A morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, escancarou um grave problema de saúde pública: o abuso de substâncias químicas. O Inquérito Policial apontou que a causa da morte da empresária foi por overdose de ketamina, um medicamento anestésico que, se usado de forma ilegal, pode causar danos irreversíveis. No Amazonas, há um centro especializado no atendimento de dependentes químicos e que auxilia na reabilitação destes indivíduos.
Durante a investigação da morte de Djidja Cardoso, a polícia descobriu que a família da empresária era usuária de ketamina, e que alguns funcionários do salão de beleza da família eram obrigados a usar o medicamento como parte da seita religiosa “Pai, Mãe, Vida”.
Não é fácil aceitar a situação de um dependente químico, ainda mais se ele for membro de família. Por falta de assistência ou informação, parte da população não sabe o que fazer diante deste caso, e prefere tentar tratar o viciado em casa, o que não dá certo. De acordo com a médica Silvana Nascimento, que atua na área da psiquiatria e de saúde mental há 23 anos, este é um problema de saúde que precisa de ajuda profissional.
“A primeira coisa é encarar o abuso de substâncias como um problema de saúde que, como qualquer outro, necessita de tratamento especializado, multiprofissional, o que engloba médico psiquiatra, psicólogo especializado em dependência química e adição, e grupos terapêuticos como os narcóticos e alcóolicos anônimos. O suporte a esse núcleo familiar também é importante, tendo em vista que a família é bastante atingida e adoece junto com o adicto. Temos que combater o estigma e o preconceito que ainda são muito fortes”, reforçou a médica.
Centro de Reabilitação
Referência no Estado, o Centro de Reabilitação em Dependência Química (CRDQ) Ismael Abdel Aziz é uma unidade de saúde pública, vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), destinada ao tratamento de pessoas em uso abusivo e problemático de álcool e outras drogas, na modalidade de internação.
A instituição é indicada para aquele paciente que já esgotou todos os recursos extra- -hospitalares existentes sem êxito. Neste caso, o dependente deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), onde será avaliado e, se atender aos critérios para internação, será encaminhado para o CRDQ, por meio do Sistema de Regulação.
Assim que o paciente é internado e começa a ser atendido pela equipe, há uma conversa explicando a importância daquele passo para o dependente químico e sua família, deixando claro que o processo terá sucesso efetivo caso aquele paciente continue o tratamento após a internação.
“Durante o tratamento, é esclarecido aos pacientes que a dependência química é uma doença crônica, ou seja, que não tem cura, mas que tem tratamento; que a internação é apenas uma parte deste tratamento; e que se ele [paciente] der continuidade ao seu acompanhamento ambulatorial após a internação, de forma consistente e contínua, terá grandes chances de conseguir parar de usar drogas e ter uma vida produtiva e saudável”, afirmou a psicóloga Luciana Carvalho, do Centro de Reabilitação em Dependência Química Ismael Abdel Aziz.
Segundo a profissional, os pacientes atendidos no CRDQ não possuem um perfil único, já que o problema abrange todas as classes sociais.
“As pessoas que buscam internação no CRDQ são pessoas que estão em sofrimento intenso pelo uso de substâncias, que se encontram no chamado ‘fundo do poço’, que muitas vezes já tentaram outros recursos e não tiveram sucesso. Não há um perfil único do dependente químico. Recebemos pessoas de diferentes classes sociais, idades, sexo, etnias, religiões, orientações sexuais entre outros, mas todas enxergam no tratamento uma esperança de recuperação e de uma vida melhor”, ressaltou.
Apoio familiar
Uma das formas para facilitar a internação do paciente é por meio da conversa. A família é peça fundamental no tratamento, principalmente, na questão do incentivo para superar as adversidades e concluir o acompanhamento médico.
“A melhor maneira de abordar o uso de drogas é por meio do diálogo, optando- -se sempre pelo discurso da ajuda e do afeto, ao invés do de acusações. A família deve oferecer o apoio necessário, buscando tratamento especializado tanto para o dependente químico como para ela própria, para juntos conseguirem enfrentar a doença. Na rede pública estadual, além do CRDQ, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) conta também com o CAPS Dr. Silvério Tundis e Centro de Saúde Mental do Amazonas (CESMAM)”, destacou a psicóloga do CRDQ.
Ainda de acordo com Luciana Carvalho, a família também recebe visitas dos profissionais que atuam, de forma multidisciplinar, no tratamento do paciente internado.
“Como parte integrante do plano terapêutico, o Centro realiza quinzenalmente o Grupo de Apoio às Famílias dos Residentes e Grupo de Apoio aos Ex-Residentes, em parceria com a Secretaria Estadual de Ação Social (SEAS)”, contou.
Sendo uma “luz no fim do túnel” para as famílias dos pacientes internados, o CRDQ reforça que a reabilitação completa depende também da aceitação do adicto.
“Há diversos casos de pacientes que estão conseguindo se manter em abstinência, ou seja, não fazer uso de drogas após a internação. Para tanto, estes pacientes e suas famílias estruturaram uma rede de apoio em torno de si, ou seja, um conjunto de dispositivos e estratégias de apoio social que unidas deram conta das demandas oriundas dessa condição da dependência química”, disse Luciana Carvalho.
Sinais de atenção
Alguns comportamentos podem ser observados pela família que desconfia que o paciente precise de internação pelo uso de substâncias ilícitas.
“É necessário ficar em alerta em casos de mudanças nos padrões de humor, alimentação ou sono. Da mesma forma, para mudanças físicas ou comportamentais repentinas, como: pessoas que estão usando drogas podem apresentar irritabilidade, inquietação, depressão, queda na qualidade do trabalho ou no rendimento escolar, insônia, sonolência, tonturas, odor incomum no hálito (álcool, maconha), aumento do apetite, ganho ou perda de peso aparente, olhos vermelhos, aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, dilatação ou contração das pupilas, entre outros sinais e sintomas”, finalizou Luciana.
Leia mais
Caso Djidja: dependência em ketamina tem tratamento no Amazonas
Caso Djidja: maquiador ganha direito de liberdade provisória após decisão da Justiça
Para ficar por dentro de outras notícias e receber conteúdo exclusivo do portal EM TEMPO, acesse nosso canal no WhatsApp. Clique aqui e junte-se a nós! 🚀📱