Manaus (AM) – O ovo, um dos alimentos que o amazonense tem comprado como substituto pela alta de preços na cesta básica, como as carnes, tornou-se um luxo que poucos podem pagar. O alimento sofreu os impactos da inflação nos últimos doze meses, encerrando fevereiro com uma alta de 12,8%, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados, recentemente, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro fator que contribuiu para o aumento foi a alta dos combustíveis e até a guerra na Ucrânia. O Em Tempo foi às ruas pesquisar os valores da cartela de ovos em granjas e em alguns supermercados de Manaus. Nestes últimos, usando como referência a Zona Oeste da capital.
Encontramos em uma granja a caixa com 12 cartelas, contendo 30 unidades cada, tipo branco/grande, no valor de R$ 225,00; a mesma quantidade para o ovo extragrande, a R$ 227,00, e o ovo vermelho em R$ 240,00. Num segundo produtor, a caixa do mesmo tipo/extra é vendida por R$ 230,00 e o ovos vermelhos a R$ 234,00.
Em dois supermercados de grande porte, constatamos que, no primeiro, o preço da cartela contendo 30 ovos, tipo branco/grande, chegou a R$ 19,99. Já a cartela com 30 unidades, do tipo vermelho/grande, estava custando R$ 24,90.
No outro estabelecimento, a cartela com 30 unidades do mesmo tipo, mantinha valor semelhante, R$ 19,99, e a cartela com a mesma quantidade de ovos, tipo vermelho, também “emplacava” um custo de R$ 24,90.
Inflação é problema
Para o presidente da Associação Amazonense de Avicultores, Luiz Mário Peixoto, os impactos da inflação têm refletido nos custos de produção.
“A gente tem a sensibilidade de que o preço dos alimentos, o preço da proteína, não só do ovo, como da carne de boi, frango e suína, tem subido bastante, porque o custo da produção sobe devido as especulações envolvendo a guerra, um período pós pandemia, a subida do preço do petróleo. Consequentemente, o combustível sobe bastante. A gente, por uma situação geográfica, tem peculiaridades logísticas e, com isso, o custo frete seja impactante no preço do produto final”,
explica.
Luiz Mário explica, ainda, que as especulações internacionais em relação a preços de alimentos também reflitam nestes aumentos.
“A quebra de safra no Sul do país que tivemos no começo do ano, impactando no abastecimento de grãos para todo o Brasil, faz com que isso reflita no produto final. Hoje é tudo especulação, as comodities (milho, farelo de soja) tudo é baseado por bolsa, como a de Chicago. Faz com que o preço dos alimentos, além da parte de desabastecimento (climática), tem a especulativa. Mesmo com o dólar baixando, outros fatores influenciam”,
comenta.
Mesmo assim, o presidente da entidade, avalia que, apesar do aumento dos preços nos ovos, os produtores trabalham no “vermelho”.
“Ainda estamos trabalhando no prejuízo, porque o custo de produção não cobre pelo preço que é vendido. O consumidor final paga o preço dessa situação. Porém, a gente espera que isso se equilibre nos próximos meses, desse pós-guerra, que o mercado se equilibre e que tenha uma maior oferta de grãos. O fertilizante também encareceu muito. A Rússia é um dos maiores produtores de fertilizante do mundo e isso impactou bastante. Estamos operando no vermelho”,
afirma.
Doendo no bolso
Não somente os donos de granjas e supermercados afirmam sentir o impacto, mas também os pequenos comerciantes. Donos de mercadinhos alegam que, hoje, vendem apenas 1 único ovo tipo branco/grande ao custo de R$ 1,00.
“Antes, eu conseguia vender 30 ovos aos meus clientes por R$ 9,00. Hoje, sou obrigada a vender cada um a R$ 1,00. Eu mesma me sinto chocada. Acho isso uma imoralidade. Porém, não tenho como vender por menos, porque posso quebrar. Meus clientes reclamam, mas não tenho como fazer nada”,
diz Antônia Salles, de 47 anos, dona de um mercadinho no bairro Compensa, Zona Oeste de Manaus.
Leonardo Nunes, de 65 anos, também vive da venda de ovos no bairro Compensa e diz que está tentando repassar o mais barato possível aos seus consumidores, apesar das reclamações.
“Reclamações são justas. Estou praticando o valor de cada ovo a R$ 0,80 centavos. Tanto do branco como do vermelho grande. Estou comprando a caixa com 30 ovos e 12 cartelas a R$ 222,00. Não sei até quando vou conseguir manter esse preço”,
desabafa Leo.
Sem dúvida alguma, os mais castigados são os consumidores. Muitos deles, pela impossibilidade de consumir algum tipo de carne, encontraram no ovo o “refúgio” para sobreviver.
Com o novo cenário de preços, o desespero bate à porta para muitos. Este é o caso da dona de casa Raimunda Santana, de 34 anos, moradora do bairro Santo Antônio, Zona Oeste de Manaus. Ela sustenta a família com a venda de bolos e disse que o aumento no preço do ovo gerou uma crise em suas vendas.
“Não posso fazer mais a quantidade de bolos que vendia e nem usar a quantia de ovos que preciso para fazer um bolo que considero com qualidade. Como não vou fazer algo que não presta para as pessoas, faço menos, para poder usar mais ovos e, logo, vendo menos. A gente já sente na mesa a falta de comida”,
lamenta.
O autônomo Cícero Santos, de 45 anos, levava uma marmita com ovos cozidos e salada para aguentar o dia de trabalho, sempre que saia de casa, também no Santo Antônio. Agora, não pode mais.
“Vou ficar só na folha e minha família estava se aguentando no ovo para sobreviver, pois não sabemos o gosto de uma boa carne tem tempo. Com essa aí, não sabemos mais como fazer. Estou para criar galinhas em casa. Ganhamos mais”,
disse Cícero.
Avaliação
Por outro lado, mesmo com os fatores que impulsionam o aumento no preço dos ovos, o economista Orígenes Martins acredita que tem gente abusando da boa vontade do consumidor.
“O aumento do combustível implica nisso, no caso dos ovos, a ração dos animais, com o repasse aos consumidores finais. Só que o grande o problema é que muita coisa está sendo aumentada de maneira abusiva, sem um cálculo real na ponta do lápis, por conta de interesses de ganho que vão além do custo real devido o aumento de dos custos de insumo. Vai mais pela ganância do que, realmente, dos custos do ovo”,
avalia.
No caso dos ovos, para o especialista, o aumento foi considerável do número de granjas em Manaus.
“Tivemos, principalmente no último ano, um aumento considerável em todo país e, em Manaus, foi bastante. Isso nos faria ter uma margem bastante considerável para que os aumentos fossem bem menores para o que está acontecendo, na prática, no mercado. Teve registrado, inclusive, por conta de um aumento da carne bovina, que houve, teve uma corrida para a criação de granjas, para substituir a carne bovina pela de frango. A produção de ovos subiu, violentamente, o que não justifica esse aumento brutal. A lei da oferta e da procura é aquela que ainda deve ser obedecida”,
finaliza.
Leia mais:
Petrobras defende reajustes de preços para evitar desabastecimento
Governo diz à Justiça que não pode interferir em preços da Petrobras
Guerra entre Rússia e Ucrânia pode causar aumento nos preços de alimentos, alerta ONU
Para ficar por dentro de outras notícias e receber conteúdo exclusivo do portal EM TEMPO, acesse nosso canal no WhatsApp. Clique aqui e junte-se a nós! 🚀📱