“Eu não sou profeta, nem filho de profeta, mas vaqueiro e cultivador de sicômoros. Mas o Senhor me disse: Vai profetizar a meu povo Israel” (Am 7,12-15). Amós a indicar que o chamado é graça, é escolha de Deus. Não importa a função, o status que está a exercer, o preparo. Deus faz de um plantador de figos e um cuidador de gado um profeta. Não é tanto o que fazia, mas o que Deus faz dele e pede que faça.
No chamado existe um mistério do desígnio do agrado, do bem-querer de Deus! É benevolência de Deus, pois chamado é gratuidade. E a resposta é gratuita, alegre, cheia de gratidão. O dar-se conta de ser visto, escolhido e amado por Deus, desperta a alegria suave e benfazeja: resposta, uma correspondência de gratuita. Não só o chamado é do Senhor, mas também o envio. Ninguém se chama e se envia.
Os apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram demônios, ungiram os doentes e curaram. Tanto no chamado quanto no envio há uma liberdade. “Deixa teu pai e tua mãe!”; “nem pão, nem alforje, nem dinheiro!”. Existe uma dinâmica de relação que desperta para um despojamento e, por isso para um revestimento. Despojamento para participação no discipulado; um revestimento para o envio missionário.
A missão tem um centro; a missão tem um rosto. O anunciador, a anunciadora, tem um centro de referência, que é a pessoa de Jesus. Percebe-se nos verbos do chamado e envio: “chamou”, “enviou”, “deu-lhes poder”, “ordenou”, “dizia-lhes”. O ir e o agir dos Doze é como o irradiar-se de um centro, o repropor-se da presença e da obra de Jesus na sua ação missionária. Isto manifesta que os Apóstolos nada têm de seu para anunciar, nem capacidades próprias para demonstrar, mas falam e agem porque foram “enviados”, enquanto mensageiros de Jesus. Tem um rosto, que consiste na pobreza dos meios.
Os Doze receberam a ordem de “que nada levassem para o caminho a não ser um cajado: nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto”. Jesus ensinou que eles fossem livres e ligeiros, sem apoios nem favores, com a única certeza do amor d’Aquele que os envia, fortalecidos unicamente pela sua palavra que vão anunciar. O cajado e as sandálias são o equipamento dos peregrinos, porque eles são mensageiros do reino de Deus, não empresários onipotentes, não funcionários rigorosos nem estrelas em tournée. Não eram funcionários, nem empresários, mas trabalhadores humildes do Reino (cf. Papa Francisco, Angelus, 2018).
“Começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros”. São muitos os espíritos impuros: o modo de perder a interioridade, a liberdade, a misericórdia, de ser presença consoladora; estar nas relações de modo violento, desagregador; o modo como o homem acaba arruinando a si mesmo, perdendo a si mesmo. O modo de viver de achar que se tem o controle de tudo, mas na realidade perdido até de si mesmo, fechado num mundo envelhecido, destruído, escravizado. Esses espíritos que nos tornam “possessos” na expressão de Dostoievsky. Os espíritos impuros que, às vezes, nos dominam.
A fonte do anúncio é o Reino de Deus, Jesus, pois o Evangelho não é a religião do eu, a pregação do eu. As testemunhas do Evangelho livres do eu para vicejar a Jesus e seu Reino. Por não ser a religião e o anúncio do eu, são enviados dois em dois. Dois a dois não é um mais um, mas dois a dois. Ambos imbuídos tomados pela benevolência do chamado. Os chamados-enviados são companheiros de viagem; apoiam um ao outro na fé, na esperança, na caridade; lavam os pés um do outro; os pés uns dos outros. O Reino de Deus não é formado por um, mas por um povo, por uma assembleia de fiéis. É a Igreja que enviada a anunciar o amor de Deus pela humanidade, pelo universo. O envio será sempre comunitário e não solitário.
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