O motorista Jones Mota Lopes, de 55 anos, foi linchado por um grupo de motociclistas na última terça-feira (27), na Avenida Autaz Mirim, em Manaus. A justificativa do grupo foi que a vítima havia atropelado outro motociclista e, por isso, decidiram agir como “justiceiros”. Para o cientista social Israel Pinheiro, o discurso punitivista atravessa a moralidade social.
Em entrevista ao Em Tempo, o profissional destaca que as vítimas da violência são sempre pessoas que possuem um corpo que seja passível de ser linchado.
“Você não vê, por exemplo, o linchamento de um político de colarinho branco. Mas você pode ver o linchamento de uma pessoa que cometeu um acidente, ou de uma pessoa que furta um celular, ou uma corrente. Você pode ver diversos tipos de linchamento. Mas na maioria dos casos, são corpos que são de determinada classe, com um marcador de gênero, com um marcador racial bem estabelecido”, explicou o Doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia.
Neste caso recente, que ocorreu na capital amazonense, a vítima já era uma pessoa mais velha, que não tinha como se defender diante de várias pessoas que o agrediram.
“Esse crime chocou a cidade de Manaus, uma covardia daquelas pessoas. Tratava-se de um homem de 55 anos, que estava sozinho, conduzindo seu veículo. Foi retirado desse veículo e foi espancado até a sua morte”, enfatizou o delegado Ricardo Cunha, titular da Delegacia Especializada em Homicídio e Sequestros.
Punitivismo
Na análise do cientista social, a população assume um discurso “vigilantista”, pois acredita que é responsável por sua própria segurança, desafiando as autoridades que são encarregadas por julgar as ações alheias.
“A gente também é atravessado por uma sociedade que tem um discurso vigilantista, aquele discurso onde você pode ser responsável pela sua própria segurança. Essa ação normalmente é a violência. Esse discurso vigilantismo, punitivista, onde se acredita que, se você punir a pessoa, ela vai parar de fazer determinada coisa. Todos esses discursos atravessam aquilo que a gente entende como uma moralidade social. A população atravessa o próprio Judiciário”, pontuou Israel.
O crime em questão não é um caso isolado. Um estudo coordenado e organizado pelo professor Fábio Magalhães Candotti, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), analisou mais de 500 reportagens policiais que relataram casos de linchamento.
O levantamento concluiu que, de 2011 a 2020, ocorreram 345 casos de linchamento no Amazonas, sem contar, é claro, com os casos que não foram noticiados.
No último dia 10, outro caso de linchamento estampou as manchetes da capital amazonense. Um homem foi agredido até perder os sentidos, teve seu corpo jogado em um bueiro, e ainda foi alvo dois tiros. O caso ocorreu no bairro Zumbi, na Zona Leste de Manaus.
Para Israel Pinheiro, o cenário precarizado da capital amazonense, junto à falta de acesso aos direitos básicos, facilitam esse fenômeno.
“A cidade de Manaus tem um cenário bastante precarizado, precarizado tanto no sentido econômico quanto no sentido de acesso aos direitos e às próprias instituições de serviço público. Isso faz com que as pessoas decidam abdicar daquilo que seria a justiça. É importante que fique claro que essas agressões, essas violências, na verdade, se configuram também como um crime, e de nada serve de fato, a não ser para exacerbar, a não ser para extrapolar sentimento de frustração”, finalizou o estudioso.
Investigação policial
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) divulgou, nesta quinta-feira (29), a foto de três homens que estão sendo procurados por suspeita de envolvimento no linchamento do motorista Jones Mota Lopes, de 55 anos, ocorrido na última terça (27), na Zona Leste de Manaus.
Klinger Luan Ferreira Costa, vulgo “Ferreirinha”, Francisco de Oliveira Galvão Neto e Ayan Ferreira de Souza tiveram suas fotos divulgadas pela PC-AM. A equipe informou também que os demais envolvidos no crime ainda estão sendo identificados.
“Já identificamos três pessoas, estão devidamente com suas prisões decretadas e agora estamos em busca de suas capturas. Precisamos ainda da ajuda da nossa população para localizar essas pessoas. Nosso disque-denúncia é o 181 e (92) 998118-9535”, informou o delegado Ricardo Cunha.
Klinger já respondeu por roubo, tráfico de drogas; Ayan não possui passagem pela polícia; e Francisco responde crime por violência doméstica.
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