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Preocupação

Da crise em Gaza à saúde no Brasil: Um reflexo de desafios globais em saúde pública

Ambos os países sofrem com a falta de recursos adequados para cuidar adequadamente de suas populações

Foto: Agência Brasil

Em 2023, Gaza e Brasil, apesar de estarem em continentes distintos, enfrentam crises de saúde pública que, embora diferentes em suas causas, refletem desafios globais semelhantes. Dessa forma, seria estranho imaginar que sem atenção e recursos suficientes, a saúde pública poderia deteriorar, com consequências devastadoras para a população?

Gaza, uma região marcada por prolongados conflitos e bloqueios econômicos, enfrenta uma situação crítica de saúde. Hospitais como o Al-Shifa são sitiados, com escassez de eletricidade, alimentos e água potável, afetando gravemente o atendimento médico. A intensificação de chuvas agrava a crise, com relatos de mortes de bebês prematuros devido à falta de eletricidade para incubadoras e um aumento de doenças transmitidas pela água. Em outubro de 2023, a OMS notificou mais de 33,5 mil casos de diarreia, principalmente em crianças. Além disso, cerca de 135 ataques a instalações de saúde foram documentados, refletindo uma tendência preocupante de desrespeito aos hospitais como zonas neutras​​​​​​​​​​.

No Brasil, a crise de saúde pública apresenta contornos diferentes, mas igualmente preocupantes. Em 2023, o orçamento da saúde encolheu, dificultando o atendimento das demandas represadas pela pandemia, além de agravar problemas crônicos como longas filas, carência de profissionais e falta de leitos. A utilização de quase R$ 10 bilhões de emendas do orçamento secreto para compor o valor mínimo necessário em saúde afeta a transparência e o planejamento das ações do setor. A regra do teto orçamentário retirou R$ 36,9 bilhões do SUS entre 2018 e 2022 e prevê a retirada de mais R$ 22,7 bilhões em 2023. Significativas reduções de verbas foram observadas em áreas vitais como a estruturação da rede cegonha, Farmácia Popular, saúde indígena, formação em saúde, controle do câncer e Programa Nacional de Imunizações​​​​​​​​.

A comparação entre Gaza e Brasil revela que, apesar das diferenças nos fatores que desencadeiam as crises de saúde, ambos sofrem com a falta de recursos adequados para cuidar adequadamente de suas populações. Enquanto em Gaza a crise é exacerbada por conflitos e bloqueios, no Brasil, a crise é impulsionada por decisões políticas e econômicas que limitam o financiamento da saúde.

Essa análise revela uma verdade mais ampla sobre os desafios da saúde pública no mundo atual. Seja em regiões de conflito como Gaza ou em países com desafios estruturais como o Brasil, a saúde pública é um reflexo da estabilidade política, econômica e social. A falta de investimento adequado em saúde, seja por razões de conflito ou por escolhas políticas, tem um impacto profundo na capacidade de um país de cuidar de seus cidadãos.

A crise em Gaza e os desafios no Brasil são lembretes sombrios de que a saúde pública é um direito fundamental, mas frequentemente subestimado e subfinanciado. À medida que o mundo continua a enfrentar desafios globais como pandemias, mudanças climáticas e desigualdades crescentes, é crucial que a saúde pública seja priorizada e adequadamente financiada. A história de Gaza e Brasil nos mostra que, sem atenção e recursos suficientes, a saúde pública pode rapidamente se deteriorar, com consequências devastadoras para a população.

Dr. Swammy Mitozo – Médico oftalmologista, especialista em Gerontologia. Pesquisador da FUnATI. Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas pela Fundação de Medicina Tropical (UEA/FMT – HVD)

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