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RENDA EXTRA

Amazonenses realizam “bicos” para complementar renda e fechar contas no fim do mês

No país, cerca de 60% das pessoas que têm um emprego formal, fazem “bicos” para adquirir renda extra

Foto: Marcello Casal Jr. Agência Brasil

Manaus (AM) – Sem reajuste salarial e pressionados com a alta nos produtos – principalmente com a alimentação –, grande parte da população brasileira que atua em trabalhos formais tem buscado alternativas para complementar a renda e manter as contas em dia. Dentro desse cenário, “honrar” com os compromissos tem se tornado um desafio em que, para driblá-los, os brasileiros tem feito o famoso “bico” para garantir um dinheiro a mais.

Cerca de 60% das pessoas que têm um emprego formal fazem “bicos” para adquirir uma renda extra. Muitos desses brasileiros precisam realizar atividades como a fabricação de artesanatos, limpeza domésticas ou como motorista de aplicativo, por exemplo, para garantir o sustento no fim do mês. Os dados são da pesquisa BARE International, divulgada no primeiro semestre de 2022.

Números do estudo “Retrato do Trabalho Informal no Brasil: desafios e caminhos de solução”, divulgado pela Fundação Arymax e a B3 Social apontam ainda que mais de 19,6 milhões de brasileiros sobrevivem apenas com os “bicos”.

Conforme o levantamento da plataforma Acordo Certo, 57% dos entrevistados começaram a buscar outras alternativas pelas dificuldades causadas pela pandemia. Para 82% a atividade extra é essencial para a renda da casa e a maioria delas (80%) quer continuar com os bicos mesmo após equilibrar as contas. 

Na capital amazonense a realidade é semelhante ao restante do país, como é o caso do Edson Silva Pinto, de 50 anos. Formado em administração e atualmente trabalhando em um escritório, Edson também trabalha com o fornecimento de refeição, produção de café da manhã, além da fabricação e entrega de bolos e salgados.

Casado e pai de dois filhos, ressalta que o principal fator que o levou a trabalhar ao lado da esposa com o setor alimentício foi a questão da pouca renda que ambos reúnem para manter a família.

“A gente está com um salário um pouco defasado e a minha esposa sempre teve prática com comida. Principalmente com bolo e guloseimas em geral. De vez em quando a gente fazia aqui os arraiais e surgiu a oportunidade de fornecer o almoço no local onde trabalho. Está sendo muito gratificante por ser algo que está completando nossa renda. Sou casado e tenho dois filhos, foi isso que levou a gente a começar a fazer”,

destacou.

Fornecendo e entregando a refeição em horário de almoço para o escritório em que trabalha, Edson destaca ainda que, sem o trabalho alternativo, não conseguiria complementar a renda para manter a família.

“É bem útil para completar renda. Muito útil mesmo. Porque se eu fosse viver só do meu salário, com certeza não ia dar para a gente se manter. Mas, graças a Deus, com a renda auxiliar aqui dos alimentos estamos vivendo bem”,

reforçou.

Para o funcionário público Elcio Queiroz, de 41 anos, trabalhar com algo alternativo também é essencial para a complementação da renda mensal. Atuando como motorista de transporte por aplicativo desde 2019, ele ressalta que, como todo e qualquer dinheiro é bem-vindo, trabalhar com aplicativo tem sido uma ótima alternativa para conseguir a quantia necessária.

“Às vezes, quando preciso pagar algo ou fechar as contas, penso logo: ‘quer saber vou rodar esse mês e conseguir esse dinheiro’. Principalmente pelo fato de algumas vezes não entrar no meu orçamento, então é muito bom pelo fato de entrar esse complemento na renda”,

enfatizou o funcionário público.

Funcionário público desde 1999, Elcio começou a ser motorista por aplicativo após passar por um quadro de depressão.

“Em 2018, eu estava passando por um princípio de depressão. Foi quando um amigo me apresentou, pois eu não conhecia e eu estava lotado no interior. Vim para a cidade e foi quando o amigo me sugeriu a começar a trabalhar como motorista por aplicativo. Ele disse ainda que, nessa trajetória, você ouve e fala com pessoas. Isso me ajudou muito a espairecer”,

apontou.

Para a economista Denise Kassama, a inflação é a maior vilã nessas situações, visto que os valores dos itens essenciais para a vida dos brasileiros e dos amazonenses continuam subindo.

“Não está fácil ser brasileiro. De uma forma geral, o brasileiro está tendo a sua renda corroída pelo processo inflacionário que já passou da casa dos dois dígitos há um bom tempo e os salários não sobem. Muitos estão com a renda reduzida e precisam fazer aporte de outros subsídios para buscar uma renda complementar. Acredito que muitos brasileiros estão fazendo isso. Seja trabalhando nos bicos como entregadores, com motorista por aplicativo”,

frisou.

De modo geral, o Brasil tem aproximadamente 1,5 milhão de pessoas que trabalham com transporte de passageiros e entrega de mercadorias. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A economista pontua ainda que, apesar desses trabalhos serem de suma importância para as famílias se manterem, quem trabalha com eles não têm vínculo empregatício com as empresas. Sem qualquer direito previsto por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), esses profissionais não têm limitação de jornada, remuneração mínima ou proteção em caso de acidentes.

“É importante que estão conseguindo lidar com as contas, mas, do ponto de vista econômico, a gente tem que destacar há uma degradação das relações trabalhistas. Esses empregos de bico, principalmente de motorista ou entregador de aplicativo, somente geram uma renda complementar que, embora seja importante no momento atual, não faz jus a direitos trabalhistas ou quaisquer outros tipos de benefícios. É uma precarização das relações trabalhistas. Embora seja importante, mas não é na melhor forma que poderia ser”,

finalizou.

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