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INFLAÇÃO

Inflação dispara e afeta a alimentação dos amazonenses

Alimentos indispensáveis para a composição do "prato feito" pesam o bolso do brasileiro e, principalmente, dos amazonenses

Foto: reprodução/Internet

Manaus (AM) – Motivo de dor de cabeça para os brasileiros, a inflação segue pressionando o custo de vida da população. Os ingredientes que fazem parte do consumo alimentar das famílias variam de acordo com cada região do país. Alimentos indispensáveis para a composição do “prato feito” pesam o bolso do brasileiro e, principalmente, dos amazonenses. Itens como carne vermelha, ovos, arroz e feijão não param de subir, junto com a busca por novas alternativas para substituir os alimentos.

Dados apontam aumento nas taxas da inflação. Em abril, a inflação apresentou alta de 1,06%, após ter alcançado 1,62% em março. Esse foi o maior resultado para o mês de abril desde 1996 (1,26%). No ano, o indicador acumula alta de 4,29% e, nos últimos 12 meses, de 12,13%, acima dos 11,30% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados em maio deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Conforme o levantamento, os principais impactos vieram de alimentação e bebidas – maiores variação (2,06%) e impacto (0,43 p.p.), que, ao lado dos transportes, contribuíram com cerca de 80% do IPCA de abril. As variações na alimentação e nos transportes é puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis que continuaram subindo (3,20% e 0,25 p.p.), assim como no mês anterior.

A alimentação na mesa da maioria dos brasileiros é afetada pelos valores inflacionados. Oito em cada dez entrevistados (78%) apontam que o consumo de alimentos e outros itens do abastecimento doméstico é o item que mais tem sido impactado pela inflação.

Mais da metade dos entrevistados (51%) acreditam que a sua vida financeira e familiar só irá se recuperar após 2022 ou isso nem sequer acontecerá. Quando pensam na recuperação da economia do país, é mais elevado o contingente de pessimistas (77%). Os dados são da pesquisa Radar Febraban, realizada com 3 mil pessoas, entre os dias 21 de maio a 2 de junho, nas cinco regiões do país.

Alimentos cada vez mais caros no Estado Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Item que não pode faltar na mesa dos amazonenses, o consumo da farinha ovinha tem pesado no bolso. Dados registrados pela Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (CDC), apontam alta de 45,11% da inflação no preço da farinha de mandioca. Antes, a queridinha dos amazonenses era encontrada por até R$ 5 e, atualmente, nos supermercados o valor varia entre R$ 8 e R$10.

Inflação e desemprego

A economista Denise Kossama destacou que para o amazonense as altas taxas da inflação se somam aos índices de desemprego no Estado. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgados pelo IBGE, mostram que a taxa de desocupação entre janeiro e março de 2022 no Amazonas é de 13%. No Brasil, a taxa média registrada foi de 11,1%. No Estado, a taxa segue maior do que a nacional.

“A inflação neste ano de 2022 corrói o bolso do brasileiro e do amazonense de forma bastante impactante. Principalmente se somarmos a esse indicador a taxa de desemprego no Amazonas, que já chega a 13% acima da média nacional. Então, o amazonense está com a renda reduzida, desempregado e tem o seu pouco rendimento corroído pela inflação. Isso significa que tudo está mais caro e, no nosso caso, até mais, pois sofremos com a questão logística.”

Denise pontuou ainda que o aumento nos combustíveis é um dos principais fatores que contribuíram para o impacto no preço final dos alimentos que compõem o prato do amazonense e ressaltou que cabe ao Governo Federal elaborar políticas públicas para reverter essa situação.

“Tudo o que consumimos vem do interior, no qual temos que levar em conta a questão da alta no valor dos combustíveis e isso soma no impacto ao preço final dos alimentos. O mesmo acontece com os alimentos vindos de outras regiões onde, além da inflação, também tem esse custo logístico aumentado”, explica a especialista.

A economista afirma que há a necessidade de políticas públicas para diminuir a desigualdade e facilitar os custos com a alimentação.

“O amazonense está ‘penando’ com a inflação dos alimentos e é muito triste quando esse processo começa a pesar no prato. Isso colabora para o aumento nos índices de extrema pobreza. Precisamos de políticas públicas emergenciais para reverter esse processo, minimizar esse impacto e reduzir esse custo logístico para facilitar o acesso das camadas mais pobres à alimentação de qualidade. Não podemos continuar vendo essas cenas das pessoas fazendo filas para comprar ossos de boi para fazer uma sopa”, destacou.

Alta nos preços prejudica moradores no interior do AM

A inflação afeta o consumo no interior do Amazonas. Nascido em Barcelos (AM) e morador de Novo Airão (AM) há 30 anos, o jornalista Sebastian Viana não esconde a preocupação com o aumento constante nos alimentos. Ressaltou ainda que, antigamente, fazia a cesta básica com R$300, mas o valor dobrou e o salário continua o mesmo.

“O aumento dos preços tem nos deixados muito preocupados. Antigamente eu fazia minha cesta básica com R$300, mas, atualmente, o valor dobrou e o salário continua o mesmo. Para conseguir me manter, tento fazer outras coisas nas horas vagas. A forma de ovos era R$7, agora varia de R$22 a R$25. A carne do tipo alcatra era R$20 e hoje custa R$42,50. Me sinto revoltado. Pagamos muitos impostos para nada”, disse.

A estudante de jornalismo Raely Cardoso de Carvalho também notou os altos valores nas compras feitas desde o mercadinho no bairro em que mora até os grandes supermercados. Moradora de Manacapuru (AM), a jovem declara que precisou fazer mudanças no carrinho de compras e pontua que optar pelas marcas mais em conta é o melhor caminho para driblar.

“O bolso pesa em todos os sentidos. A gente nota o alto do valor desde a compra em um mercadinho no bairro, até aos grandes supermercados. É bem claro que o carrinho de compras mudou bastante e a gente tenta de tudo um pouco. Mas, o que tem mais dado certo aqui em casa é a substituição de marcas, optando pelas mais em conta, e substituição de alimentos, como, por exemplo, a carne, optando por outras substituições. A maior alta foi nas carnes e no óleo, feijão e verduras também. Até no ovo”, afirmou.

O aumento no custo desses ingredientes que fazem parte do consumo alimentar das famílias começou com o início da pandemia da Covid-19 e se intensificou agora com a guerra da Ucrânia. Caso as expectativas de aumento da safra agrícola, de estabilização do dólar e de redução das tarifas de eletricidade com a volta das chuvas, os preços só devem começar a desacelerar no fim do segundo trimestre de 2022.

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