As Forças Armadas de Israel anunciaram nesta sexta-feira (19) que operariam com uma “força sem precedentes” na cidade de Gaza, ordenando que os civis deixem o local. A escalada da ofensiva terrestre visa controlar o maior centro urbano do território, quase dois anos após o início da guerra, que resultou em uma crise humanitária severa e em fome declarada pelas Nações Unidas.
A operação incluiu ataques aéreos e disparos de tanques contra o enclave, marcando mais uma etapa da tentativa israelense de avançar sobre áreas urbanas densamente povoadas.
Ofensiva antecede decisão da ONU sobre Estado palestino
O avanço militar acontece às vésperas de uma cúpula da ONU em que países como Reino Unido e França planejam reconhecer oficialmente um Estado palestino. As forças israelenses lançaram a atual ofensiva terrestre na última terça-feira e, desde então, orientam a população a seguir para o sul.
No entanto, o deslocamento tem se mostrado inviável para muitos civis. A defesa civil de Gaza afirma que 450 mil palestinos já fugiram da cidade.
“Há vários dias, estamos tentando evacuar para o sul, mas não conseguimos encontrar nenhum meio de transporte”, relatou Khaled al-Majdalawi, 32 anos, à AFP. “Finalmente encontramos uma maneira de sair no início desta manhã. Empacotamos nossos pertences e esperamos por horas, mas até agora ninguém veio e o motorista não está nos respondendo”.
Segundo a ONU, cerca de um milhão de pessoas viviam na cidade de Gaza e nos arredores até o final de agosto. O exército de Israel estima que 480 mil pessoas já deixaram a região desde então.
Única rota de saída permanece pela estrada al-Rashid
Ainda na sexta-feira, o exército israelense anunciou o fechamento de uma rota de retirada temporária, aberta dois dias antes. A única via de evacuação restante é a estrada al-Rashid, que margeia a costa do Mediterrâneo.
“O [exército] continuará a operar com força sem precedentes contra o Hamas e outras organizações terroristas”, afirmou Avichay Adraee, porta-voz em árabe, em publicação no X (antigo Twitter). “Aproveitem esta oportunidade e juntem-se às centenas de milhares de residentes da cidade que se mudaram para o sul, para a área humanitária”.
Fuga a pé e exaustão de civis palestinos
As Forças Armadas israelenses orientam os palestinos a se deslocarem para a região costeira de al-Mawasi, classificada como “área humanitária”. Apesar disso, a área já foi alvo de bombardeios, mesmo após ter sido declarada zona segura no início do conflito.
“Caminhamos mais de 15 quilômetros, rastejando de exaustão”, disse Nivin Ahmed, 50 anos, à AFP. Ela fugiu da cidade de Gaza para Deir el-Balah com sete familiares. “Meu filho mais novo chorava de cansaço. Nós nos revezávamos para puxar um carrinho pequeno com alguns de nossos pertences”.
Já Mona Abdel Karim, 36, relatou que passou duas noites na estrada al-Rashid com a família, esperando por transporte. “Sinto que estou prestes a explodir. Não podemos andar a pé, os pais do meu marido são idosos e doentes, e as crianças estão fracas demais para andar”, disse.
Fotografias da AFP mostram longas filas de palestinos a pé ou em veículos sobrecarregados indo para o sul, em meio a paisagens de destruição e fumaça.
Bombardeios e mortes aumentam na cidade de Gaza
O porta-voz da agência de defesa civil de Gaza, Mahmud Bassal, relatou “bombardeios de artilharia e tiros intermitentes” no bairro Tel al-Hawa, além de ataques com drones no noroeste da cidade e ofensivas em vários bairros.
Na sexta-feira, ao menos 33 pessoas morreram em ataques israelenses em todo o território, sendo 18 na cidade de Gaza, de acordo com hospitais locais ouvidos pela AFP.
Em comunicado, o exército israelense informou que suas tropas utilizam tanques, drones armados e ataques aéreos para atingir militantes, desmantelar infraestrutura e localizar armas.
ONU acusa Israel de genocídio; Tel Aviv reage
A ofensiva ocorre no momento em que uma investigação da ONU acusa Israel de cometer “genocídio” na Faixa de Gaza. A denúncia envolve o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e outros líderes israelenses por incitação ao crime.
O governo de Israel rejeitou as acusações, classificando o relatório como “distorcido e falso”.
Balanço da guerra: milhares de mortos
O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 iniciou o conflito. Na ocasião, 1.219 pessoas morreram, a maioria civis, segundo levantamento da AFP com base em dados oficiais.
Em resposta, a campanha militar israelense resultou na morte de 65.174 palestinos, também em sua maioria civis, conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pelas Nações Unidas.
(*) Com informações do O Globo
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