Com as férias chegando, muitos responsáveis encaram uma “dupla ou tripla jornada”: trabalho, casa e crianças em tempo integral. Amar os filhos não elimina o cansaço. A literatura descreve o esgotamento parental como um estado de exaustão, distanciamento emocional e sensação de ineficácia quando as demandas superam os recursos (Mikolajczak; Roskam, 2018). Cuidar de quem cuida é parte do cuidado com as crianças.
Mapeamentos recentes indicam fatores de risco e proteção: carga mental elevada, falta de sono e ausência de rede de apoio aumentam a vulnerabilidade; pausas reais, divisão de tarefas e suporte social reduzem o risco de esgotamento (Ren et al., 2024). Diretrizes internacionais lembram que adultos disponíveis e descansados favorecem o desenvolvimento infantil e a prevenção de violência doméstica, recomendando parentalidade positiva e rotinas previsíveis (WHO, 2018; UNICEF, 2024).
Há caminhos práticos e baseados em evidências. Intervenções de atenção plena aplicada à parentalidade reduzem estresse e melhoram o clima familiar, com efeitos positivos também nas crianças (Burgdorf et al., 2019). Programas que fortalecem o coparental e a qualidade do relacionamento do casal associam-se a melhor comunicação, divisão de tarefas e bem-estar dos pais e das crianças (Feinberg, 2016). Quando o casal compartilha estressores e estratégias, a saúde mental tende a melhorar e isso se reflete no cotidiano infantil (Landolt; Rieger; Falconier, 2023).
Férias são uma chance de ajustar a rotina e proteger o vínculo. Pausas não são egoísmo: são recarga para continuar cuidando. O objetivo não é um dia perfeito, e sim um dia funcional, com responsabilidades distribuídas e momentos de presença de qualidade.
Checklist de férias para uma rotina funcional
- Turnos de cuidado: alternar quem fica de “referência” em blocos previsíveis do dia e avisar a criança sobre quem coordena cada período.
- Tempo um-a-um: 15 a 20 minutos diários de atenção exclusiva com cada filho, sem telas, em uma atividade simples escolhida pela criança.
- Plano do casal ou tempo individual: reservar ao menos dois blocos semanais de 30 a 60 minutos para conversar, caminhar, ler ou simplesmente descansar.
- Rede de apoio: combinar trocas com familiares, amigos e vizinhos; dividir caronas, parques e brincadeiras coletivas.
- Acordo de telas e sono: regras por idade, encerrar telas uma a duas horas antes de dormir, evitar uso no quarto; priorizar brincadeiras ao ar livre, leitura e jogos compartilhados.
- Divisão de tarefas: listar o que precisa ser feito, redistribuir de forma justa e revisar ao fim da semana.
- Sinais de alerta: irritação contínua, choro fácil, sensação de “desligamento” dos filhos, insônia persistente ou culpa constante. Nesses casos, buscar orientação breve e, se necessário, avaliação profissional (Burgdorf et al., 2019; Landolt; Rieger; Falconier, 2023).

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