A destruição em Gaza não afeta apenas a população humana. Com a cidade em ruínas, corpos espalhados pelas ruas e meses de ofensivas israelenses, até os animais foram afetados pela brutalidade da guerra.
Moradores relatam que cães de rua, famintos e sem acesso a alimento, passaram a devorar cadáveres humanos e atacar pessoas nas ruas.
“À noite, ouvimos os cães uivarem. Eles ficaram selvagens de tanto comer corpos. Até o jeito de latir mudou, está mais feroz”, disse à CNN o palestino Majdi Abu Hamdi, de 40 anos, pai de quatro filhos.
Segundo ele, os ataques se estendem também a outros animais:
“Há dois dias, um gato se aproximou por engano. Mais de vinte cães o atacaram e o despedaçaram.”
As cenas descritas refletem o colapso completo da vida cotidiana na Cidade de Gaza. Sem comida, sem coleta de lixo e sem controle de zoonoses, as ruas se tornaram perigosas não só por conta dos bombardeios, mas também pela ação de animais famintos.
Famílias contam que evitam sair de casa à noite. O medo agora vem também dos cães que vagam e uivam pelas ruas em busca de qualquer resquício de alimento.
ONU confirma: Cidade de Gaza enfrenta fome pela primeira vez
Pela primeira vez, a Cidade de Gaza foi oficialmente classificada como em estado de fome. O dado foi publicado nesta sexta-feira (22) pelo relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) — órgão apoiado pela ONU, responsável por monitorar a fome no mundo.
Segundo o documento, 500 mil pessoas vivem em condições “catastróficas”, marcadas por fome extrema, miséria e risco elevado de morte.
A ONU afirmou que a situação poderia ter sido evitada com ações do governo israelense e classificou o uso da fome como arma de guerra como crime de guerra. O governo de Israel respondeu chamando o relatório de “mentira descarada”.
A Província de Gaza, onde está a capital do enclave, foi classificada na fase 5 da Escala de Insegurança Alimentar Aguda (AFI) — o nível mais grave. Apenas quatro vezes essa classificação foi registrada desde 2004:
- Somália (2011)
- Sudão do Sul (2017 e 2020)
- Sudão (2024)
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