O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (7) que conflitos armados, como a guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia há quase quatro anos, interromperam a redução das emissões de gases poluentes e podem levar o planeta a um colapso ambiental.

“O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para a redução da emissão de gases do efeito estufa e levou à reabertura de minas de carvão. Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático. Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado”, afirmou Lula na abertura da segunda sessão temática da Cúpula do Clima, em Belém, que discute os desafios da transição energética.

A Cúpula do Clima, que termina nesta sexta-feira, reúne líderes de diversos países e antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para 10 a 21 de novembro, também em Belém. O encontro tem como objetivo reforçar os compromissos multilaterais frente à crise climática global.

O evento conta com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, do presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Lula ressaltou que, apesar dos avanços na mudança da matriz energética, milhões de pessoas em países pobres e em desenvolvimento ainda estão distantes de uma transição energética justa.

“É fundamental combater todas as formas de pobreza energética: 2 bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar, 660 milhões de pessoas dependem de lamparinas e geradores a diesel nas periferias das grandes cidades e nas comunidades rurais da América Latina e da África. E 200 milhões de crianças frequentam escolas sem acesso à luz elétrica. Sem energia, também não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna”, observou o presidente.

Crítica ao sistema financeiro e ao setor de petróleo

Diante de líderes de diferentes nações, Lula criticou o sistema financeiro internacional, que, segundo ele, continua alimentando o setor de combustíveis fósseis.

“No ano passado, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder US$ 869 bilhões de dólares para o setor de petróleo e gás. Desde a adoção do Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global diminuiu apenas de 83% para 80%”, citou Lula.

O presidente também defendeu medidas para corrigir desigualdades estruturais e anunciou a criação de um fundo que direcionará lucros do setor de óleo e gás para investimentos em energia renovável.

“Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda o acesso a tecnologia e financiamento a países do Sul Global. Há espaço para explorar mecanismos inovadores de troca de dívidas por financiamento de iniciativa de mitigação climática e transição energética.”

“Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para a transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento. O Brasil estabelecerá um fundo desta natureza para financiar o enfrentamento da mudança do clima e estabelece justiça climática”, afirmou Lula.

Compromissos para 2030

O presidente encerrou seu discurso com um chamado à implementação do acordo da COP28, realizada em Dubai, que prevê triplicar a energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030.

Ele também pediu que os países coloquem a eliminação da pobreza energética nos planos climáticos nacionais.

“Os cientistas já cumpriram seu papel. Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento. E nós, os líderes, devemos decidir se o Século 21 será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, finalizou.

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