Dezembro costuma reorganizar a rotina das famílias. As escolas entram em férias, muitas clínicas suspendem atendimentos e pais precisam conciliar trabalho, casa e cuidados dos filhos. Para crianças com necessidades especiais, esse período pode gerar dúvidas e apreensão. Embora o recesso seja parte do planejamento terapêutico, compreender o que acontece nesse intervalo ajuda a manter estabilidade emocional e prevenir desgastes.

Pesquisas mostram que a regularidade das intervenções favorece a autorregulação, a aprendizagem e o comportamento adaptativo (Arrondo et al., 2022; Kerns et al., 2015). Com a pausa, pode ocorrer redução da previsibilidade, elemento importante para segurança emocional. Essa mudança não significa retrocesso; significa apenas que a criança precisará de novos pontos de referência dentro da rotina doméstica.

Para os pais, o período também traz desafios. Estudos sobre parentalidade apontam que a sobrecarga aumenta quando os serviços de apoio estão temporariamente suspensos (Mello et al., 2020). A combinação entre tarefas domésticas, trabalho e cuidados intensivos pode gerar cansaço e sentimento de insuficiência. Por isso, é essencial substituir a culpa por planejamento e pequenas ações consistentes.

Ambientes familiares inclusivos funcionam como proteção emocional. Quando há previsibilidade, clareza nas atividades e comunicação acolhedora, as crianças demonstram menor frequência de irritabilidade e maior engajamento (Pereira et al., 2021). Adaptações simples, como sinalizar transições, reduzir estímulos quando necessário ou dividir tarefas em etapas, ajudam a manter continuidade entre casa e terapia.

A boa notícia é que os pais podem aplicar estratégias baseadas em evidências durante o recesso. Pequenos momentos de interação estruturada fortalecem vínculos e apoiam habilidades em desenvolvimento. Atividades naturais como leitura conjunta, jogos simples, caminhadas e brincadeiras sensoriais são recomendadas por favorecer regulação e atenção compartilhada (Shanker, 2016).

Foto: Divulgação

Checklist prático para o recesso terapêutico famílias atípicas

  • Mantenha uma rotina básica. Horários aproximados para acordar, alimentação e sono favorecem estabilidade emocional.
  • Use antecipações visuais ou verbais. Avisar o que vai acontecer reduz ansiedade.
  • Aplique orientações já recebidas na terapia. Dividir tarefas em etapas, oferecer escolhas e reforçar comportamentos desejados.
  • Inclua atividades ao ar livre. Caminhadas curtas, parques e brincadeiras de movimento ajudam na autorregulação.
  • Crie momentos de conexão. Cinco minutos de atenção exclusiva por dia têm impacto positivo.
  • Cuide de você. Revezar tarefas com outro adulto e reservar pausas curtas é fundamental para manter o equilíbrio.

O recesso não interrompe o cuidado. Ele apenas desloca o cenário da clínica para a casa, onde pequenas ações consistentes sustentam o desenvolvimento e fortalecem toda a família.

Ana Claudia

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