Li com grande interesse reportagem de autoria da jornalista Rosa Towsend intitulada “A chefe tem onze anos” publicada no suplemento dominical Blanco Y Negro do diário ABC espanhol. Narra a história da garota Devon Green apontando-a como uma das empresárias mais influentes dos Estados Unidos (Flórida).
Homens de negócios de todo o país escutam suas conferências sobre capitalismo verde e capitalismo solidário, termos que a menina-prodígio (assim a chamam) inventou em seu idealismo, como novo conceito para transformar o mundo. Tudo começou em 1996.
Após as festas natalinas observou as latas vazias de refrigerantes e cervejas amontoadas nos coletores de lixo em frente a cada casa de seu bairro. Resoluta recolheu-as em sacos e disse a seus pais que ia revendê-las numa fábrica para reciclagem e ao mesmo tempo ganharia alguns dólares. A idéia veio do próprio sistema educacional dos E.U.A, que conscientiza as crianças a cuidar do meio ambiente, indicando os malefícios causados pelo acúmulo de vasilhames, e o fato de passarem mais de duzentos
anos para sua total desintegração.
O ensino norte-americano não cerceia a criatividade. Incita a trabalhos extra-classe como o de Devon. Seus pais são professores universitários de Ciências Empresariais e observando a iniciativa benéfica da filha ensinaram-lhe a ser empresária e acionista fundando sua própria empresa a “Heal the World Recycling” (Curar o mundo reciclando).
Da agenda da garota constam o colégio das 8hs às 3 da tarde. Depois o recolhimento de objetos recicláveis e o dinheiro obtido depositado num banco. Mais tarde, diversão com os amigos e seu animal de estimação, um gato chamado “pretty boy”. Sua empresa expandiu-se e hoje possui uma assessora financeira. Esta administra bens, organiza seminários, conferências em que ela é a “speaker”, pois tem o dom inato da palavra.
Sua filosofia capitalista tem como pedra angular “curar o mundo” e recentemente arrecadou 65.000 dólares para um centro de crianças vitimizadas na Flórida. Seu perfil empresarial é a tática de transmissão de sinceridade nas transações comerciais, olhando diretamente nos olhos.
Devon investe a metade de seus ganhos em companhias responsáveis pelo meio ambiente, doa à entidades caritativas 30% e os 20% restantes, reparte com sua irmã menor, já sua sócia.
Em 2000 a Disneyworld elegeu-a entre milhares de crianças como a “Sonhadora do Milênio”. E um de seus sonhos é o de expandir a “Heal the World Recycling” com a ajuda de outras crianças do mundo
Em suas palestras dá ênfase à outra dimensão da riqueza: A satisfação de praticar a filantropia propalando que investir é importante, pois quanto mais se ganha mais se pode doar à obras de caridade.
Vendo esse belo exemplo de ser humano questiono-me: Não seria este um caso condenável de trabalho
infantil? Serão saudáveis tantas responsabilidades para uma criança de onze anos? Um rapto à infância? Essa nova dimensão da riqueza mostra também uma nova dimensão para o trabalho infantil que não o da exploração, mas o da partilha e da preservação ecológica (vejam nossos igarapés entulhados de latas etc).
No entanto é mais fácil concordar com as palavras de Devon: “Experimento o mundo adulto sem perda de minha infância. Vivo e desfruto intensamente cada momento. É gratificante ser solidário”.
E parafraseando um de seus heróis, Jonh Lennon diz “A vida é o que acontece enquanto tu estás ocupado fazendo outros planos”.
*Carmen Novoa Silva é membro da Academia Amazonense de Letras
E-mail: [email protected]
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