A Amazônia, essencial para o equilíbrio ambiental e o bem-estar global, enfrenta desafios contrastantes na área de influência da rodovia BR-319. A Retrospectiva 2024: Desmatamento e Focos de Calor na Área de Influência da BR-319, publicação anual do Observatório BR-319, revela avanços na redução do desmatamento, mas um aumento preocupante dos focos de calor, agravando os riscos ambientais e sociais na região.
“A escolha desse período visa evidenciar, com mais clareza e profundidade, as oscilações significativas do cenário na Amazônia Legal – especialmente na região do Interflúvio Madeira-Purus –, marcada por momentos de redução e aumento, refletindo as dinâmicas de pressão ambiental na região”, destaca o estudo.
Análise dos dados
O levantamento, conduzido pelo especialista em geoprocessamento Heitor Paulo Pinheiro, do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), aponta que os dados servem como base para políticas públicas mais eficazes.
“Os dados apresentados demonstram uma trajetória complexa do desmatamento e dos focos de calor na Amazônia Legal, especialmente na área de influência da BR-319. Há um padrão de crescimento do desmatamento até 2022, seguido por uma redução significativa em 2023 e 2024. No entanto, os focos de calor apresentam variações mais instáveis, com aumento em algumas áreas e redução em outras”, explica Heitor.
Em 2024, o desmatamento na Amazônia Legal caiu 11,08%, totalizando 358.503 hectares desmatados. No Amazonas, a área desmatada foi de 72.876 hectares, enquanto Rondônia registrou 20.976 hectares, uma redução de 34,5% em relação a 2023.
Por outro lado, os focos de calor aumentaram. Em setembro de 2024, foram 41.463 focos de incêndio na Amazônia Legal, um aumento de 24,7% em comparação ao ano anterior. O Parque Nacional dos Campos Amazônicos registrou um aumento de 157% nos focos de calor, enquanto a Floresta Nacional do Bom Futuro teve alta de 81,3%.
Impactos ambientais
A intensificação dos incêndios está diretamente ligada à seca extrema que atinge a Amazônia desde 2023. Além da devastação da floresta, os focos de calor impactam recursos hídricos e aumentam os casos de doenças respiratórias em cidades como Manaus e Porto Velho. Municípios como Manicoré e Humaitá enfrentam um cenário de vulnerabilidade climática crescente.
Desafios
Para Marcelo da Silveira Rodrigues, secretário executivo do Observatório BR-319, o estudo não é apenas um diagnóstico, mas um alerta para a sociedade e os gestores públicos.
“Apesar dos avanços no controle do desmatamento, o aumento dos focos de calor ressalta a urgência de políticas públicas integradas e de um monitoramento ambiental rigoroso”, avalia Marcelo. Ele defende o fortalecimento dos órgãos ambientais, incluindo ICMBio, Ibama, Funai e Ipaam, e a realização de concursos públicos específicos para a região.
Além disso, o secretário destaca a necessidade de qualificar a governança local, garantindo presença do Estado na fiscalização e promovendo assistência social, saúde e educação para as comunidades afetadas.
BR-319 e os riscos para o futuro
A pressão ambiental na BR-319 está relacionada a atividades ilegais, como grilagem de terras, desmatamento e abertura de pastagens, agravadas pela ausência do Estado e pela crise climática.
“A ascensão dos focos de calor na Amazônia Legal, especialmente na área de influência da BR-319, tem causas antrópicas, como invasões de terras para atividades ilegais. Isso intensifica grandes secas no Amazonas e Rondônia e compromete a bioeconomia, afetando diretamente populações indígenas, ribeirinhas e extrativistas”, conclui Marcelo.
O estudo reforça a necessidade de ações urgentes para equilibrar desenvolvimento e preservação ambiental, garantindo a sustentabilidade da Amazônia para as futuras gerações.
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