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escassez hídrica

Mudanças climáticas impacta saneamento básico em Manaus

Os efeitos da estiagem cada vez mais severa se estendem desde a economia até a saúde pública e os ecossistemas

As mudanças climáticas, intensificadas pelo desmatamento e queimadas, são as principais responsáveis pela alteração no regime hídrico dos rios da Amazônia, levando a períodos de secas mais intensas em espaço de tempo mais curto.

Por conta desse cenário, por exemplo, o Porto de Manaus registrou a pior seca histórica em 2023, onde o Rio Negro chegou a 14,75 metros, o menor nível desde 1902. Porém, a marca foi ultrapassada logo no ano seguinte, quando o rio atingiu 12,11 metros de profundidade em 2024, sendo esse o pior cenário em 122 anos.

Os efeitos da estiagem cada vez mais severa se estendem desde a economia até a saúde pública e os ecossistemas. Entre os principais impactos está a escassez de água potável, o que tendem a impacta a saúde e o modo de vida. Além disso, a escassez hídrica impacta diretamente a capacidade de tratamento de água e esgoto, comprometendo a saúde pública e o meio ambiente.

Diante desse quadro, há a necessidade de que sistemas de saneamento precisem ser adaptados para lidar com essas mudanças, garantindo que a água tratada permaneça segura e acessível para população.

Abastecimento em Manaus

Manaus registrou a pior seca histórica em 2024 Foto: Divulgação

Em Manaus, apesar das duas últimas secas severas, a população não foi afetada pela falta de água. A empresa Águas de Manaus, responsável por tratar e distribuir a água para os manauaras, investiu em um sistema considerando as particularidades da região amazônica.

Conforme o gerente de operações, Lineu Machado, a empresa realiza constantes monitoramentos para garantir que a água distribuída esteja dentro dos padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores e investe em tecnologias para a otimização dos recursos hídricos.

“Já esperávamos uma estiagem mais severa e ela se confirmou, nós tivemos aí a instalação de equipamentos de bomba anfíbia [para captações com baixa lâmina de água], com quadros de acionamento modernos, conversores de frequência novos, nós fizemos previamente, lá no mês de julho, o acionamento de equipamentos mais modernos para acionamento e proteção elétrica, manutenções preventivas, receptação tudo isso já pensando na seca”, detalha.

As fortes chuvas e os períodos de seca, característicos da região amazônica, influenciam diretamente o abastecimento de água. Conforme o gerente, houve mudanças no Rio Negro nos últimos anos que requerem uma atuação mais presente da empresa.

“O Rio Negro sempre foi um rio muito estável e ele teve alterações. Hoje, a gente olha para o Rio Negro, ele não está mais tão negro como ele era, ele está ficando mais marrom. Então, nós tivemos que readaptar nosso tratamento de água. Já estamos preparados também para que isso que a gente está vendo, seja uma normalidade do Rio Negro, essa mudança nas características”, acentua.

Mudanças climáticas

Com relação à responsabilidade das mudanças climáticas, a principal causa é a ação humana. Conforme cientistas, ao longo dos últimos séculos, a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) para gerar energia, a indústria, o transporte e a agricultura intensificaram a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO₂).

“São seres humanos que estão provocando [as mudanças climáticas] através do aumento de CO₂ na atmosfera, provocando o aumento da temperatura do planeta. Isso significa mais eventos climáticos extremos. Significa secas extremas, chuvas e temporais extremos. O clima que era mais ou menos conhecido e que a gente conseguia conviver, que a gente era habituado a conviver, não existe mais. Isso acabou”, pontua a socioambientalista, doutora Muriel Saragoussi.

Segundo a especialista, o desmatamento agrava o cenário e acentua a estiagem. “A seca também é uma responsabilidade direta do desmatamento da Amazônia. A floresta Amazônica é uma bomba d’água. A água que chega do oceano Atlântico e que chove no início da floresta amazônica, ela é jogada de volta para atmosfera pelas árvores, por conta da transpiração das árvores. E essa água volta para atmosfera e é levada pelos ventos um pouco mais longe, formando ciclos, sendo esse locais de chuva”, destaca Saragoussi.

“Temos menos árvores. Estamos desmatando e estamos levando a floresta amazônica a um ponto que talvez seja um ponto de não retorno e significa que vai chover menos não só em cima da Amazônia”, acrescenta.

Adaptações

Manaus implementa projetos para se adaptar a esses períodos de escassez d’água Foto: Divulgação

Embora rica em recursos hídricos, a região amazônica não está imune aos desafios das mudanças climáticas. Por conta disso, Manaus tem buscado implementar diversos projetos para se adaptar a esses períodos de escassez d’água e garantir o abastecimento da população.

“Estamos desenvolvendo novos projetos pensando que isso pode piorar, a gente não imaginava que ia ter dois anos seguido, pode vir o terceiro e pode ser mais severo ainda, então nós estamos remodelando, fazendo simulações para a gente poder no futuro próximo ter conjuntos anfíbios para toda a vazão necessária se isso tudo pensando realmente que as mudanças climáticas vieram para ficar. Nós não sentimos falta d’água, a cidade de Manaus não teve nenhum problema por conta da estiagem. Isso mostra que estamos preparados. Hoje temos um serviço adequado de tratamento de água e coleta, e tratamento de esgoto”, avalia o gerente da Águas de Manaus, Lineu Machado.

O geógrafo e ambientalista Carlos Durigan aponta a necessidade de adaptações para além de um cenário municipal, defendendo uma agenda global. 

“É de grande importância que tenhamos uma agenda concreta voltada à adaptação climática, que basicamente é estabelecermos ações para minimizar os prejuízos à vida, causados por este cenário de extremos. Nesta agenda, fortalecer investimentos em ações de conservação e produção sustentável, dar atenção às pessoas que vivem em áreas de risco de cheias e deslizamentos, construir modelos produtivos de menor impacto ambiental, evitar o uso de fogo nas atividades rurais, combater potenciais efeitos à saúde que surjam em consequência deste cenário, preparar planos de emergência em momentos de maiores crises, são elementos importantes a serem considerados quando falamos de adaptação”, defende.

Participação da comunidade 

As secas extremas trazem atenção para a necessidade de uma mobilização social em defesas dos recursos hídricos. Para mobilizar a sociedade em torno da defesa dos recursos hídricos, especialmente durante períodos de seca, projetos mostram a importância da participação ativa da comunidade no uso adequado dos recursos finitos.

Uma iniciativa que visa promover a integração entre a Águas de Manuas e as comunidades, o Programa Afluentes é um exemplo de projeto que, além de fortalecer a comunicação, contribui para mostrar a necessidade da preservação dos recursos hídricos.

“Temos um canal direto com as lideranças comunitárias e recepcionamos as demandas, solucionamos problemas dentro do feedback recebido, ou seja, todo um relacionamento 24h por dia, sete dias da semana. Nós estamos disponíveis esse canal para nos aproximar das comunidade e dos problemas que atinge, principalmente as áreas mais carentes”, afirma o gerente de responsabilidade social da Águas de Manaus e engenheiro civil com especialidade em saneamento, Semy Ferraz.

“Desenvolvemos uma série de ações focada na solução de problemas. Tivemos a experiência do Beco Nonato, onde foi implementado a coleta de esgoto em palafita. Entendemos que essa proximidade, com projetos pioneiros que trabalham com a população, é importante”, acrescenta.

A água é um recurso natural essencial para a vida, a produção de alimentos, a geração de energia e o desenvolvimento econômico. Compreendendo essa relevância em vários cenários, projetos voltados a empregabilidade e qualificações são relevantes.

Conforme o engenheiro, a empresa aposta nessas áreas de relevância social. “Temos projetos voltados para empregabilidade, como a escola do saneamento que dá o curso de encanadores de encanador auxiliares, encanadores e auxiliares de eletricidade, eletricista. Desenvolvemos essas capacitações no sentido de apoiar a entrada no mercado de trabalho e, consequentemente, nesses cursos a gente mostra muito do nosso serviço. Os alunos têm acesso às inspeções, onde se mostra como se trata a água, os custos do tratamento. Às vezes as pessoas têm a simplicidade de achar que ligou a torneira, a água já está ali, mas não, tem todo um processo de coleta do rio de dos produtos químico, energia para poder chegar até a sua casa”, finaliza.

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