Falar sobre infância é falar sobre presença, vínculo e cuidado emocional. Mais do que prover, educar ou corrigir, cuidar de uma criança é nutrir sua mente e seu coração. No mês das crianças, é essencial lembrar que a saúde emocional começa nas relações, no modo como os pais se conectam com seus filhos no cotidiano.
A psicologia do desenvolvimento há muito ensina que a infância é o alicerce da vida emocional. Para Jean Piaget, a criança constrói o pensamento por meio da interação com o ambiente, em estágios que vão do concreto ao abstrato, e o brincar é essencial nesse processo. Henri Wallon complementa ao afirmar que emoção e movimento são os primeiros instrumentos de relação com o outro, unindo corpo, afeto e cognição. Já Lev Vygotsky destaca que o aprendizado nasce do contato social e da linguagem, através da Zona de Desenvolvimento Proximal, em que o adulto atua como mediador e modelo de regulação emocional.
Essas ideias se refletem em práticas simples: nomear as emoções, oferecer acolhimento diante da frustração e encorajar a autonomia gradualmente. São atitudes que constroem o senso de segurança e reduzem a vulnerabilidade à ansiedade e à depressão.
A autora Diane Papalia reforça que o desenvolvimento infantil é um processo dinâmico, no qual fatores biológicos, sociais e emocionais se integram continuamente. Ambientes previsíveis, afetivos e estáveis estimulam o crescimento emocional saudável e favorecem o equilíbrio psicológico das crianças.
Outro nome fundamental, Donald Winnicott, nos lembra que não existe mãe ou pai perfeito, existe o “suficientemente bom”: aquele que acolhe, falha e repara, oferecendo à criança um ambiente de sustentação emocional (holding) que permite crescer com confiança.
Hoje, a neuropsicologia confirma o que esses autores já intuíram: a presença emocional dos cuidadores é um fator de proteção neural e psicológico. Estudos contemporâneos mostram que o envolvimento afetivo familiar melhora a regulação emocional e previne quadros de ansiedade e desatenção.
Cuidar da infância é também cuidar dos cuidadores. Pais sobrecarregados, sem apoio ou autocuidado, têm mais dificuldade em oferecer estabilidade emocional. Buscar psicoterapia, dividir tarefas e preservar momentos de descanso não é egoísmo é investimento na saúde da família.
Infâncias protegidas não são aquelas sem problemas, mas aquelas em que há espaço para sentir, expressar e reconstruir juntos. Quando os pais olham para as emoções dos filhos e também para as suas, constroem o maior presente que uma criança pode receber: um vínculo seguro e amoroso que dura por toda a vida.
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*Ana Claudia de Souza Pinto Oliveira é Neuropsicóloga, Diretora Clínica do Instituto Desenvolver Neurociência e Saúde Integrada, com graduação em Psicologia pelo Centro Universitário do Norte; Mestrado em Educação pela Universidad de Los Pueblos de Europa; e Pesquisadora do Laboratório de avaliação psicológica da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).*

