A segunda audiência de instrução do caso Julieta Hernández acontece nesta terça-feira (3), no Fórum de Justiça Desembargadora Nayde Vasconcelos, no município de Presidente Figueiredo. A primeira audiência do caso, realizada em agosto deste ano, foi suspensa após a requisição de um documento citado durante a sessão.
Nesta terça-feira, as oitivas devem continuar de forma presencial no Fórum, conforme solicitado pelo advogado da família de Julieta, Carlos Nicodemos.
O advogado afirmou, ainda, que há a expectativa de que a partir dos depoimentos a Justiça compreenda e atenda o pedido da família para que o crime seja reclassificado.
“Como advogado da assistência de acusação, espero que a partir da oitiva das testemunhas arroladas pelo Ministério Público se estabeleça por parte do Juízo o entendimento de que houve um feminicídio com contornos de xenofobia, por tratar-se de uma cidadã venezuelana”, destacou.
A segunda audiência ocorre em meio à luta da família de Julieta para que o crime seja reclassificado pelo Ministério Público do Amazonas (MP/AM), de latrocínio para feminicídio. O pedido foi negado pelo promotor responsável.
Entidades se manifestam
A mobilização por justiça por Julieta tem sido acompanhada por várias entidades nacionais, como o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM); a secretaria Nacional de Enfrentamento à Volência Contra a Mulher do Ministério das Mulheres; Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam); Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM) e a União Brasileira de Mulheres (UBM).
A presidente nacional da UBM e membro do CNDM, Vanja Santos, destacou que, apesar da recusa da promotoria, é fundamental que o gênero seja levado em consideração para que o crime seja julgado e punido adequadamente.
“Nosso papel é assegurar à família que os responsáveis sejam punidos da forma adequada. Para isso, precisamos que a tipificação seja modificada. Houve, sim, feminicídio. As questões de gênero precisam ser levadas em consideração nesse caso. Seguimos confiantes de que esse apelo será ouvido”, disse.
A presidente estadual da UBM/AM e vice-presidente do CEDIM, Eriana Azevedo, reforçou a importância de que o assassinato de Julieta Hernández seja considerado e julgado como feminicídio.
“Não se trata apenas de um rótulo jurídico, mas de dar visibilidade à violência específica que Julieta e tantas outras enfrentam diariamente. É uma luta por dignidade, por respeito e por um compromisso real com o enfrentamento à violência contra as mulheres”, declarou.
Ministério das Mulheres manifesta apoio à reclassificação
A audiência será acompanhada por uma representante do Ministério das Mulheres. Nesta segunda-feira (2), a ministra Cida Gonçalves manifestou apoio à reclassificação do crime e destacou a importância de reconhecer que o feminicídio não ocorre apenas com mulheres vítimas de violência doméstica.
“O que aconteceu com Julieta foi um caso específico de feminicídio. Precisamos fazer um debate nacional sobre o que o feminicídio e como ele acontece, seja no espaço público ou privado. Também precisamos ter capacidade técnica e jurídica para que os casos sejam investigados com a tipificação correta, para que a família não precise passar anos lutando por justiça”, afirmou.
Julieta Hernández foi morta enquanto viajava de bicicleta pelo Brasil, a caminho da Venezuela, seu país de origem. Ela desapareceu no dia 23 de dezembro de 2023, no município de Presidente Figueiredo, localizado a 117 quilômetros de Manaus. Seu corpo e partes da sua bicicleta foram encontrados em janeiro deste ano, após 14 dias desaparecida.
As investigações apontaram que a artista foi estuprada, assassinada e teve o corpo queimado pelo casal Thiago Angles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos, que confessou o crime. Eles foram denunciados pelos crimes de estupro, latrocínio e ocultação de cadáver.
*Com informações da assessoria
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