A prescrição médica que autorizava a aplicação de adrenalina na veia do menino Benício Xavier, de 6 anos, foi escondida nos jalecos da enfermeira Francineide Macedo e da técnica Tabita Costa, no Hospital Santa Júlia, em Manaus.

Segundo depoimentos prestados pelas duas à Polícia Civil, o documento foi protegido por medo de que a médica responsável, Juliana Brasil, alterasse a prescrição após perceber o erro na dose.

Investigações

As investigações indicam que a médica Juliana Brasil prescreveu a dose incorreta, e a técnica de enfermagem Raiza Bentes aplicou o medicamento de forma intravenosa.

Francineide e Tabita contaram à Polícia Civil que mantiveram a prescrição original assinada por Juliana para evitar que fosse substituída por um novo documento, o que poderia prejudicar a investigação.

De acordo com relatos ao delegado Marcelo Martins, responsável pelas investigações, a prescrição foi inicialmente guardada pela enfermeira Francineide, que a manteve no bolso por receio de alterações. Durante o atendimento, o documento passou temporariamente para o jaleco da técnica Tabita, que o manteve seguro até devolvê-lo ao enfermeiro Tairo Neves Maciel, supervisor dos técnicos de enfermagem no dia da ocorrência.

Francineide Macedo relatou que, após a piora do quadro de Benício, recomendou com urgência a transferência do menino para a UTI. Ela contou que a médica questionou a necessidade: “Mas vai ser preciso?”, perguntou Juliana, e Francineide respondeu: “Sim! Vamos agilizar a internação!”.

Com medo de que a médica rasgasse a prescrição para emitir uma nova, Francineide guardou o documento no bolso, que depois chegou às mãos da técnica Tabita. A ordem exata de repasse do documento não foi detalhada no relatório dos depoimentos.

Tabita Costa afirmou que manteve a prescrição impressa em seu jaleco enquanto fazia as anotações do atendimento. Após a transferência de Benício para a UTI, o enfermeiro Tairo pediu que o documento não fosse entregue à médica.

Tabita contou que guardou a prescrição até devolvê-la a Tairo, que continuou protegendo o documento. Ela disse que a equipe temia que a prescrição fosse apagada do sistema e substituída por outra. Posteriormente, Tabita percebeu que Juliana havia registrado o reconhecimento do erro, mas também atribuía parte da responsabilidade à equipe de enfermagem.

Possível adulteração de provas

O delegado Marcelo Martins informou que a Polícia Civil investiga uma possível tentativa de adulteração de provas por Juliana Brasil Santos, médica responsável pela prescrição incorreta de adrenalina.

Segundo Martins, profissionais que estavam no hospital relataram que Juliana teria tentado acessar a prescrição original para apagá-la e editar os dados no sistema, de modo que não constasse o erro na administração do medicamento, que foi aplicado por via endovenosa e não por nebulização.

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