Na sexta-feira (27), representantes das Nações Unidas denunciaram o sistema de ajuda humanitária controlado por Estados Unidos e Israel, associando-o a mortes em massa de civis famintos que buscam comida na Faixa de Gaza.
“A busca por comida nunca deve ser uma sentença de morte”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Contrariado, o Ministério das Relações Exteriores de Israel reagiu acusando a ONU de sabotar os esforços de ajuda humanitária, junto com o Hamas.
Chefe da UNRWA: Gaza virou “campo de extermínio”
Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, afirmou que o novo sistema de distribuição de ajuda virou um “campo de extermínio”.
“Pessoas [estão sendo] alvejadas enquanto tentam conseguir comida para si e suas famílias”, disse. “Essa abominação precisa acabar com a retomada das entregas humanitárias pela ONU, incluindo a UNRWA.”
A UNRWA liderou durante décadas a assistência humanitária em Gaza com apoio de outras organizações. Mas após Israel acusar funcionários da agência de envolvimento no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, sua atuação foi proibida.
Investigações detectaram problemas de neutralidade dentro da UNRWA, mas não encontraram provas conclusivas que sustentassem a principal acusação israelense.
Mortes e repressão em centros de ajuda
Segundo autoridades de Gaza, mais de 56 mil palestinos foram mortos desde o início da campanha militar israelense. O conflito foi deflagrado após o atentado do Hamas que matou mais de 1,2 mil pessoas e sequestrou outras 251 em Israel.
O jornal israelense Haaretz denunciou que soldados teriam atirado deliberadamente contra civis nas imediações dos centros de distribuição de ajuda humanitária. Após a publicação, o advogado-geral das Forças de Defesa de Israel (FDI) abriu uma investigação por possíveis crimes de guerra.
Centenas de palestinos teriam sido mortos somente no último mês nessas circunstâncias, segundo fontes médicas e agentes públicos em Gaza.
Soldados disseram ao Haaretz que receberam ordens para atirar contra multidões desarmadas, mesmo sem ameaça aparente.
Conforme o jornal, militares podem atirar em qualquer pessoa que se aproxime dos centros antes do horário de abertura ou após o fechamento, para dispersá-las. As FDI negaram essas ordens, afirmando que buscam melhorar a “resposta operacional” e instalaram novas rotas e cercas nos pontos de distribuição.
“Zona de morte”: relatos de soldados em Gaza
Um soldado israelense, sob anonimato, descreveu ao Haaretz a situação nas áreas de ajuda como uma “zona de morte”.
“Onde eu estava destacado, entre uma e cinco pessoas morriam diariamente. Eles os tratam como uma força hostil: sem medidas de controle de multidões, sem gás lacrimogêneo, apenas disparando balas com tudo o que se pode imaginar: metralhadoras pesadas, lança-granadas, morteiros.”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reagiu às denúncias dizendo que são “falsidades maliciosas projetadas para difamar” as FDI.
Mais de 500 mortos em busca de ajuda desde maio
Desde o final de maio, mais de 500 palestinos morreram e 4 mil ficaram feridos enquanto tentavam acessar centros de distribuição de alimentos em Gaza, segundo autoridades locais. Esses centros estão sob responsabilidade da Gaza Humanitarian Foundation (GHF), criada em fevereiro com apoio financeiro dos EUA e de Israel.
A GHF assumiu a liderança da ajuda humanitária no território palestino no final de maio, substituindo ONGs mais experientes. Suas ações ocorrem sob escolta armada de ex-militares americanos.
Forças israelenses impuseram toque de recolher noturno nas rotas que levam aos centros da GHF, mas muitos palestinos se arriscam a sair antes do amanhecer para tentar conseguir comida.
A chegada da GHF coincidiu com um bloqueio israelense de dois meses e meio à entrada de alimentos, água e suprimentos médicos. Apesar dos vídeos e relatos de ataques, a GHF nega a existência de incidentes ou fatalidades em seus centros de distribuição.
Em comunicado, a GHF afirmou que as FDI são responsáveis por garantir a passagem segura dos civis às organizações humanitárias, incluindo a própria fundação.
(*) Com informações da Band
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