O Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren-AM) suspendeu o registro da técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva por ter aplicado adrenalina de forma intravenosa em Benício Xavier, de 6 anos, procedimento que resultou na morte da criança em um hospital particular de Manaus. A decisão foi tomada na segunda-feira (1º).

A Câmara de Ética do Coren-AM acatou o parecer da relatora, que recomendou a abertura de processo ético e a suspensão cautelar do exercício profissional.

“Diante da extrema gravidade dos fatos imputados à profissional, a Câmara de Ética I concorda com o entendimento da conselheira relatora e decide promover a suspensão cautelar, imediata e total, do exercício profissional, nos termos dos artigos 15 a 19 da Resolução Cofen 706/2022”, diz trecho da decisão.

Acareação

A médica Juliana Brasil Santos e a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva serão confrontadas em uma acareação nesta quinta-feira (4), no âmbito das investigações sobre a morte de Benício Xavier, de 6 anos, em Manaus.

O delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso, confirmou que a medida é necessária devido a divergências nos depoimentos das duas profissionais sobre a aplicação de adrenalina intravenosa, apontada pela médica como erro em relatório hospitalar.

“Do depoimento que ocorreu tanto da técnica de enfermagem Raíza quanto da médica Juliana, foram observadas contradições… A acareação vai ser na quinta-feira, com o objetivo de elucidar contradições dos depoimentos que constam das duas”, afirmou Martins.

Segundo o delegado, cada uma apresentou uma versão diferente dos fatos:

“Cada uma relata, sob seu ponto de vista, fatos que são diferentes. Para que o inquérito conste a elucidação de como de fato ocorreram esses fatos, a gente coloca a pessoa na frente da outra. E a acareação consiste nisso, para que essas dúvidas sejam sanadas.”

O que cada uma disse à polícia

Médica Juliana Brasil Santos
Ouvida em 28 de novembro, Juliana admitiu erro ao prescrever adrenalina intravenosa para Benício, segundo relatório hospitalar enviado à polícia.

“Juliana não escreveu a prescrição manualmente. Hoje, as prescrições são feitas por um sistema automatizado. Quando ela escreve a via de administração, o próprio sistema pode entender que está incorreta e alterá-la automaticamente… Se fosse uma prescrição escrita, o erro não teria acontecido”, explicou o advogado Felipe Braga.

A defesa afirmou que o erro ocorreu “no calor do momento” e que falhas no sistema do Hospital Santa Júlia podem ter alterado a prescrição da médica.

Técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva
Também ouvida em 28 de novembro, Raiza disse que apenas seguiu a prescrição médica, aplicando a adrenalina intravenosa sem diluição, e informou a mãe sobre o procedimento.

“Eu administrei a medicação conforme a prescrição médica. Não tive auxílio, estava sozinha. A mãe questionou a via de administração, mas estava prescrito intravenoso.”

Raiza afirmou ter aplicado apenas uma das três doses prescritas e que, ao observar piora no estado de Benício, chamou a médica responsável. Ela ressaltou que, com apenas sete meses de formação, não poderia agir sem prescrição:

“Ainda que a médica tivesse chegado comigo e falado que queria fazer nebulização, eu não posso fazer o que não está prescrito.”

Leia mais: Pais Benício relatam dor e cobram justiça e proteção a outras crianças na CMM