O esforço do governo para aprovar mudanças nos tributos a fim de atenuar as altas nos preços dos combustíveis deve proporcionar algum alívio na inflação deste ano, embora com algum efeito rebote no ano que vem.
Esta é a avaliação que vem sendo feita por analistas econômicos, que já revisam para baixo as projeções de inflação deste ano para algo em torno de 7,5% – ante estimativas ao redor de 9%. Para 2023, os números subiram e agora ficam entre 5% e 5,5%.
O Credit Suisse foi uma das primeiras instituições financeiras a anunciar revisão nas projeções. No início deste mês, o banco suíço alterou a expectativa de IPCA de 9,8% para 7,6% em 2022. O corte na projeção foi motivado pelo conjunto de propostas apresentado pelo governo na primeira semana de junho para reduzir os impostos federais e estaduais sobre eletricidade, combustível, telecomunicações e transporte urbano.
“Para o próximo ano, esperamos que a reversão dos cortes de impostos federais sobre os preços da gasolina aumente a inflação. Assim, aumentamos nossa inflação do IPCA de 5,1% para 5,3% em 2023, muito superior ao centro da meta de inflação de 3,25% e da meta limite superior de 4,75% em 2023”
, informou o banco.
Boa parte dos analistas começou a refazer as contas após ser divulgado o resultado do IPCA-15 de junho e de ser sancionada a lei que estabelece teto para alíquota do ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. Também exerce influência sobre o cálculo do IPCA a desoneração do PIS/Cofins de gasolina e etanol, válida até 31 de dezembro.
Conforme mostrou Álvaro Gribel na coluna da Míriam Leitão, o Itaú reduziu de 8,7% para 7,5% a projeção de inflação deste ano por conta da queda no ICMS dos combustíveis, e manteve o número de 5,6% para 2023.
Em relatório, a XP revisou a projeção de inflação para 2022 de 9,2% para 7% em função das novas regras para a cobrança do ICMS e da desoneração dos tributos federais sobre gasolina e etanol. O anúncio veio na segunda-feira (27), após a divulgação do IPCA-15 na sexta anterior.
Tatiana Nogueira, economista da XP, explicou em nota que considera que haverá impactos sobre o IPCA da alteração alíquota do ICMS para energia elétrica e telecomunicações a partir do dia 1º de julho, enquanto para os combustíveis o impacto foi postergado para o dia 15, devido às incertezas e risco de judicialização.
“Para 2023, parte das medidas de desoneração perderá validade e o efeito inflacionário já será visto em janeiro do próximo ano, parcialmente compensado pela menor inércia inflacionária. Além disso, atualizamos as projeções do modelo com expectativas para o próximo ano e uma taxa de câmbio média este ano mais elevadas. O efeito líquido para a nossa projeção de 2023 corresponde a 50 pontos-base, levando ao aumento de 4,5% para 5% (do IPCA em 2023)”
, explicou Tatiana.
O Modalmais também revisou as projeções para a inflação após a divulgação do IPCA-15, na última sexta-feira (24). Felipe Sichel, economista-chefe do banco digital, disse que as medidas tributárias aprovadas devem trazer recuos no indicador, principalmente nos preços administrados, que deverão mostrar efeito rebote no ano que vem. A projeção para o IPCA passou de 8,8% para 7,5% em 2022, enquanto a de 2023 foi de 5% para 5,5%.
O banco Original também revisou as suas estimativas. A expectativa de um IPCA de 9,2% em 2022 passou para 8%, capturando o efeito de 1,2 ponto proveniente do teto do ICMS.
“Entretanto, vale mencionar que a medida também traz um “efeito rebote” sobre 2023, o qual estimamos ser de 0,5 p.p. Sendo assim, nossa inflação sairia de 5%, já acima da banda superior das metas de inflação, para 5,5%”
, afirma Marco Caruso, economista-chefe do banco Original.
Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, afirma que o banco está revisando as projeções para a inflação de 2022 e 2023, mas destaca que as medidas aprovadas como a desoneração PIS/Cofins e o teto do ICMS têm efeito baixista para a inflação deste ano. Ela cita ainda o retorno de impostos para os consumidores de energia elétrica, que pode ter influência sobre o indicador.
“Considerando um repasse completo para o consumidor ainda em 2022, o efeito poderia ser de quase 3 pontos”
, calcula.
*Com informações do IG Economia
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