No emaranhado de rios e florestas da Amazônia, o tráfico de drogas impõe suas próprias regras enquanto o Estado brasileiro segue contabilizando estatísticas que não mudam a realidade. O Amazonas, responsável por 80% das drogas apreendidas na Região Norte no primeiro trimestre de 2025, parece travar uma guerra solitária e sem fim. As 11,3 toneladas confiscadas impressionam no papel, mas escondem um dado ainda mais brutal: para cada carga interceptada, outras tantas seguem impunes pelas veias abertas da fronteira amazônica.
A logística do crime é sofisticada — submarinos artesanais, rotas fluviais, pistas clandestinas e drones garantem um fluxo ininterrupto. A resposta do Estado, por outro lado, permanece fragmentada: operações esporádicas sem presença permanente, sem integração real com os países vizinhos, sem um plano que ataque a raiz do problema.
O tráfico não encontra concorrência nas periferias de Manaus e nos municípios isolados. Onde o governo não chega com escola, saúde e emprego, o crime chega com oferta, rotina e senso de pertencimento. Um jovem que abandona os estudos em meio à evasão escolar crescente e ao desemprego juvenil que beira os 25% encontra no crime organizado a única escada social visível.
A cooperação internacional com Colômbia e Peru, de onde vem grande parte das drogas, continua sendo mais discurso do que ação. Enquanto isso, as comunidades ribeirinhas, abandonadas pelo poder público, tornam-se terra de ninguém — ou pior, terra de alguém: dos que dominam pelo medo.
O impacto é contado em vidas. Os 1.842 homicídios registrados em 2024 no estado, muitos ligados à disputa entre facções, evidenciam a conta da omissão institucional paga com sangue. Toneladas apreendidas em coletivas de imprensa não bastam. É preciso romper a lógica de combater sintomas e atacar a doença: exclusão, desigualdade, negligência estrutural.
Não se vence o tráfico com manchetes ou ações pontuais. Vence-se com Estado presente antes, durante e depois da crise. Com políticas públicas reais, que ofereçam mais do que o crime pode prometer. Sem isso, o Amazonas seguirá aprisionado em uma guerra onde quem mais perde é sempre quem tem menos.
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