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Crime organizado

Combate ao narcotráfico no Amazonas exige união entre órgãos de segurança

Desde 2019, o Governo do Estado investiu cerca de R$ 1,16 bilhão em segurança pública

Foto: Divulgação/PC-AM

O Amazonas é apontado por analistas como o principal corredor do narcotráfico na Amazônia, atuando como ponto central para a distribuição e escoamento de drogas provenientes de outros países para diversas regiões do Brasil. Contando com uma tríplice fronteira, rios em forma de estradas e um vasto território, a segurança pública é constantemente ameaçada e exige esforços das autoridade competentes para combater o “crime organizado”.

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública em conjunto com o Instituto Mãe Crioula, no Amazonas foram identificados 21 municípios com presença de facções, sendo que em 13 destes havia apenas um grupo criminoso e em 8 foi observada a coexistência de duas ou mais facções.

Foto: Divulgação/ Instituto Mãe Crioula/FBSP (2024)

Essas facções, como parte do crime organizado, seguem suas próprias regras, e impõem medo as pessoas que ousam ameaçar o pleno funcionamento do plano criminoso. A atividade ilícita não é feita de qualquer jeito.

“Crime organizado tem que ter hierarquia empresarial, senão não é crime organizado. O que é isso? O meu gerente sai, o outro substitui. Sai o diretor, sai o matador, sai o financeiro. Cada um tem sua função dentro do crime organizado. Segundo, tem que ter interesse financeiro. Terceiro, tem que ter agente do Estado infiltrado. O povo pensa às vezes, prende ali uma ‘quadrilhazinha’, mas não é uma organização criminosa, não, é uma quadrilha de verdade, terminou aquele assalto, aquele roubo, cada um vai pro seu lado, pega seu dinheiro, e tchau”, explicou o especialista em segurança pública, Hilton Ferreira.

Corredor de drogas

Foto: Reprodução

Atualmente, as maiores facções atuantes no país nasceram na região sudeste, e foram ganhando espaço com o passar dos anos. Essa expansão chegou aos cantos mais extremos do Brasil, e principalmente, nos “municípios-chaves” para o tráfico de drogas, que inclui municípios do Amazonas.

Tabatinga, por exemplo, localizada na tríplice fronteira entre Brasil-Peru-Colômbia, e em plena rota do
Rio Solimões, foi considerada a terceira cidade mais violenta do estado, além de estar na lista das 50 cidades mais violentas de toda a Amazônia Legal entre 2021-2023, ocupando a 23ª posição.

Foto: Especialista em Segurança Pública, Hilton Ferreira/ Arquivo Pessoal

Assim que a droga entra pelo município amazonense, ela precisa chegar até Manaus para que seja escoada ao restante do país. Isso faz com que a capital amazonense também seja uma rota importante ao crime organizado, aumentando a disputa por pontos de drogas na cidade, consequentemente, a violência.

“Os maiores produtores de cocaína e de drogas do mundo, Colômbia, Peru, são os vizinhos. Nós temos ao lado os maiores produtores, a tríplice fronteira: Brasil, Colômbia, Peru. Diante disso, nós não temos o Estado, não é o Estado do Amazonas, as pessoas confundem. Quando fala Estado, é o Estado Marco, o Brasil”, explicou o especialista.

Para Hilton Ferreira, há uma grande diferença entre a dinâmica e orçamento disponibilizado para as forças de segurança e para o crime organizado.

“O Estado brasileiro não trabalha na mesma proporção que o crime organizado trabalha. Porque aqui a droga, ‘Ah, prendemos uma tonelada’, mas passou 10. Porque a substituição é imediata. […] Nós já fomos aqui simplesmente corredor. Deixamos de ser corredor para ser um dos principais consumidores de droga do Brasil, além da droga passar por aqui, ela ainda fica aqui, por isso que tem guerra”, enfatizou.

Boca da Onça

Foto: Arthur Castro/ Secom

Não é difícil perceber a atuação das facções criminosas na capital amazonense. Nas últimas semanas, a distribuição de drogas ao ar livre no Centro de Manaus chamou atenção de quem passava pelo local, o que desencadeou uma operação da Polícia Civil para desarticular o tráfico na região.

Para o sociólogo Luiz Antônio Nascimento, professor da Universidade Federal do Amazonas, o ato de distribuir drogas de forma desinibida em um local histórico da cidade é um grave ataque à ordem da capital amazonense.

“O que nós vimos na cidade de Manaus com imagens que, supostamente seriam traficantes entregando droga para usuário, para viciado no Centro, é um escárnio, é uma brincadeira de mau gosto. Você não faz segurança pública sem uma equipe de policiais bem treinados, em número e quantidade necessária, na capital e no interior, e valorizados”, disse.

Nesta ação, foram efetuadas três prisões: uma em flagrante por tráfico de drogas e duas em cumprimento a mandados de prisão por tráfico de drogas e roubo.

A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) e a Polícia Militar do Amazonas (PMAM), utilizaram cães farejadores em pontos estratégicos e realizaram varreduras em barracos de madeira instalados no local, com o objetivo de identificar drogas e objetos ilícitos. Mais de 100 policiais atuaram na operação.

De acordo com o subcomandante-geral da PMAM, coronel Thiago Balbi, a situação na área da Boca da Onça exige mais do que ações da Polícia Civil e Militar, demandando a participação de outros órgãos em operações para abordar questões sociais e garantir uma solução mais ampla.

“É evidente que a situação aqui é mais complexa do que a Polícia Civil ou Militar pode resolver sozinha, pois envolve questões sociais que demandam a participação de outros órgãos em ações e operações. É necessário esforço público para solucionar esse problema de forma efetiva. Por enquanto, trata-se de uma ação paliativa da polícia, mas que, a partir dela, certamente poderão ser implementadas outras soluções para garantir maior segurança no Centro da cidade “, ressaltou.

Estratégias

Foto: Arthur Castro/Secom

E para conter a movimentação do tráfico de drogas em Manaus, é necessário reforçar as fronteiras, principalmente em lugares estratégicos.

“Se não tiver a união com o pessoal forte, as Forças Armadas, a Polícia Federal lá nas fronteiras, pode gastar o dinheiro que gastar aqui em Manaus, aqui é só o reflexo, a droga já está aqui. Por que não está morrendo muita gente no tiroteio? Sabe por que não morre muita gente? Porque tem pouca polícia. Parece contraditório, não é? Por que morre muito no Rio [de Janeiro]? Porque tem muita polícia, toda hora tem tiroteio”, destacou Hilton Ferreira.

Na opinião do especialista, é primordial ter um orçamento para investir em material e profissionais competentes, só assim, a repressão ao crime organizado trará efeitos imediatos não só ao Estado, mas ao Brasil.

No combate das ações ilegais no Amazonas, o governador Wilson Lima informou que, desde 2019, investiu cerca de R$ 1,16 bilhão em segurança pública, reforçando o combate à criminalidade e modernização das forças de segurança. A mais recente entrega de equipamentos, avaliada em R$ 7 milhões, incluiu 320 fuzis para as polícias Civil e Militar, além de tecnologias para o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops).

“Nós temos um time que tem dado um resultado muito significativo na Segurança Pública, como nunca aconteceu antes neste estado. Isso nos deixa muito envaidecido, mas também aumenta a nossa responsabilidade de cada vez mais ampliar esses números e trazer essa sensação de segurança para nossa população”, afirmou Wilson Lima.

Em 2024, as forças de segurança do Amazonas obtiveram resultados importantes no combate à criminalidade. A apreensão de drogas atingiu um recorde, com mais de 43 toneladas de entorpecentes, representando cerca de 70% de toda a droga apreendida na Região Norte.

Desde a criação da Base Fluvial Arpão 1, no rio Solimões, em Coari, o governo causou um prejuízo de mais de R$ 500 milhões ao crime organizado, com apreensões significativas de drogas, armas e prisões. Em janeiro de 2024, a Base Fluvial Arpão 2 foi inaugurada, com um investimento de R$ 4,75 milhões, equipada com tecnologia de ponta para atender a região entre os rios Negro e Branco, beneficiando municípios como Barcelos e Novo Airão.

Crime tem apoio de militares

Até integrantes de Força de Segurança se envolvem com o crime organizado, como foi o caso dos três militares da Força Aérea Brasileira (FAB), presos pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) durante a operação “Queda do Céu”, deflagrada em São Gabriel da Cachoeira. As prisões ocorreram na segunda-feira (3) e fazem parte de um esquema de envio de drogas nos voos da FAB de São Gabriel para Manaus, além de lavagem de dinheiro.

Entre os cinco presos, estão três militares da FAB, com idades entre 22 e 26 anos, que facilitavam o envio de drogas em voos militares. Também foi preso um homem de 42 anos, responsável por financiar o tráfico e lavar o dinheiro, movimentando cerca de R$ 2 milhões em 2024. Durante as diligências, foram apreendidos três carros e quatro motocicletas.

O grupo criminoso, composto por militares da Força Aérea Brasileira (FAB), utilizava grávidas e indígenas para transportar drogas do município de São Gabriel da Cachoeira para Manaus.

Leia mais: Apreensão de caminhão com duas toneladas de droga rendeu prejuízo de R$ 40 mi ao crime organizado

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