos à beira de uma das maiores crises que a Amazônia já viveu. Uma crise climática que tem o potencial, inclusive, de afetar a pesca, o que implica na proteína do ribeirinho, e também drasticamente a navegação do Estado, impedindo o escoamento de recursos”,

explicou.

O desenvolvimento socialmente inclusivo, enfatizado na fala do pesquisador, possibilita a permanência e sustentabilidade de comunidades diversas da Amazônia, tendo em vista que as mudanças climáticas impactam mais populações sociovulneráveis. “Não existe um atalho para o desenvolvimento sem a priorização da contenção do desmatamento no estado e na contenção da crise climática”, enfatizou.

O ambientalista continua, ainda, pontuando como obras de grandes proporções, como a rodovia BR-319 e o Ferrogrão, possuem altas projeções de desmatamento e ainda abrem “grandes blocos que são grandes reservatórios zoonóticos, reservatórios de bactérias, vírus e príons”. Este contexto pode acarretar em uma nova pandemia, até mais severa do que a do COVID-19. Além disso, outros problemas são apresentados em relação a biodiversidade.

“O Brasil é o país que mais contribui para a perda de espécies no mundo, enquanto o Amazonas é um desses estados mais biodiversos dentro da Amazônia”, contrastou.

A nível estadual e regional, o desenvolvimento deve considerar a potencialidade das questões ambientais serem determinantes para a existência da humanidade.

“É extremamente importante que as questões ambientais sejam olhadas primeiro antes de qualquer grande projeto que vise o desenvolvimento do Estado, porque sem isso não haverá futuro para a Amazônia. É crucial que nós consideremos isso e não apenas consideremos a questão ambiental como mais uma fonte de renda para as pessoas e para tentar aumentar a receita estatal”, concluiu.

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