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Segurança

Violência de gênero ameaça dignidade de mulheres na internet

Crimes cibernéticos contra mulheres no Amazonas aumentaram 128% em 2024, diz SSP-AM

Foto: Reprodução

A era da tecnologia trouxe inúmeros avanços para a sociedade, conectando pessoas ao redor do mundo em uma mesma rede. No entanto, apesar dos benefícios, também emergiu um lado obscuro: o ambiente digital tornou-se um espaço onde crimes contra as mulheres, encontram terreno fértil, comprometendo a segurança e a convivência dessas vítimas na sociedade.

Dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-AM) apontam que crimes cibernéticos contra mulheres no Amazonas aumentaram 128% em 2024, em relação ao ano anterior. Em números concretos, foram contabilizados 526 casos no ano passado e 230 em 2023.

Entre os crimes com maior evidência estão a ameaças, injúrias, difamações, calúnias, assédio sexual, vazamento de imagens, perseguição, extorsão, entre outros.

Machismo estrutural

Foto: Reprodução

Segundo o Censo Demográfico de 2022, as mulheres representam a maioria da população brasileira, correspondendo a cerca de 51,5%. No entanto, esse dado não as torna imunes aos ataques nas redes sociais, onde continuam sendo alvos frequentes de violência e discriminação.

Parte desses crimes de ódio tem raízes no machismo estrutural, que oprime mulheres ao mesmo tempo em que reforça a superioridade masculina. Trata-se de um comportamento profundamente enraizado e naturalizado na sociedade, manifestando-se em diversos contextos, muitas vezes de forma sutil e quase imperceptível.

“O cyberbullying está relacionado a questões de gênero, poder e controle. Podemos considerar alguns fatores como a própria configuração social, como o machismo estrutural, pois a sociedade, historicamente, tenta calar, controlar ou punir mulheres que manifestam suas opiniões, que se destacam ou simplesmente não se comportam de maneira ‘adequada’ aos olhos dessa dinâmica social patriarcal (em que as mulheres não têm direitos iguais aos dos homens). A internet assumiu esse lugar social que dá essa permissão”, destacou a psicóloga Giselle Melo.

Na visão da profissional, as mulheres tornaram-se alvos “fáceis” de perseguidores, especialmente por ocuparem posições de destaque no ambiente digital.

As mulheres estão mais expostas e mais ativas nas redes sociais, seja atuando como criadoras de conteúdo, assumindo lideranças ou funções profissionais de destaque. Essa exposição, infelizmente, acaba se transformando em alvo para ataques, especialmente quando elas se posicionam sobre temas mais sensíveis”, afirma Melo.

Ameaça

Foto: Reprodução

Há três anos, Maria (nome fictício para preservar a identidade da vítima) teve fotos íntimas vazadas em uma rede social por um ex-namorado que não aceitava o fim do relacionamento.

Ao Em Tempo, ela relatou que o casal não estava em bons termos e partiu dela a decisão de finalizar o namoro, que não foi aceita pela outra parte.

“Ele postou foto íntima minha no Twitter, pra poder voltar com ele. Tínhamos terminado, ele disse que só tiraria se eu falasse com ele e voltasse, porque senão, meus pais iam ver a ‘vagabunda’ que eu era, por isso eu sempre tive medo de terminar com ele”, relatou.

Esse comportamento agressivo impacta a saúde mental das mulheres vítimas de cyberbullying, que se sentem coagidas, perdidas, sem saber como pedir ajuda.

“O anonimato e a sensação de que ‘na internet é um campo sem Lei’ fazem com que comportamentos abusivos se propaguem com mais facilidade. A desinibição on-line faz com que as pessoas se sintam mais à vontade para manifestar impulsos agressivos que talvez não expressassem presencialmente”, reforçou Giselle.

Denúncia

Filha foi presa e encaminhada para a Delegacia Especializada em Crimes Contra Mulher (DECCM)
Foto: Divulgação

Aos poucos, as mulheres vêm ganhando confiança para denunciar seus agressores, mas a solução para esse problema não virá de forma imediata.

“Eu não tinha como deixar meus pais descobrirem. Eu tentei ainda fazer BO. Eu tentei ligar para a polícia, para a delegacia da mulher, para denunciar de forma anônima, assim que soube o que tinha acontecido comigo. Se eu quisesse denunciar, eu teria que ir lá. Eu teria que me dispor a ir. Só que eu não quis, mas eu tentei fazer uma denúncia anônima. Eles anotaram, mas não foram atrás”, contou Maria.

Coagida, ela tentou dar um fim à ameaça por conta própria. Aceitou se encontrar, eles conversaram, e ele apagou a foto após falar com a vítima. Hoje, eles não possuem nenhum tipo de relacionamento, mas a sensação de impunidade ainda existe.

“Como a intenção principal do cyberbullying é a de prejudicar a reputação da vítima, isso potencializa os danos, que podem ser ainda maiores do que aqueles conhecidos no bullying tradicional. Para quem sofre essa violência psicológica, vivencia problemas associados a contextos sociais, de comportamento e de saúde mental, como o sentimento de incapacidade e inferioridade; a autoestima, sentimento de inadequação, culpa, vergonha, tristeza constante; exaustão; a vítima acaba abandonando as atividades que costumava fazer e que davam prazer”, finalizou a psicóloga.

Em Manaus, a Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM) atende casos de violência digital, entre outros crimes que ameacem a segurança das vítimas. As três unidades estão localizadas:

  • Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher – Pq. 10 de Novembro – Manaus, Amazonas
    Telefone: (92) 3236-7012 / 3642-7676
  • Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher – Cidade de Deus – Manaus, Amazonas
    Telefone: (92) 3582-1610
  • Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher – Colônia Oliveira Machado – Manaus, Amazonas
    Telefone: (92) 3214-3653

Vale lembrar que denúncias também são recebidas pelo 190 (Polícia Militar) em caso de emergência, e também pelo Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher — um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra as mulheres.

Leia mais: Polícia procura mulher desaparecida no Monte das Oliveiras, em Manaus

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