Tem quem acredite que o casamento só é “completo” com filhos correndo pela casa e brinquedos espalhados pelo chão. Mas será que a felicidade conjugal depende mesmo disso? E se, no fundo, o que sustenta um casal for menos barulho de criança e mais alinhamento de expectativas?
Com esse olhar, a estudante de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Isabella de Sousa investigou o que realmente move a satisfação conjugal. Na pesquisa “Parentalidade e satisfação conjugal: comparação entre casais com e sem filhos”, a autora revela os reais fatores que impactam a qualidade da vida a dois.
Filhos não são determinantes para a felicidade no casamento
O estudo aponta que a presença ou ausência de filhos, por si só, não interfere no grau de satisfação conjugal. Com entrevistas e análises estatísticas, a pesquisa mostra que o fator decisivo é a qualidade da conexão entre os parceiros.
“Relacionamento feliz é aquele em que há propósito conjunto, comunicação sincera, apoio mútuo”, afirma Isabella. O tom das conversas, o respeito ao espaço do outro e a forma de enfrentar as dificuldades juntos fazem toda a diferença.
Na prática, os relatos revelam dois cenários distintos. Casais com filhos relatam cansaço, rotinas exaustivas e dificuldade em manter o romance. Já os que não têm filhos celebram a liberdade e a autonomia, mas ainda enfrentam olhares julgadores da sociedade.
“A sociedade ainda insiste em ver a parentalidade como único destino legítimo do amor adulto. Mas a felicidade não bate ponto em cartório nem carimba certidão de nascimento. O que faz a diferença não é a estrutura da família, mas o tipo de construção emocional que ela abriga”, resume a pesquisadora.
Onde mora o desgaste no casamento
Quem nunca ouviu aquela história de que a relação azedou “do nada”? Para a orientadora do estudo e professora de Psicologia do CEUB, Izabella Melo, a pesquisa revela que a insatisfação conjugal não aparece de forma repentina.
“Ela vai se acumulando em doses homeopáticas, com uma falta de atenção aqui, uma conversa não dita ali, um toque que se perdeu e, quando se vê, o copo emocional transbordou”, explica a professora.
Entre os principais sinais de desgaste estão o afastamento, discussões recorrentes, silêncio desconfortável e aquela sensação de que algo se perdeu pelo caminho. “Muitas vezes, um percebe e o outro acha que está tudo bem. Mas é raro que um esteja mal e o outro não sinta os reflexos. A rotina, essa entidade invisível e incansável, costuma ser a grande vilã. Ela entra sem pedir licença e vai empurrando o afeto para os cantos da casa até que sobra pouco espaço para o amor respirar”, acrescenta Izabella.
Quando procurar ajuda ou repensar a relação
Apesar dos desafios, a saída nem sempre é o fim da relação. Segundo a orientadora, abrir espaço para o diálogo é fundamental. “Quando o diálogo ainda existe, mesmo que difícil, é possível renegociar afetos. Quando o silêncio se instala e os conflitos se repetem em looping, a terapia de casal pode ajudar a quebrar esse ciclo”, explica.
A professora reforça que a terapia não é um “salão de resgate de amores à beira do naufrágio”, mas um espaço de verdade. “Às vezes, a separação pode ser o cuidado mais profundo a oferecer a si mesmo”, defende.
“Continuar em um relacionamento que já não abriga segurança, apoio ou crescimento pessoal pode minar a autoestima e adoecer o sujeito. A separação, nesses casos, não é fracasso, é renascimento”, afirma.
Conclusão da pesquisa
A pesquisadora Isabella de Sousa conclui que sua pesquisa cumpre o objetivo de ampliar a compreensão sobre as diferentes formas de viver a conjugalidade. “A grande conclusão é que a satisfação conjugal não depende da presença ou ausência de filhos, mas da forma como os parceiros constroem essa relação em conjunto”, finaliza.
(*) Com informações da assessoria
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