Apesar dos avanços legais das últimas décadas, pessoas LGBTQIAPN+ ainda enfrentam barreiras significativas no mundo profissional. Estigmas históricos, invisibilidade e desigualdades estruturais mantêm a exclusão, tornando essencial a atuação efetiva de instituições públicas, especialmente do sistema de Justiça. Nesse contexto, o Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (AM/RR) promove o 1º Ciclo pelo Orgulho e pela Diversidade no Poder Judiciário do Amazonas, nesta quinta (17) e sexta-feira (18), reafirmando seu compromisso com a inclusão e a representatividade.
Desafios persistem no ambiente institucional
Apesar de avanços na promoção da equidade, a LGBTfobia ainda aparece de forma sutil e institucional. Segundo o relatório Cadernos LGBTQIA+ Cidadania, publicado em 2025 pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a discriminação se manifesta de maneira silenciosa e difícil de identificar. Entre os principais obstáculos estão falhas administrativas, falta de dados sistematizados, resistência a políticas inclusivas e ausência de estruturas para proteger a população LGBTQIAPN+.
A juíza do Trabalho Larissa de Souza Carril, lésbica e integrante do Comitê de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral, do Assédio Sexual e da Discriminação do TRT-11, reconhece avanços institucionais. “A Justiça do Trabalho tem, sim, caminhado no sentido de ser um espaço mais acolhedor e justo para as pessoas LGBTQIAPN+”, afirma. Ela observa que “o preconceito nem sempre é dito, mas aparece nas omissões, na falta de sensibilidade”, e destaca sinais positivos: “Tudo isso mostra um desejo de transformar, de ouvir, de incluir”.
Avanços e manifestações sutis de preconceito
O juiz do Trabalho Igo Zany Nunes Correa, também homossexual e integrante do Comitê, reforça que há um processo contínuo de transformação, com avanços no letramento e ações voltadas à diversidade. “Hoje, posso me assumir sem maiores dificuldades, sem receio de sofrer constrangimentos ou situações de preconceito”, diz.
Ele alerta que manifestações sutis ainda são comuns no ambiente profissional. “Às vezes, elas aparecem em tom de brincadeira: uma piada sobre o ‘jeito’ de alguém, uma insinuação sobre comportamento ou aparência, algo aparentemente inofensivo, mas que carrega julgamentos e reforça estereótipos”, explica.
O juiz do Trabalho André Fernando dos Anjos Cruz, homossexual e integrante do Comitê de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-11, observa que a discriminação muitas vezes ocorre “de forma discreta, quase imperceptível, mas com efeitos muito graves”. Ele enfatiza que reconhecer essas realidades é fundamental: “Reconhecer essas realidades como afrontas aos direitos fundamentais é parte da missão do Judiciário”, destaca, defendendo “letramento institucional, formação continuada e compromisso ético com a diversidade”.
Combater a LGBTfobia exige reconhecimento e ação
Para Larissa Carril, o combate à LGBTfobia começa pelo reconhecimento. “O primeiro caminho é olhar para dentro. É reconhecer que, sim, o Judiciário também tem suas falhas, seus preconceitos, muitas vezes enraizados de forma estrutural”, afirma. Ela defende escuta ativa e formação continuada: “Não adianta falar de diversidade sem ouvir quem vive a exclusão na pele”.
A magistrada ressalta que a inclusão plena exige a presença real de pessoas LGBTQIAPN+ no Judiciário: “A diversidade não pode ser apenas um tema de cartilha. Ela precisa ser prática cotidiana, política institucional e compromisso ético”.
André dos Anjos reforça a importância de enfrentar violências simbólicas e estruturais que ainda afetam a vida da população LGBTQIAPN+, especialmente crianças, adolescentes e trabalhadores. “Não há mais espaço, na atual fase da humanidade, para admitir piadas homofóbicas, brincadeiras que ceifam com vida de crianças e adolescentes, atitudes que menosprezam a saúde mental de quem sofre na pele, dia a dia, a dor do preconceito. Precisamos avançar e lembrar todos os dias que existimos. E que resistiremos”, conclui.
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